O terceiro do mês do ano se foi e, em meio a todo o caos causado pela pandemia do novo coronavírus, chegou a hora de separar os álbuns lançados em março que mais nos agradaram.
Para quem ainda não está acostumado, publicamos listas mensais com lançamentos que valem uma audição e, se no ano passado isso foi um ponto importante por aqui, não será diferente ao longo de 2020. Além de todas as questões de saúde pública, março ainda nos rendeu alguns refrescos com quarenta e cinco trabalhos nacionais e internacionais que resumem bem como foi interessante o período.
Entre os escolhidos, selecionamos os novos registros de Djonga, Dua Lipa, Pearl Jam, Childish Gambino, J Balvin, Letrux e Nine Inch Nails, além de outras coisas bem legais lançadas ao longo dos seus trinta e um dias. Como de costume, cada álbum escolhido pelo nosso time recebe uma mini-resenha visando explicar os motivos que os credenciam para essa seleção.
Em seguida, você encontra a nossa lista com os 45 álbuns lançados em março que você deveria ouvir. É só dar play e ser feliz, fechado?
VELVET, do Adam Lambert
Adam Lambert pegou todas as suas influências, colocou no liquidificador e dele saiu o VELVET. No quesito sonoridade, parece que o cantor realmente se encontrou durante o processo de produção do álbum, principalmente em sua primeira parte. A trinca inicial com “Velvet”, “Superpower” e “Stranger You Are” conta com, provavelmente, as melhores músicas feitas pelo Adam em sua carreira. No entanto, VELVET acaba perdendo o fôlego já na sua metade, se tornando um trabalho irregular. Nada que comprometa a sua audição, claro. [JP]
Gratitrevas, da ÀIYÉ
No ano passado, a baterista Larissa Conforto, que fez parte da incrível banda Ventre, mudou-se para Lisboa e começou um novo projeto solo: ÀIYÉ (palavra que tem origem na mitologia iorubá e significa terra, mundo físico, paralelo ao mundo espiritual). A imersão da artista nas religiões de matrizes afro (nesse caso, a Umbanda) foi, inclusive, uma grande inspiração para o primeiro trabalho, lançado pela Balaclava em março de 2020 com oito faixas inéditas. Gratitrevas conta com gravações feitas no Brasil e também em Portugal (inclusive no estúdio Estrela, de Marcelo Camelo) e é todo feito por Larissa: composição, produção (em parceria com Diego Poloni), vocais, percussão. Com letras reflexivas em português e muitas camadas sonoras, o trabalho chega a lembrar a dupla franco-cubana Ibeyi, que vem do mesmo universo inspiracional. É um som bem experimental e eletrônico, com muitas pitadas de jazz e música afro-brasileira (como samba, funk carioca e pontos de Umbanda), muito menos rock do que era a Ventre, mas igualmente lindo e autêntico, e Larissa surpreende como vocalista. A faixa “O Mito e a Caverna”, com participação de Vitor Brauer, tem rimas hipnóticas revelando mais um lado da Larissa compositora e cantora: poeta e rapper, acompanhada de uma bateria impressionante que já era característica conhecida dela. [BM]
Hunted, da Anna Calvi
Anna Calvi resolveu revisitar o seu terceiro álbum de estúdio, o elogiado Hunter, lançado no ano passado. Dando uma nova cara para faixas do trabalho, Hunted serve como um universo expandido do álbum. Convidando nomes como Charlotte Gainsbourg e Courtney Barnett para boas colaborações, o projeto cumpre o seu objetivo e reafirma toda a qualidade musical que a artista britânica carrega consigo. Além das parcerias citadas, vale um destaque mais do que especial para “Wish”, que tem a participação de Joe Talbot, vocalista do IDLES. [JP]
Louder [EP], de Big Freedia
Positividade e empoderamento LGBTQ+ dão o tom em Louder, EP lançado por Big Freedia. São cinco faixas onde a rapper recebe nomes como Kesha e Icona Pop, resultando em um trabalho bem produzido e que cumpre bem o seu objetivo. A faixa título conta com um sample de “The Power”, aquela música super famosa do Snap! que, com toda certeza, você já ouviu. “Chasing Rainbows” – a canção com Kesha – também é outro ponto de destaque do EP, que mescla Bounce, hip hop e pop de maneira interessante. [JP]
Bivolt, da Bivolt
Desde 2017, o nome da Bárbara Bivolt vem se fortalecendo no rap nacional e, após vários singles, chegou a hora de lançar um álbum. Autoexplicativo, o trabalho deixa claro todo o conceito em torno do registro, lançado pela Som Livre. É rap, é R&B, tem jazz, samba, boas letras e ainda nos dá uma boa surpresa: as músicas “110v” e “220v”, quando tocadas simultaneamente, dão origem a uma terceira faixa. Uma forma bem interessante de se trabalhar todo o conceito do álbum. Vale o play! [JP]
Ponto, do Bullet Bane
Três anos depois do lançamento de Continental, álbum que foi um divisor de águas na história da banda (e o último com o vocalista Victor Franciscon, que estava no Bullet desde a sua formação original – desde os tempos em que o grupo se chamava Take Off The Halter, aliás), chega o novo álbum Ponto. O Bullet Bane teve que se reinventar e decidiu seguir pelo caminho que começou a ser trilhado em 2017, com letras apenas em português para maior conexão e interação com os fãs. Se mantêm as letras inspiradoras, reflexivas e com mensagens de força e superação (ainda que agora um pouco mais melancólicas), as guitarras fortes, baixo marcado e bateria pesada da pegada hardcore. O Bullet continua sendo uma das melhores bandas de HC do Brasil, com produção sempre impecável e qualidade, apesar de terem evoluído e mudado a sonoridade. Eu pessoalmente prefiro as músicas mais enérgicas e rápidas, com guitarra em destaque, e gostei bastante de “Ego” e “Cinza”, mas também curti muito “Equilíbrio”, que é mais melódica e tem umas partes que me lembraram até a banda japonesa Toe, de math rock experimental. É importante dizer que, com o disco novo, não restam dúvidas sobre a chegada de Arthur Mutanen, que conseguiu segurar o legado da banda sem deixar de lado sua personalidade, com interpretação muito sincera das músicas, sem perder a essência do Bullet Bane. Arthur também tem um outro trabalho lindo com a Mutanen, que está com disco pronto para lançar, mas isso é assunto para outra hora. Voltando ao Bullet, a nova fase parece muito promissora, o disco novo só veio para consolidar o que a banda tinha de melhor e eles já não precisam provar nada pra ninguém. [BM]
Superstar, da Caroline Rose
A norte-americana Caroline Rose resolveu nos contar uma história ambientada em um mundo vermelho, cheio de sintetizadores e com dois contrapontos interessantes, até certo ponto. Superstar deixa a espontaneidade do LONER (2018) de lado e entrega algo com começo, meio e fim, construído a partir de doses de ambição e com uma boa formatação. Divertido, é um álbum que vai te colocar para dançar em alguns momentos e relaxar em outros. Destaque para “Pipe Dreams”, que é uma das melhores coisas que Caroline já fez até hoje. [JP]
3.15.20, do Childish Gambino
Impossível não elogiar aquele que pode ser o último álbum do Donald Glover sob a alcunha Childish Gambino. 3.15.20 é um daqueles álbuns capazes de te prender logo na sua primeira audição. Tem muitas coisas acontecendo ao longo de suas doze faixas e isso não é nenhum problema, muito pelo contrário. Sonoridades que vão se sobrepondo, abordagens interessantes na produção, letras marcantes…. ainda que ele te prenda, não é um álbum capaz de ser absorvido logo de cara. Por isso, ouça. Ouça novamente. Ouça mais uma vez. Vale a pena! [JP]
Cosmo, do Cícero
Cosmo é o quinto álbum de Cícero. Quase dois anos e meio após o lançamento do seu quarto álbum, intitulado Cícero e Albatroz, o cantor brasileiro volta a nos proporcionar a mesma sensação de seus álbuns anteriores. Construído de forma similar aos outros, porém com sua própria particularidade, Cosmo é um retrato da evolução de Cícero e do seu jeito único de fazer música. Novamente, Cícero está por trás da maior parte do trabalho de construção do álbum, sendo ele o responsável pelas composições, voz, guitarra, baixo e também produção. O artista ainda contou com a colaboração de outros músicos, como Bruno Schulz, com quem já trabalhou em seus álbuns anteriores, Uirá Bueno, Cairê Rego, baixista da banda carioca Baleia, além de outros. Podemos aproveitar esse tempo de reclusão e confinamento para conhecer esse novo disco, que é mais uma obra maravilhosa da música nacional. [GH]
Sad Happy, do Circa Waves
Pouco mais de dois meses após lançar a primeira metade do álbum, os britânicos do Circa Waves entregaram aquele que é o seu quarto registro de estúdio. Com quinze faixas, Sad Happy apresenta bons exemplares de indie-rock, principalmente em sua primeira metade. Abordando temas como amor, perdas e saudade, o quarteto dá umas escorregadas ao longo das quinze faixas mas, no geral, dá ao mundo um trabalho interessante e capaz de te deixar feliz enquanto lida com a tristeza. [JP]
EU_ME_LEMBRO_ [EP], da Clarice Falcão
Clarice Falcão mergulhou de vez no synthpop e, para isso, resolveu revisitar faixas antigas de sua carreira com o EP EU_ME_LEMBRO_. Em cinco faixas, a cantora transforma a sua fase “fofa” voz e violão em um conjunto de canções prontas para te colocar para dançar. O destaque acaba sendo a versão de “Eu Me Lembro”, que ganha a participação de Letrux, além da pegada Disco presente em “Irônico”. [JP]
Deap Lips, do Deap Lips
Deap Lips é, como já entrega o nome, o resultado da parceria entre as bandas Deap Vally e Flaming Lips. Lindsey Troy e Julie Edwards, que formam a dupla de rock garageiro californiano, se juntaram aos ídolos de longa data Wayne Coyne e Steven Drozd e realizaram o sonho da colaboração, resultando em um som que mistura bem a identidade dos dois projetos – o Flaming Lips trouxe para somar com a música delas batidas eletrônicas, psicodelia e teclado, enquanto as meninas chegam com vocais poderosos, letras intensas e a pegada mais “rocão”. Um disco bem rico, futurista e alternativo que daria um show interessantíssimo ao vivo, mas que infelizmente vai ficar para depois. Em tempos de quarentena e ainda mais com a maternidade do Deap Vally (Lindsey tem uma bebê de menos de um ano e Julie tem uma filha ainda criança e está grávida), não há planos para turnê por enquanto. A tempo: entrevistamos a Lindsey sobre essa parceria e ainda indicamos umas bandas brasileiras com mulheres na formação para ela ouvir. Vale a leitura! [BM]
Histórias da Minha Área, do Djonga
Quatro álbuns de estúdio em quatro anos é para poucos artistas. Fazer com que todos mantenham uma qualidade parecida é algo ainda mais difícil de se ver e, felizmente, podemos dizer que o Djonga faz parte desse seleto grupo. Sem perder a sua essência, o rapper mineiro abre espaço para uma pegada mais sentimental e melancólica, sem deixar de lado as questões raciais e sociais abordadas por ele nos últimos anos. Histórias da Minha Área é o Djonga curtindo a sua zona de conforto e isso está longe de ser ruim. No entanto, a gente sabe ele é um cara de quem a gente pode esperar mais. [JP]
Future Nostalgia, da Dua Lipa
Em seu segundo álbum de estúdio, Dua Lipa não veio para brincadeira. Quem esperou três anos para um novo cd da britânica, não se decepcionou. Inspirada pelo pop dos anos 80, Dua fez jus ao movimento, com linhas de baixo marcante e batidas disco. Escolhendo os singles com muita maestria, “Don’t Start Now”, “Future Nostalgia”, “Physical” e “Break My Heart” deram um gosto do que estava por vir e não decepcionou nem um pouco. É um CD para dançar, com músicas muito animadas e que ainda sim contam uma história, como todo álbum deveria. Dua co-escreveu todas as faixas e ainda trabalhou com nomes como Stuart Price, Jeff Bhasker e Jason Evigan. Além de fazer jus ao pop dos anos 80, Dua também sampleou a faixa “My Woman”, de Al Bowlly (que também foi sampleada por White Town em “Your Woman”), em “Love Again”; e “Need You Tonight”, do INXS, em “Break My Heart”. Do início ao fim, você se prende ao CD. Desde as linhas de abertura “Você quer uma música atemporal, eu quero mudar o jogo” em “Future Nostalgia”, passando pelo refrão eletrizante de “Hallucinate” e chegando ao fim, com “Good In Bed” – que eu pensei na Lizzo no momento que ouvi a música – e “Boys Will Be Boys”, onde Dua se posiciona com esse hino do empoderamento feminino, cujo refrão conta com integrantes do coral Stagecoach Epsom Performing Arts e onde chega a dizer “se você está ofendido com essa música, você está claramente fazendo algo errado”. [AM]
Sixteen Oceans, do Four Tet
Em seu décimo álbum de estúdio, o britânico Kieran Hebden parece ter encontrado a sua zona de conforto recheada de beats e ambientalismo. Um dos bons nomes da música eletrônica, o Four Tet insere uma pitada de experimentalismo e jazz em suas criações mas, ainda que seja um bom álbum, o Sixteen Oceans acaba ficando abaixo dos grandes êxitos de Hebden. “Baby”, que tem vocais de Ellie Goulding; e “Teenage Birdsong” merecem a sua atenção. [JP]
Colores, do J Balvin
Com o passar do tempo, J Balvin se tornou um dos bons criadores de hits do reggaeton e, até por isso, a expectativa em torno de Colores era alta. O resultado cumpre bem o seu objetivo e mostra o colombiano apostando alto sem deixar de lado as suas raízes latinas e tudo o que lhe apresentou ao mundo. Criando uma história através das cores, J Balvin entrega um conceito aliado a diversão. E isso ele sabe fazer bem. [JP]
A Written Testimony, do Jay Electronica
A espera pelo registro de estréia de Jay Electronica foi grande, e fica a sensação de que o álbum poderia ser ainda mais arriscado e mostrar todo o potencial de um dos rappers mais promissores da última década. Entretanto, como sempre, Jay foge do que é normal, e não parece se importar com isso; para ele, o importante é sempre passar uma mensagem que vá além do que percebemos. Nesse sentido, A Written Testemony é um ótimo resultado, e sem dúvida um trabalho que ainda vai conquistar muitas pessoas. [RS]
Chilombo, da Jhené Aiko
Em seu terceiro álbum de estúdio, a norte-americana Jhené Aiko entrega um belo (e longo) trabalho de R&B. Com uma produção impecável, Chilombo conta com alguns dos momentos mais interessantes da carreira de Jhené, seja por seus vocais ou pelas letras apresentadas. É uma artista em clara evolução e faixas como “B.S.”, bela parceria com a H.E.R.; “P*$$Y Fairy (OTW)”, “Born Tired” e “Speak” provam isso. Para ser perfeito, só faltou o álbum não ter vinte músicas, sendo algumas bem aquém dos seus destaques. [JP]
Dixie Blur, do Jonathan Wilson
Folk psicodélico talvez seja a melhor de definir o que o norte-americano Jonathan Wilson entrega em seu quarto álbum de estúdio. Dixie Blur é, provavelmente, a seleção de músicas mais pessoais lançadas pelo artista, conhecido também por produzir nomes como Father John Misty, Conor Oberst e por ter acompanhado Roger Waters como guitarrista na turnê Us+ Them. Ao longo de suas catorze faixas, o álbum é extremamente bem produzido e apresenta algumas das mais belas canções já feitas por Wilson, incluindo aí a regravação de “Korean Tea”, música que ele lançou com o Muscadine nos anos 90. É um dos mais belos álbuns do ano! [JP]
kelsea, da Kelsea Ballerini
Sabe aquele country-pop que a Taylor Swift fazia com maestria no começo de sua carreira? Podemos dizer que a Kelsea Ballerini vem mirando neste conceito desde o The First Time (2015) e agora, em seu terceiro registro de estúdio, ela parece ter chegado lá. “club”, “overshare” e “love me like a girl” são faixas que exemplificam bem isso e mostram que o trabalho da cantora merece atenção. Por outro lado, “the other girl” – parceria com a Halsey – merece o seu destaque ao mostrar um lado totalmente pop e sem violão de Kelsea. Será esse o seu próximo passo? [JP]
Through Water, da Låpsley
Em seu segundo álbum, a britânica Låpsley adota uma outra postura: enquanto Long Way Home (2016) era tido como um trabalho bem pessoal, Through Water tem como tema principal as questões externas, dizendo mais sobre o mundo do que sobre produtora Holly Fletcher. Ao longo das dez faixas, é perceptível a evolução na construção das letras e melodias quando comparadas ao seu trabalho de estreia, resultando em um indie-pop eletrônico belo, introspectivo e mais acessível. [JP]
~how i’m feeling~, do LAUV
Depois de bastante tempo, Ari Staprans Leff, mais conhecido como Lauv, lançou seu álbum de estreia com 21 músicas. O cantor norte americano apostou em parcerias poderosas com Anne-Marie, Alessia Cara, LANY, BTS, Troye Sivan e Sofia Reys. O primeiro single, “i’m so tired” – em parceria com Troye – rodou as rádios do mundo todo e acumulou quase meio bilhão de streams só no Spotify. Logo depois saiu a versão com remix com outras participações como MNEK, Miquela e CHVRCHES. Seu álbum, ~how i’m feeling~ é o que podemos ver sobre a angústia, ansiedade e a depressão nas mídias sociais nesse século. Um álbum pop, chiclete e melancólico que agrada de primeira ou segunda vez que se ouve. Podemos ver influências claras de Ed Sheeran no registro e talvez seja pela convivência, já que Lauv fez uma turnê com Ed entre 2017 e 2018. ~how i’m feeling~ é um disco bom e podemos esperar grandes feitos do cantor de São Francisco já que, se não fosse pela pandemia causada pelo Covid-19, ele teria se apresentado no Lollapalooza Brasil. Quem sabe não fica para dezembro, né? [HF]
Letrux Aos Prantos, da Letrux
Letrux entrega já nos títulos todo o clima presente em seus álbuns. Se o anterior leva a fossa para uma improvável noite de diversão, a nova criação te coloca literalmente aos prantos. Com uma roupagem mais triste, letras poéticas e uma sonoridade marcante, Letrux traduz todos os seus sentimentos sobre a vida e que está ao seu redor em um álbum ainda mais franco e coeso. “Esse Filme Que Passou Foi Bom”, “Déjà-Vu Frenesi” e “Eu Estou aos Prantos” são belos exemplos disso. [JP]
Eternal Atake, do Lil Uzi Vert
Lil Uzi Vert provou que ainda continua firme e relevante no rap game, com suas melodias cativantes e refrões grudentos. Quando se trata de suas letras, a essência continua a mesma, fazendo referências a uso de substâncias, ostentação, moda, humor nonsense e relacionamentos. O artista cresceu e amadureceu bastante desde Luv Is Rage 2 e, se alguém duvidou que ele poderia repetir o hype de seu debut, Eternal Atake sem dúvida é a resposta. [GM]
Dínamo, do Lô Borges
Em seu décimo quinto álbum de inéditas, Lô Borges segue fiel às boas parcerias. Desta vez, o mineiro se une ao poeta Makely Ka, aliado em todas as letras bem interessantes que aparecem em Dínamo. Canções como “O mundo gira sobre si” e a sua faixa título, parceria com Samuel Rosa, merecem destaque como pontos altos do álbum. Contudo, acaba que o resultado final fica aquém dos grandes registros da carreira de Lô ou de seu trabalho mais recente, Rio da Lua (2019). Nada que atrapalhe a experiência de se ouvir um dos grandes nomes da MPB, claro. [JP]
Silver Landings, da Mandy Moore
Onze anos após o seu último álbum, Mandy Moore está de volta ao mundo da música com Silver Landings. Em seu sétimo trabalho de estúdio, a norte-americana entrega uma coleção de músicas simples e objetivas. Aqui, Mandy não pretende inovar, apresentar um conceito super trabalhado ou te fazer questionar o mundo em que vivemos. Ela só quer te entregar uma seleção de boas músicas para se ouvir no fim de tarde, na companhia de pessoas especiais ou saboreando um bom vinho. No fundo, ela só queria voltar a se sentir confortável para fazer música (quem acompanhou as suas declarações recentes sobre a relação conturbada que teve com Ryan Adams sabe o quanto isso significa) e esse objetivo foi concluído com sucesso. [JP]
Suga [EP], da Megan Thee Stallion
Confiança é a melhor forma de se definir a Megan Thee Stallion e, em seu novo EP, isso alcança níveis ainda maiores. E isso não é uma crítica, que fique claro. Ao mesmo tempo em que exala essa confiança, Suga coloca a rapper em um local de vulnerabilidade exemplificado por momentos marcantes da sua vida pessoal. Abrir o EP com a frase “I lost my mommy and my granny in the same month” diz muito sobre isso, inclusive. Em meio a experiências melódicas interessantes, Megan mantém o seu flow afiado que deixaria sua mãe e avó orgulhosas. [JP]
I Am Not A Dog On A Chain, do Morrissey
Em seu décimo terceiro álbum de estúdio, Morrissey entrega algumas das músicas mais interessantes que ele produziu nos últimos dez anos, como “Bobby, Don’t You Think They Know?” ou “Knockabout World”. Da mesma forma, lá está “The Secret Of Music” que é, talvez, uma das piores músicas que ele já fez na vida. I Am Not A Dog On A Chain é assim, cheio de altos e baixos, mas consegue emular um pouco daquele Morrissey que a gente gosta de ouvir cantar nos seus bons momentos. Aliás, a sua faixa-título teria tudo para ser uma das canções mais adoradas pelos fãs. Pena que ela remete diretamente ao que o músico anda pensando atualmente, fazendo com que o seu encanto se quebre. [JP]
Cenizas, do Nicolas Jaar
O ano tem sido movimentado para Nicolas Jaar. Após lançar um álbum como Against All Logic, o produtor norte-americano solta o seu segundo registro em 2020. Cenizas é resultado de um trabalho ainda mais experimental, resultado em um álbum que serve de trilha sonora para uma boa meditação. É música ambiente mesclada com eletrônico e que funciona bem nos dias atuais. [JP]
Ghosts V: Together / Ghosts VI: Locusts, do Nine Inch Nails
De uma só vez, o Nine Inch Nails resolveu nos brindar com dois álbuns. Doze anos após Ghosts I–IV, Trent Reznor e Atticus Ross dão continuidade à série de canções ambiente iniciada em 2008. No primeiro álbum, a sua sonoridade nos leva para um mundo mais tranquilo e otimista, funcionando como um polo positivo do projeto. Já em Ghosts VI: Locusts, o caminho é outro. Ao longo de suas quinze faixas, damos a mão para a ansiedade e a agonia causada por algumas das faixas, que te jogam em uma atmosfera bem sombria. Apesar de criarem sensações distintas, são dois bons álbuns que se completam. [JP]
Blue Moon Rising [EP], do Noel Gallagher’s High Flying Birds
O terceiro de uma série de EPs do Noel Gallagher em companhia do High Flying Birds consegue sair de uma sonoridade meio Depeche Mode na sua faixa título e culminar em “Come On Outside” que, logo na primeira audição, me deixou com a sensação de que ela ficaria incrível com a voz de seu irmão, Liam Gallagher. É legal ver o Noel saindo de sua zona de conforto, apostando em novas sonoridades e mostrando ser mais do que “só o guitarrista do Oasis”. Ele sempre foi a parte mais criativa da família e isso fica claro nessa série de EPs. Da mesma forma que o Black Star Dancing e o This Is The Place, o Blue Moon Rising é um bom registro e merece ser ouvido. [JP]
111, de Pabllo Vittar
Em seu terceiro álbum, Pabllo Vittar – acompanhada de seus parceiros habituais da Brabo Music Team – mistura música latina, axé, brega, funk, e até mesmo gospel, para entregar um disco dançante, cheio de singles com refrões grudentos e perfeito para baladas. Apesar de parte do disco ser formado de músicas já conhecidas pelo público devido ao lançamento do EP 111 1, no final de 2019, as músicas novas funcionam bem juntas, fazendo com que Pabllo novamente se mostre como uma das poucas artistas brasileiras que sabe como engajar e divertir o público. Destaque para “Rajadão”, uma mistura de hino gospel e trance que provavelmente não funcionaria com nenhum outro artista se não Vittar, e “Lovezinho”, parceria com Ivete Sangalo. [GC]
Gigaton, do Pearl Jam
Gigaton é simplesmente o melhor álbum do Pearl Jam nos últimos vinte anos. Saindo da zona de conforto, a banda capitaneada por Eddie Vedder entrega uma mescla interessante de sonoridades, apostando em outros elementos aliados ao seu tradicional grunge. Abordando questões sociais e políticas como nunca, o álbum se torna inspirador, questionador e extremamente necessário ao longo de suas audições. Graças a faixas como “Who Ever Said”, “Dance of the Clairvoyants”, “Quick Escape” e “Superblood Wolfmoon”, o Pearl Jam está vivo e muito bem, obrigado! [JP]
Endless Dream, do Peter Bjorn and John
Não dá para negar que o Peter Bjorn and John é um nome extremamente importante no indie pop. Ainda que a banda siga na busca por um álbum tão marcante quanto o Writer’s Block (2006), o trio sueco segue entregando álbuns bem feitos, com produções impecáveis e com momentos interessantes. O seu nono álbum não é diferente e Endless Dream tem os seus bons momentos, com um som leve e extremamente agradável. O grande destaque fica por conta de “On The Brink”, faixa que encerra o álbum. [JP]
Ceremony, do Phantogram
Em seu quarto álbum, o duo Phantogram entrega mais um registro digno de aplausos. Ainda que Ceremony fique abaixo dos registros anteriores, é um trabalho interessante por levar o projeto para um outro caminho, mais denso e sombrio. Talvez por isso, é algo que exija mais atenção ou, até mesmo, mais audições. Pena que isso não salva “Love Me Now”, provavelmente a música mais genérica que o duo já fez na carreira. Apesar disso, o álbum mostra nas demais faixas toda a capacidade presente nas criações de Sarah Barthel e Josh Carter, o que faz valer o play! [JP]
Every Bad, do Porridge Radio
A maldição do segundo álbum definitivamente não atingiu a discografia dos britânicos do Porridge Radio. Capitaneada pela vocalista, guitarrista e compositora Dana Margolin, a banda soltou o aguardado Every Bad e não decepciona. Muito pelo contrário. Bem construído, o álbum conta com onze faixas que vão do indie-rock ao post-punk, passando por pitadas experimentais bem marcantes. Em meio a tudo isso, os vocais marcantes e as composições diretas de Dana, que são destaque por todo o trabalho. [JP]
A Elasticidade do Tempo, do Rod Krieger
Engraçado como as coisas se sincronizam. Assim como a Larissa Conforto, que se mudou para Portugal após o fim da sua banda (a Ventre) e lançou seu primeiro trabalho solo, o Rodolfo Krieger se mudou para Lisboa depois do fim da Cachorro Grande, banda em que tocou por quase 15 anos, e lançou agora em março seu primeiro disco solo, A Elasticidade do Tempo, também com 8 faixas. Muitas coincidências, né? O disco tem claras referências aos anos de 1960 e aos Beatles na fase mais psicodélica, bem enviesando para George Harrison, com letras espiritualizadas, fé e influências de música indiana (tem cítara e tudo!). A vibe um tanto quanto namastê também dá o tom nas letras do disco, questionando a pressa e a ansiedade e pregando calma e autocuidado. Bem a calhar nesses tempos loucos de pandemia e quarentena que estamos vivendo. A música de abertura é um single lançado em 2018 que foi inspirado em “LSD”, canção do eterno Mutante Arnaldo Baptista, originalmente lançada em 2004. Na versão de Krieger, que conta com a participação de Arnaldo, ela vem cheia de camadas eletrônicas, mais pesada e animada. O nome do disco, aliás, também está ligado a Arnaldo: sua esposa Lucinha ajudou Rodolfo com a papelada do single colaborativo e, em certo momento, ele esqueceu de mandar um documento, pediu desculpas pela demora e ela respondeu dizendo “relaxa, Rodolfo, o tempo é elástico”. Desde então, essa frase ficou matutando na cabeça dele e originou o disco inteiro. Há semelhanças com o som da Cachorro Grande, sim, já que as referências sessentistas são parecidas. Mas Rod conseguiu mostrar sua personalidade e criatividade se reinventando em uma obra muito coerente, gostosa de ouvir e inspiradora. Compôs as canções, gravou todos os instrumentos do disco (com exceção da bateria e da cítara), voltou a cantar e ainda fez a mixagem. Um ótimo trabalho! [BM]
Traditional Techniques, do Stephen Malkmus
Uma das mentes por trás do seminal Pavement, o grande Stephen Malkmus colocou no mundo um novo álbum solo. Traditional Techniques mescla folk e rock psicodélico, tirando o músico completamente de sua zona de conforto e, mais do que isso, mostrando como ele consegue ficar a vontade em outro local. O resultado é interessante e vale a audição, ainda que o seu resultado final não seja tão cativante o quanto se espera de alguém como Malkmus. [JP]
After Hours, do The Weeknd
The Weeknd consegue equilibrar as suas personalidades musicais em seu novo álbum de estúdio. After Hours foge da aura dance de Starboy (2016), mas segue com a presença marcante da estética oitentista em seu som. Ao longo das faixas, você encontra elementos do começo da carreira, aquilo que o levou ao mainstream, situações de introspecção e momentos sombrios, tudo embalado pelo DNA marcante do músico canadense e uma bela produção. [JP]
5 Years Behind, da THICK
Em seu álbum de estreia, o trio THICK resolve subverter todo o estereótipo do pop punk ao abordar as suas experiências dentro da cena musical como um grupo formado por mulheres. Músicas como “Your Mom”, “Mansplain”, e “Party With Me” são belas portas de entrada para o som interessante, cru e sem sutilezas que é feito por Nikki Sisti, Shari Page e Kate Black. Se o objetivo era chegar “com o pé na porta”, o THICK cumpriu muito bem o seu propósito em 5 Years Behind. [JP]
Pink, do Two Feet
O nova iorquino Bill Dess, conhecido pelo nome artístico de Two Feet, usa e abusa de instrumentais – principalmente de guitarras com certa influência do The xx – para contar sobre seus relacionamentos em seu curto e agradável segundo álbum. Destaque para “Call Me, I Still Love You”, uma das músicas instrumentais do disco, e “You?”, que tem certa semelhança com singles lançados anteriormente pelo artista. [GC]
Heavy Light, da U.S. Girls
Se você quer grooves da era Disco em um Art Pop 2020, a pedida é o Heavy Light, novo álbum da Meghan Remy e o seu elogiado projeto U.S. Girls. Pop, psicodelia, pitadas de Soul e Disco se misturam ao longo das treze faixas do álbum, que conta com letras que caminham para um lado mais sombrio e ácido sobre as memórias pessoais e questões políticas. Vale a pela ouvir! [JP]
Love Is An Art, da Vanessa Carlton
É inegável que, se você acompanhou o mundo da música no começo dos anos 2000, ouvir o nome Vanessa Carlton automaticamente te levará ao hit “A Thousand Miles” – ou ao filme As Branquelas. No entanto, esperar por isso antes de ouvir o seu sexto álbum pode te causar uma grande surpresa. Love Is An Art vai totalmente na contramão do hit e entrega uma sonoridade experimental e atmosférica, o que não é nenhuma surpresa para quem ouviu o seu trabalho anterior, Liberman (2015). No fim das contas, Love Is An Art é o se espera de um bom álbum de Art Pop. [JP].
Saint Cloud, da Waxahatchee
Em seu quinto álbum de estúdio, o projeto capitaneado pela norte-americana Katie Crutchfield entrega um trabalho que preza pela sua simplicidade para fazer estragos no seu coração. Saint Cloud tem a seleção de faixas mais cruas e sinceras da Waxahatchee em toda a carreira, entregando um indie-rock de belas melodias enquanto fala sobre a vida, suas decisões, desconfortos e mudanças, traçando um paralelo com uma nova etapa na vida de Katie, que largou o álcool. Desde já, um dos grandes álbuns do ano. [JP]
You Or Someone You Know, do Worriers
Medo, insegurança e desgosto fazem parte da vida adulta e das letras de You or Someone You Know, terceiro álbum dos norte-americanos do Worriers. Capitaneada pela vocalista e guitarrista Lauren Denitzio, a banda se consolida em uma sonoridade que é resultado de uma mistura entre o punk, riffs bem trabalhados que remetem ao saudoso (e em hiato) The Gaslight Anthem e uma pitada de The Cranberries. Músicas como “PWR CPLE”, “Terrible Boyfriend” e “Big Feelings” mostram que a banda tem muito a oferecer. [JP]
Quer saber como foram os outros meses do ano? Além dos álbuns lançados em janeiro e fevereiro, fique ligado aqui no Audiograma para acompanhar a nossa seleção mensal de lançamentos. Não deixe também de dar uma olhadinha em nossa lista especial com os 100 melhores álbuns do ano passado. Por fim, se você quer se programar para o que vem por aí em 2020, veja a nossa lista com os principais lançamentos previstos para o primeiro semestre no mundo da música.
Textos: Amanda Magalhães, Bárbara Monteiro, Gabriel Heringer, Gabriel Marinho, Gabrielle Caroline, Henrique Ferreira, John Pereira e Rahif Souza.