O alagoano MASM colocou no mundo um álbum que traduz bem os seus últimos anos de vida.
Lançado em abril, O Ano do Cachorro é o segundo trabalho de estúdio do projeto criado por Matheus Accioly e tem o horóscopo chinês como o seu ponto de partida. Quem é ligado no assunto sabe que o ano regido pelo cachorro é um período de renovação de esperanças e busca por independência. E essa acaba sendo a mensagem por trás do álbum.
Unindo indie pop, eletrônico, house e europop, MASM entrega canções memorialistas sobre a sua evolução e busca de identidade enquanto pessoa LGBTQ+. Construído num processo calmo nos últimos 2 anos, o trabalho conta com participações especiais de SAMYRMS, 1LUM3, Rodrigo Zin, Larissa Braga (Dolphinkids) e Tolentino, tendo como inspiração o clima e a tecnologia dos anos 90, quando o artista cresceu, além dos álbuns Year of the Cat, de Al Stewart; e Hounds of Love, de Kate Bush.
“Este álbum percorre influências musicais mais diversificadas que o meu primeiro e ao mesmo tempo sinto que é mais consistente em termos de temática e sonoridade. Acho que neste álbum mostro meu lado mais confiante, projetando mais minha voz e ousando mais na produção e que estou apresentando para o mundo um trabalho que é mais minha cara”, avalia Matheus.
Matheus Accioly deu início ao MASM no início desta década, quando começou a compor em programas de criação de áudio no iPad, mas tudo mudou quando conheceu o artista filipino Cy Tamura durante um intercâmbio nos Estados Unidos. De volta ao Brasil no ano seguinte e depois de um período de experimentações e parcerias musicais, começou a carreira solo com o nome MASM e lançou o single “Pedestais”. A faixa, que veio acompanhada de clipe filmado em Maceió, foi o primeiro passo para o lançamento, em setembro de 2016, do álbum de estreia Maré Rasa, com influências de chillwave, vaporwave, synthpop e art rock.
Após o lançamento, Matheus se mudou para São Paulo e começou mais uma série de experimentações. Em 2018, lançou o EP Sexual / Presidenciável, além de remixes de faixas do Maré Rasa feitos por Dolphinkids e LOQvST. No ano passado, começou a trabalhar no novo álbum e lançou o single “Interlagos”. O trabalho seria ainda antecipado por “Nesses Dias” e “O Cachorro do Ano”.
“Este álbum do início ao fim não é só uma coleção de memórias e influências que fizeram quem eu sou, desde criança até agora, mas também um retrato da minha jornada como músico e como membro da comunidade LGBT durante a minha mudança de Maceió para São Paulo; da mesma forma que meu primeiro álbum foi retrato da minha jornada pessoal entre o período em que morei nos EUA até voltar para o Brasil tentando carreira musical”, conta ele.
Produzido por MASM e com mixagem e masterização de Liev, O Ano do Cachorro está disponível em todas as plataformas de música digital.
Abaixo, veja o faixa-a-faixa do novo álbum do MASM:
O Ano do Cachorro: Primeira faixa composta do disco, foi feita pra ser a introdução do conceito. A música começa com ruídos de desktops antigos para trazer a sensação de iniciar um jogo ou programa. A letra faz comparação da minha infância como LGBT reprimido com uma matilha de cães, e fala sobre meus antigos sonhos de grandeza. Teve como inspiração baladas e hinos de rock dos anos 70 e 80.
Interlagos: A letra compara um término com uma corrida de F1. O instrumental tinha sido composto e produzido primeiro como uma faixa inspirada em Mario Kart e os conceitos se complementaram aí. Tem como inspiração vinhetas de F1 dos anos 90, Tim Maia e Thundercat.
Garotos: Feita pra ser uma faixa mais tranquila e romântica. Quis juntar uma vibe eletrônica com uma coisa mais verão/praia/reggae.
DOS Boy: Música inspirada em Talking Heads e Prince. A letra conta como na minha infância eu só tinha videogames e computadores como escape da realidade. Samantha (ex-vocalista da banda Tupimasala), que entra com seu novo nome artístico Samyrms, aparece como um eu lírico de um personagem falando para mim de dentro do jogo. A faixa contém samples de Zelda e outros games.
Ironia: Umas das faixas mais antigas do disco, a letra foi composta em 2018 mas o instrumental é uma sobra que ficou de fora do meu primeiro disco “Maré Rasa”. A letra é autobiográfica e fala de um término e como a repercussão ironicamente é menor para um do que para outro. A acidez da letra misturado com o instrumental saltitante e alegre foi uma contradição proposital para adicionar ao conceito.
Masculinidade: O instrumental tem como inspiração principal o movimento New Wave e a música de vinhetas de televisão dos anos 90. O eu-lírico da letra tenta aconselhar uma pessoa a sair do armário para não cair na lábia da sociedade patriarcal, e contém heterofobia comicamente exagerada.
Piscicancer: Letra autobiográfica sobre meu relacionamento atual e as complicações da distância. O instrumental tem como inspiração o movimento New Jack Swing e a trilha sonora de jogos como Sonic.
Nesses Dias: Faixa composta com Rodrigo e Luiza. A letra e o instrumental são de 2017 e não tem um tema definido, mas o sentimento geral é de insuficiência e cura. O instrumental remete a power ballads de bandas de rock dos anos 80 e trap.
Centavos: Faixa de caráter autobiográfico misturada com sentimentos pós-eleição de 2018. A letra conta sobre como as maiorias sociais tratam as minorias como sem valor e não as dão espaço para crescer. Conta com a participação de Larissa Braga (Dolphinkids), e o instrumental tem como inspiração bandas como Red Hot Chili Peppers e Coldplay
O Cachorro do Ano: Faixa composta junto com Tolentino. Feita para fechar o álbum como uma versão espelhada da faixa de inicio (por isso o jogo de palavras). Se a primeira faixa conta sobre minha infância me comparando a um cachorro, no final do álbum já tenho minha identidade formada como uma grande e safada cachorra. A letra faz referência à comunidade furry e o instrumental tem como inspiração a cena eletrônica gay.