O novo projeto Deap Lips é, como bem sugere o nome, a junção da dupla Deap Vally com a já clássica e aclamada banda Flaming Lips, misturando o rock garageiro do duo com o estilo mais viajadão e eletrônico dos veteranos em um belo casamento. Mas o mais legal dessa história é que Lindsey Troy (guitarra e vocal) e Julie Edwards (bateria e vocal), do Deap Vally, são muito fãs do Flaming Lips desde os anos de 1990 e, agora, estão prestes a lançar um álbum com seus ídolos Wayne Coyne e Steven Drozd. O disco “The Soft Bulletin”, dos Flaming Lips (lançado em 1999), é um dos preferidos da vida de Julie, e Lindsey ouvia o hit “Yoshimi Battles the Pink Robots” no carro sem parar, além de ter visto um show marcante deles no Coachella em 2004, quando Wayne fez história ao usar a famosa bolha inflável gigante para andar por cima do público pela primeira vez.
Os Flaming Lips já têm décadas de carreira, prêmios Grammy e milhões de discos vendidos, sendo referência e inspiração para inúmeros artistas. Mas o Deap Vally também tem o seu valor, e ele não é pequeno – Lindsey e Julie já viajaram o mundo todo tocando, acompanhando grandes bandas como Queens Of The Stone Age, Muse e Red Hot Chilli Peppers, se apresentando em festivais gigantes como Glastonbury e sendo aclamadas por público e crítica. As californianas já têm quase uma década de banda com discos elogiadíssimos, muita personalidade e girl power, e viajaram para Oklahoma para tocar com Wayne e Steven no mesmo período em que estavam trabalhando em outras parcerias com artistas como KT Tunstall, Peaches, Jamie Hince (do The Kills), Soko e Jenny Lee (do Warpaint), entre outros. Conversei com Lindsey pelo telefone e ela me contou como surgiu o Deap Lips, além de falar sobre o desafio que é conciliar carreira e maternidade e suas principais inspirações. “Trabalhar com Wayne e Steven foi tão inspirador…um sonho se tornando realidade! Eu estava nervosa, mas não de medo, e sim de excitação, sabe? Ansiosa. Porque ao lado deles me senti muito bem, relaxei, funcionou bem demais a parceria. Mas a gente não imaginava que faria um álbum inteiro”, contou ela.
Em 2016, Wayne Coyne viu um show do Deap Vally abrindo para o Wolfmother nos EUA, gostou e foi conhecer Lindsey no camarim depois da apresentação. Ela pegou o número de telefone dele. Ele seguiu a dupla no Instagram e começou a marcar o Deap Vally em posts aleatórios no estúdio do Flaming Lips, o Pink Floor Studios. As meninas acharam graça, entenderam que era uma forma de ele sugerir uma colaboração e então, em 2017, ligaram para Coyne e se convidaram para ir até Oklahoma fazer umas jams e ver o que saía disso. Assim mesmo, na cara de pau. “Eu achava que a gente ia fazer uma ou duas músicas para esse álbum de parcerias no qual elas estavam trabalhando, junto com todos os outros artistas. Primeiro fizemos a ‘Home Thru Hell’, que agora é a abertura do disco. Tudo fluiu muito rápido e fácil, bem espontâneo. Parecia mágica. Quando nos demos conta, já tínhamos terminado também a ‘Shit Talkin’ e a ‘There Is Know Right There Is Know Wrong’. Tudo em dois dias de gravação. Todos sentimos que, de alguma forma, algo especial havia começado ali”, disse o próprio Wayne. Em uma das faixas (“Hope Hell High”), eles ainda deram um jeito de citar as duas bandas originais na letra: “Riding along through the Deap Vally where the dragons of madness roam” no primeiro verso e “I think I tried too hard to shut the mouth of doom. Taking all my wisdom from the Flaming Lips of youth” no verso final da música.
Em 2018, Wayne e Steven continuaram mandando material para Julie e Lindsey e assim todos foram compondo juntos, à distância, até terem uma quantidade de músicas suficiente para fechar um álbum completo. Curiosamente, duas das canções tinham originalmente sido escritas por Wayne e Steven pensando em artistas mais pop para a colaboração: “Love Is Mind Control” era para Kesha e uma releitura de “The Pusher”, do Steppenwolf, era para Miley Cyrus. Mas as duas canções combinaram mais com o Deap Vally e acabaram entrando para o projeto também. “Estávamos começando a pensar que acidentalmente fizemos um ótimo álbum, mas não era nem um disco do Deap Vally, nem um disco do Flaming Lips. Então foi assim que nasceu o Deap Lips”, afirmou Coyne. “Fomos trabalhando e gostando muito do que estávamos fazendo juntos. E, apesar de essas duas faixas terem sido pensadas para artistas bem mainstream, nada do que os Flaming Lips fazem é pop cafona. Qualquer coisa que eles criem soa tão legal, tão descolada. Gostamos demais dessas duas canções e deixamos do nosso jeito. Mas as minhas preferidas do disco são ‘Shit Talking’, que é bem sonhadora e bonita, e ‘There Is Know Right There Is Know Wrong’, que é muito épica e um pouco sombria, até. Eu amo essas duas”, disse Lindsey.
O disco Deap Lips será lançado no dia 13 de março pela Cooking Vinyl e já têm dois singles disponíveis, mas por enquanto não há nenhum plano de turnê. “Não temos nada agendado nem para o Deap Lips nem para o Deap Vally. Queremos voltar a fazer turnês e eu adoraria voltar para o Brasil, dessa vez com a Julie, mas estou de licença maternidade. Minha bebê está com apenas três meses”, disse Lindsey. A primeira e única vez que ela tocou no Brasil foi em dezembro de 2017, em um evento da Jägermeister, mas na época era Julie quem estava de licença maternidade, então a bateria do Deap Vally ficou sob responsabilidade da Phem (que arrasou no show e também tem um trabalho solo como cantora bem interessante). E como elas fazem para conciliar carreira e maternidade? “Olha, definitivamente é um grande desafio. Não é fácil, mas é possível, sabe? Quando vou trabalhar no estúdio meu namorado cuida da nossa filha, vamos nos revezando. E nós fizemos turnês com a bebê da Julie e deu certo, foi bem divertido ter ela ali conosco”.
Lindsey me disse que suas maiores inspirações na guitarra são Jack White e Jimmy Page, mas que só quis começar a tocar depois de ver outras garotas fazendo isso. Perguntei se ela conhecia alguma banda brasileira e, como não sabia citar nenhuma, me pediu indicações. “Acho que você ia curtir umas bandas novas que têm mulheres em destaque, como Violet Soda e The Mönic. Aqui no Brasil estamos vendo uma cena de rock com mulheres à frente crescendo e se fortalecendo cada vez mais, está sendo muito bonito e inspirador”, eu respondi. E aí lembrei: “Sabe, Lindsey, em 2017 todas elas estavam no seu show. Eu estava lá também, colada na grade, e sei que você é uma enorme inspiração para elas assim como é para mim”. Cara, eu nunca vi uma entrevistada ficar tão empolgada antes! “Nossa, você não sabe como ouvir isso me deixa feliz. Que incrível!”, ela disse. “Vou anotar o nome dessas bandas para ouvir depois, mas fico muito grata em saber que tem tantas mulheres tocando por aí e fazendo acontecer. Muito obrigada pelo carinho!”. Eu que agradeço, Lindsey. ❤️
Deap Lips
1. Home Thru Hell
2. One Thousand Sisters With Aluminium Foil
3. Shit Talkin
4. Hope Hell High
5. Motherfuckers Got To Go
6. Love Is A Mind Control
7. Wandering Witches
8. The Pusher
9. Not A Natural Man
10. There Is Know Right There Is Know Wrong