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Review: The Strokes – The New Abnormal

Os Strokes são os maiores representantes de uma geração que redefiniu o rock no começo do século. Com o movimento intitulado pela mídia como garage rock revival, os nova-iorquinos conquistaram o público com riffs marcantes e o vocal único de Julian Casablancas em seu disco de estreia, Is This It. Quase 20 anos se passaram, e depois de altos, baixos, cinco álbuns de estúdio e um quase fim, eles estão de volta com The New Abnormal.

O quase fim da banda e o recomeço

Desde 2004, com o seu também elogiado segundo disco, Room On Fire, o que se enxergava em relação ao The Strokes era uma banda que estava definhando. Os trabalhos que se seguiram ficaram longe da qualidade dos dois primeiros, e os inúmeros conflitos internos do grupo sem dúvida contribuíram pra isso.

O problema de Julian com a bebida, o cada vez mais crescente vício do guitarrista Albert Hammond Jr. por drogas pesadas e os egos que se chocavam, especialmente pelas composições serem quase todas da autoria integral de Casablancas: tudo isso era a fórmula perfeita para o fim do quinteto. Angles (2011) e Comedown Machine (2013) ficaram marcados se não pela procura forçada na experimentação, pela falta de divulgação de ambos (para se ter uma ideia, não houve ao menos uma turnê para Comedown Machine).

Em 2016, o EP Future, Present, Past parecia anunciar a despedida do grupo, uma vez que os próprios integrantes estavam cada vez mais inseridos em suas produções solo (destaque para os The Voidz, de Julian, e o projeto solo de Albert).

Os Strokes estão de volta!

O mito em torno dos The Strokes e o retorno

A outra impressão que se tinha desde 2001 é que os Strokes mereciam muito mais reconhecimento por parte do público e da mídia; o que parecia é que poucos se davam conta da importância que o The Strokes tivera na virada do século.

Tudo isso acabou mudando com Meet Me in the Bathroom, livro lançado em 2017 e de autoria da jornalista musical Lizzy Goodman, que detalha o renascimento da cena de rock nova-iorquina entre 2001 e 2011.

O que se vê enquanto adentramos à história é que quase tudo que aconteceu durante essa época passa pelos The Strokes; a sua influência perante outras bandas sem dúvida é uma enorme contribuição (“Eu só queria ser um dos Strokes”, Alex Turner cantou na primeira faixa do último disco dos Arctic Monkeys).

Indiretamente ou não, o lançamento do livro surgiu ao mesmo tempo que boatos sobre um novo álbum dos The Strokes começavam a surgir. E assim aconteceu: músicas novas foram lançadas, e até apresentações (a mais marcante delas sendo o comício de Bernie Sanders, pré-candidato democrata à presidência dos EUA) aconteceram. Mas afinal, o que há de diferente no novo disco dos The Strokes?

The New Abnormal é finalmente um acerto do The Strokes

O novo trabalho na maior parte do tempo acerta em cheio, especialmente em questões que os Strokes erraram nos três últimos discos. Em The New Abnormal há coesão, e as experimentações não vão longe demais, como ocorreu em alguns momentos de Angles e especialmente em Comedown Machine (o que é “One Way Trigger”, afinal?). Ao mesmo tempo, The New Abnormal está longe de tentar repetir esteticamente a sonoridade dos dois primeiros álbuns, ao contrário do que aconteceu em First Impressions of the Earth (2006).

O álbum começa com “The Adults Are Talking”, faixa com riffs e arranjos de baixo bastante marcantes, e que metaforicamente compara a discussão de adultos com conflitos políticos. No fim, os Strokes parecem fazer uma piada de si mesmo e sua relação com alguns fãs que sempre pedem por algo semelhante aos primeiros discos (“Talvez seja uma situação estranha/Então vamos voltar à solução antiga, ao tempo antigo, tudo”).

Na sequência, “Selfless” e “Brooklyn Bridge to Chorus também empolgam; a terceira música é um dos destaques de The New Abnormal, com Julian abordando o conceito de falsa nostalgia que nos afeta, sobre lembrar de algo que na verdade não era tão bom assim. Na melodia, a aposta em algo que remete ao new wave é ótima, e os arranjos podem ser considerados um dos melhores que os Strokes já nos proporcionaram.

“Bad Decisions” é a que mais vai agradar os fãs que sentem falta de Is This It, por ser mais próxima do garage rock revival que os consagraram. Além disso, aborda uma temática bastante presente em The New Abnormal: relações. O álbum, aparentemente, é bastante influenciado pela relação tumultuada de Julian com seu pai e também do seu recente divórcio; nesse sentido, merece menção também “Not the Same Anymore”.

Eternal Summer” é algo à parte no registro: aqui, Julian usa dos falsetes na medida certa, e é a que mais surpreende na sonoridade, de forma extremamente positiva. A composição também é muito interessante, onde os Strokes refletem sobre o nosso ritmo de vida e novamente sobre conflitos políticos, consequentemente discutindo aonde isso vai nos levar e levar o planeta, reflexão escondida em versos como “O verão está vindo, ele não irá embora” ou “Eles tem o remédio/Mas eles não deixarão isso acontecer”.

O ponto fraco do álbum vai mais uma vez para a ultrapassagem no excesso de experimentações na sonoridade em algumas faixas. “At the Door” e “Ode to the Mets” tem instrumentais bagunçados, e a melodia se arrasta. A falta de riffs ou de arranjos mais densos sem dúvida contribui pras duas músicas em questão não empolgarem.

Uma volta digna para os que o The Strokes representa

O que se pode tirar em relação à The New Abnormal é que finalmente temos um disco dos Strokes em que os integrantes de fato parecem com uma banda, estando em harmonia uns com os outros. Isso reflete nas canções, que são capazes de conquistarem novos públicos e provarem que os The Strokes amadureceram de forma positiva. Os The Strokes deixaram o passado pra trás, e se o futuro traz mudanças, as que ocorreram com Julian, Albert, Nick, Fabrizio e Nikolai fizeram muito bem.

The Strokes – The New Abnormal

Lançamento: 10 de Abril de 2020
Gravadora: Cult/RCA
Gênero: Indie Rock
Produção: Rick Rubin

Faixas:
01. The Adults Are Talking
02. Selfless
03. Brookyn Bridge to Chorus
04. Bad Decisions
05. Eternal Summer
06. At the Door
07. Why Are Sundays So Depressing
08. Not the Same Anymore
09. Ode to the Mets

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