20) A Blemish In The Great Light, do Half Moon Run
Os canadenses do Half Moon Run entregaram neste ano o seu terceiro álbum de estúdio e o A Blemish in The Great Light torna perceptível a sensação de evolução do quarteto de Montreal. Músicas como “Then Again” e “Flesh and Blood” parecem potencializar toda a capacidade do grupo que, cada vez mais, parece pronto para alçar voos ainda maiores. [JP]
19) Blastfemme, do Blastfemme
Tranquilamente um dos melhores lançamentos do ano e, orgulhosamente, do Brasil. Mais especificamente, do Rio de Janeiro. É um discão de rock impecável do começo ao fim, com a clássica formação guitarra/baixo/bateria, três mulheres, um homem e muita personalidade. O vocal é feminino e poderosíssimo, com muita força e sensualidade, mas também com alguns momentos debochados nas letras, que são geniais (destaque para “Obrigada Pela Parte Que Me Tocas”). A voz de Daniele Vallejo, intensa, rasgada e rouca, casa perfeitamente com o instrumental enérgico e pulsante da bateria precisa e pesada de Vladya Mendes, que é um arraso, o baixo de Jhou Rocha, que traz uma pulsação dançante às músicas e ainda mais peso, e à guitarra nervosa de Igor de Assis. Todos fazem backing vocals. O Blastfemme casa rock, punk, grunge, disco e blues a letras em português inspiradas e honestas sobre relacionamentos de uma perspectiva muito atual e aberta, falando sem tabu sobre sexo, brigas, liberdade e como é bom ser você mesma, fazer o que quer e deixar de se importar com o julgamento alheio. O som é agressivo e raivoso, quente e sensual, e o disco é divertidíssimo. Dá vontade de sair pulando, dançar, gritar, fazer sexo, lutar kung fu e entrar num bate cabeça, tudo ao mesmo tempo. Resumindo: imperdível. [BM]
18) Jesus Is King, do Kanye West
Kanye West resolveu falar sobre crença, esperança no futuro e reflete bem as transformações psicológicas e pessoais vividas pelo rapper nos últimos anos. Podemos dizer que o rapper encontrou em “algo maior” uma força para seguir em frente e, independente da sua religião ou da ausência dela, é algo que precisa ser respeitado. Bem construído e com melodias interessantes, Jesus Is King é um álbum com uma produção impecável e prova o quanto West sabe o que faz quando está nessa posição. [JP]
17) When I Get Home, da Solange
Com um álbum que vai te ganhando cada vez mais, Solange promove uma celebração das mulheres, da cultura negra e da música ao longo de seu When I Get Home. O quarto trabalho da cantora é um R&B poderoso e mostra todo um processo de auto-descoberta da cantora, que assina a produção do álbum e também o seu trabalho visual. Enquanto o seu trabalho anterior, A Seat at the Table (2016), mostrava Solange agindo mais com o coração, When I Get Home funciona como um convite para você se sentar, ouvir o que ela pensa sobre importantes questões de uma forma quase que confessional. Algo que poucos artistas poderia fazer e, para a nossa contemplação, Solange sempre fez parte desta lista. [JP]
16) Morri De Raiva, da BRVNKS
O tão aguardado álbum de estreia da goiana Bruna Guimarães agradou os fãs e não frustrou nenhuma expectativa, apesar de eu achar que teria mais músicas inéditas. Há novas versões para “Don’t” (minha preferida desde que conheci o trabalho da Bruna, falando de amor de forma raivosa, visceral e amarga, que é o que a gente sente de verdade quando rola uma desilusão, sem firula), “Yas Queen” (que antes se chamava “Laura”), “Freedom Is Just A Name For What I Want You To Be”, “I Hate All Of You”, “Your Mom Goes To College” (que antes se chamava “Grey Eyes”) e “Snacks” (que antes se chamava “Lanches” e intitulava o EP de estreia). Inéditas mesmo são apenas quatro (“Tristinha”, “Fred”, uma linda homenagem a um grande amigo que se foi muito cedo, “Tired” e “I Am My Own Man”). O disco inteiro tem uma produção mais bacana que as gravações anteriores e dá para entender por que Bruna quis regravar duas músicas do seu primeiro EP para que ficassem finalmente do jeito que ela sempre sonhou. É um som mais profissional, mais equilibrado e polido, sem deixar de lado as distorções e o peso, apenas soando melhor. Algumas letras e arranjos também sofreram alterações, além das novas mixagem e masterização e a inclusão de mais elementos, seja um riff de guitarra, seja um tecladinho, um synth, um efeito. Todo esse cuidado deixou as músicas mais ricas e também fez com que o álbum demorasse para sair, rendendo muita cobrança dos fãs, mas a espera valeu a pena. É tão bom ver uma mulher no palco que não apenas canta, mas também compõe todas as músicas, toca guitarra e faz rock alternativo, além de liderar sua banda. É revigorante, é necessário, é lindo. E a cada ano que passa ela só melhora. [BM]
15) i,i, do Bon Iver
O Bon Iver se estabeleceu como um dos projetos mais interessantes da música alternativa desde a década passada; liderados pelo admirável Justin Vernon, eles construíram uma discografia sólida ao longo dos últimos anos. Com i,i, o Bon Iver mais uma vez se coloca como um dos maiores acontecimentos da música alternativa nesse século. Mais importante, o álbum prova que o projeto não é uma banda de um homem só; o Bon Iver é uma espécie de entidade independente, onde todos são bem-vindos. [RS]
14) Titanic Rising, da Weyes Blood
O quarto álbum de estúdio da cantora Natalie Mering, que assume o nome artístico Weyes Blood, é uma manifestação de pura vulnerabilidade. A artista utiliza as suas influências vindas da música gospel pra falar sobre os desafios do amor em tempos cada vez mais caóticos, como nas faixas “Andromeda” e “Something to Believe”; um registro que é ao mesmo tempo doce, intenso e brilhante. [RS]
13) amarELO, do Emicida
Sabe aquele álbum que extremamente necessário? Foi isso que o Emicida entregou com o seu novo registro de estúdio. AmarElo é um trabalho diferente de tudo o que o rapper já fez até então. Conversa com outros ritmos e apresenta uma leveza em certos momentos que são bem interessantes. Tudo isso de uma forma bem construída e, principalmente, sem perder a sua essência crítica e extremamente importante nos dias atuais. AmarElo é a prova de que Emicida é capaz de passar a sua mensagem, impactar e transformar ao mesmo tempo em que é leve, fala de amor e esperança. Já disse que é um álbum necessário, né? [JP]
12) Jade Bird, da Jade Bird
Uma inglesinha franzina e baixinha que só tem 21 anos mas que no palco se torna gigante: essa é Jade Bird. O que ela tem de cabelo, tem de talento. A primeira vez que a ouvi foi num vídeo ao vivo e meu queixo caiu. Fiquei tão embasbacada que dei replay umas 5 vezes e depois disso nunca mais parei de ouvir. Agora, ela finalmente tem um álbum completo e homônimo para chamar de seu, misturando country, folk, indie, blues e pop – continuando com muita coerência o trabalho do seu primeiro EP, Something American, de 2017. Ela tem uma pegada crua e meio retrô, voz rouca e rasgada e violão de aço. Suas músicas são enérgicas, intensas, têm letras espertas e um estilo de cantar visceral, sofrido, com refrões fortes gritados como um lamento ou desabafo de quem tem alma velha e muita experiência pra contar, apesar da pouca idade. Pode lembrar até a Janis Joplin em alguns momentos, mas o forte sotaque britânico não a deixa negar as origens e sua forte personalidade. Também me alegra muito ver uma mulher instrumentista no holofote porque, além de cantar, Jade toca muito bem e compõe todas as suas músicas. Isso faz com que esse disco de estreia chegue cheio de identidade própria e força. Acho que podemos esperar grandes coisas dela. [BM]
11) Ghosteen, do Nick Cave & The Bad Seeds
Ainda que Skeleton Tree (2016) tenha sido encarado como um álbum de luto, foi em Ghosteen que Nick Cave mergulhou fundo neste processo por conta da morte de seu filho. O álbum é pesado e devastador como o tema pede mas, ao mesmo tempo, consegue ser reconfortante. Isso talvez seja o mais surpreendente ao longo da audição. Não é surpresa que o Nick Cave & The Bad Seeds tenha lançado um álbum excelente, mas a sua simplicidade é algo tão marcante que, se você tem um coração, é impossível não se apaixonar. [JP]