70) Blood, da Kelsey Lu
A norte-americana Kelsey Lu preparou bem o terreno para o seu álbum de estreia. Presente no circuito desde 2016, quando lançou o EP Church, a cantora veio lançando singles soltos e colaborações com nomes como Blood Orange ou Solange enquanto preparava o seu registro. Com treze faixas, Blood é daqueles álbuns que provocam uma imersão do ouvinte ao longo de sua audição, ainda que ele apresente algumas faixas que acabam “escorregando” no conjunto da obra. Mesmo assim, qualquer desigualdade que possa ser apontada acaba sendo compensada por músicas incríveis como “Due West”, faixa que seria adorada por 9 em cada 10 fãs de certas cantoras, “Poor Fake” ou “Foreign Car”. Apenas ouça, preste atenção e se entregue! [JP]
69) Besta Fera, de Jards Macalé
Besta Fera é a confirmação de que Jards Macalé segue produtivo e criativo. Com doze faixas e convidados como Tim Bernardes, Juçara Marçal e Romulo Fróes, o álbum pode parecer confuso para algum desavisado, principalmente pela sua faixa de abertura, “Vampiro de Copacabana”, mas tem na sua mistura de samba, rock e experimentalismo algo extremamente cativante e que se desenvolve de forma bem interessante. Destaque para as faixas “Trevas”, “Pacto de Sangue” e “Longo Caminho do Sol”, que mostram o quanto o músico carioca segue forte e merece todos os destaques possíveis. [JP]
68) Eve, da Rapsody
Conheci a Rapsody por conta de “Cleo”, música que conta com um sampler de “In the Air Tonight”, do Phil Collins. A música ficou na cabeça de uma forma que, dar play no Eve por completo e adorá-lo foi um pulo. Terceiro registro de estúdio da rapper norte-americana, o álbum conta com dezesseis faixas, todas intituladas com nomes de mulheres negras importantes em suas áreas de atuação. Criativo, bem produzido e marcante, Eve é mais um acerto da carreira consistente de Rapsody. [JP]
67) All Mirrors, da Angel Olsen
Com o seu novo trabalho, Angel Olsen consegue expressar uma nova faceta sem assustar quem já conhece o seu talento; na verdade, ao explorar novos horizontes musicais, ela confirma ser uma das mais talentosas artistas dessa década, colocando mais um álbum impecável na sua discografia. Além disso, ao entregar All Mirrors, Angel demonstra entender as dores e as complicações das relações da nossa existência. Um disco que sem dúvida merece ser ouvido, e que com certeza irá tocar você. [RS]
66) Little Electric Chicken Heart, da Ana Frango Elétrico
Menos de um ano após o lançamento de Mormaço Queima (2018), Ana Frango Elétrico retorna com Little Eletric Chicken Heart. Espécie de continuação do álbum anterior, as músicas flertam com o imprevisível, com arranjos experimentais utilizados em desencontro, causando uma confortável surpresa ao ouvinte. Em semelhança ao primeiro trabalho, Ana Fainguelernt mantém a irreverência em suas letras, de forma que deixam de ser apenas palavras e caem muito bem como um instrumento vocálico. Da divertida “Tem Certeza?” até a melancólica “Torturadores”, a artista firma sua identidade de multifacetas, entregando um trabalho de diversas camadas que se desdobram a cada nova execução. [BS]
65) LEGACY! LEGACY!, da Jamila Woods
Quase três anos após Heavn (2016), a norte-americana Jamila Woods lançou o seu aguardado segundo álbum e LEGACY! LEGACY! é direto naquilo que se propõe: uma mulher que sabe usar as palavras como ninguém falando sobre legados, heranças, política e a vivência em comunidade. Em treze faixas, a norte-americana mostra a sua visão sobre essas questões com palavras fortes e carregadas de uma paixão e introspecção cativantes. Tudo isso embalado em um R&B muito bem produzido e que, ainda que a sonoridade seja importante, acaba deixando todo o protagonismo do álbum para as letras. [JP]
64) Salt, da Angie McMahon
Em seu álbum de estreia, Angie McMahon mergulhou de cabeça em um folk-rock digno de aplausos. Salt é extremamente sensível e confessional, elementos que casam perfeitamente com a voz grave e envolvente da australiana. Com onze faixas, alguns momentos se destacam: os singles “Slow Mover”, “Missing Me” e “And I am a Woman” são interessantes, mas ainda não consegui me desapegar da beleza de “Soon”, uma das músicas mais belas que ouvir neste ano. [JP]
63) No Home Record, da Kim Gordon
Kim Gordon resolveu embarcar em uma carreira solo após quase quatro décadas de serviços (bem) prestados à música. Ao invés de se esconder no passado, a cantora e musicista mergulha em uma obra curta e direta, que questiona abertamente as mazelas da sociedade atual. Irregular, experimental, caótico, perturbador e envolvente são alguns dos adjetivos capazes de descrever o No Home Record e toda a atmosfera criada ao longo de suas nove faixas. Simplesmente apaixonante! [JP]
62) Não Há Abismo Em Que O Brasil Caiba, do Jorge Mautner
O primeiro álbum de inéditas de Jorge Mautner em treze anos é emblemático. Como o próprio nome já entrega, Não Há Abismo Em Que O Brasil Caiba é um retrato da situação atual do país. Com elementos que passam por diversos gêneros e elementos, o álbum é belo e te surpreende ao longo de suas catorze faixas. Tem rock, tem afoxé, tem trechos bíblicos, versos declamados, música que leva o nome de Marielle Franco, faixas que nos deixam com esperança de dias melhores e outras que evidenciam o momento perturbador no qual vivemos. Dizem que são nos momentos ruins que a arte é capaz de aflorar e, provavelmente, olharemos para esse álbum de Jorge Mautner no futuro da mesma forma que olhamos para alguns marcos musicais do passado. [JP]
61) Fishing For Fishies, do King Gizzard & The Lizard Wizard
Os australianos do King Gizzard & The Lizard Wizard lançaram em abril o seu décimo quarto álbum de estúdio. Com nove faixas, Fishing For Fishies é um álbum extremamente criativo e livre de qualquer amarra que pudesse prender a banda. O resultado é um blues rock de incrível qualidade, o que não é nenhuma novidade na longa carreira da banda, não é mesmo? Vale lembrar que, em agosto, a banda soltou outro (interessante) álbum, o Infest the Rats’ Nest. [JP]
60) Dreaming Fully Awake, do Moons
Em seu terceiro álbum de estúdio, os mineiros do Moons seguem cumprindo a tradição de entregar bons trabalhos. A banda formada por André Travassos (voz, violão e guitarra), Jennifer Souza (voz e guitarra), Pedro Hamdan (bateria), Bernardo Bauer (baixo), Felipe D’Angelo (teclados) e Digo Leite (banjo, violão e harmônica) entrega um registro que representa mais a unidade enquanto sexteto e que soa menos melancólico que os álbuns anteriores. Mais uma vez ao lado do produtor Leonardo Marques, o Moons mostra uma constante evolução em Dreaming Fully Awake, trilhando um caminho cada vez mais cativante. [JP]
59) The Nothing, do Korn
Três anos depois de seu último lançamento, a veterana banda de nu metal volta com um álbum de inéditas para alegria dos fãs, que andam fazendo boas críticas ao disco novo. The Nothing abre com uma gaita de foles (!) e um cara sofrendo, bem bizarro, mas logo na sequência vem a pedrada “Cold”, bem a cara do Korn. Com 25 anos de estrada, a banda mantém sua identidade sonora nesse 13º álbum, mesmo com algumas experimentações pelo caminho da carreira. O som não é uma grande novidade, no entanto – e pode ser por isso mesmo que continue agradando tanto os fãs já fiéis, mantendo as origens. O disco é grandioso, forte, e impecavelmente produzido, dando destaque para todos os elementos das músicas. É para ouvir bem alto batendo cabeça, mesmo. Nas letras, é difícil não pensar em uma ligação com a grande perda que Jonathan Davies, o vocalista, teve no ano passado, quando sua esposa faleceu acidentalmente. Deven Davis morrem em 2018 com apenas 39 anos depois de tomar uma mistura letal de remédios e drogas. Mesmo assim, em The Nothing, o vocal de Jonathan brilha mais do que nunca, apesar do luto. Pode ser que o disco tenha sido uma catarse para ele, sem querer normalizar o sofrimento do artista, que nada tem a ver com a qualidade do trabalho, como por muito tempo se pensou. Mas a música pode sim ser terapêutica. [BM]
58) Zona Morta, da Do Amor
Os cariocas da Do Amor enfrentou diversos fatores para produzir o seu quarto álbum de estúdio. Nos últimos anos, Bubu (guitarra e voz), Gustavo Benjão (guitarra e voz), Marcelo Callado (bateria e voz) e Ricardo Gomes (baixo e voz) dedicaram boa parte do tempo aos seus projetos paralelos, o que fez a banda entrar em um hiato forçado e não planejado. No entanto, o carinho pelo projeto foi mais forte que isso, fazendo com que o Zona Morta chegasse até nós. Após um período de pré-produção feito de forma remota – já que dois dos integrantes não residem mais no Rio de Janeiro, a banda separou as criações mais interessantes e, no primeiro momento em que foi possível, se trancou em um estúdio por dois dias para gravar as suas dez faixas. O resultado é um álbum bem orgânico, cru e bom de se ouvir, com destaque para as faixas “Roquinho Triste da MPB”, “Não Peida no Amor” e “Guanabara”. [JP]
57) Próspera, da Tássia Reis
Em seu terceiro álbum de estúdio, Tássia Reis se coloca definitivamente como uma das vozes femininas mais interessantes da música nacional. Falando sobre racismo, feminismo e estimulando o ouvinte que ainda é marginalizado pela sociedade, Próspera é direto no que se propõe e cheio de versos marcantes, como nas faixas “Shonda” e “Dollar Euro”. Com um “respiro” representado por momentos de romantismo, o álbum mostra uma Tássia ainda mais afiada, provocativa e em constante evolução. [JP]
56) Shepherd in a Sheepskin Vest, do Bill Callahan
Quem se atreve a lançar um álbum de vinte faixas em 2019 é porque tem uma boa história para contar e esse é o caso de Bill Callaham com o seu Shepherd in a Sheepskin Vest. Falando sobre a vida, a paternidade e todas as mudanças a partir do nascimento do pequeno Bass em 2015, Bill te prende num country 2.0 gostoso de ouvir e que te faz esquecer do tempo. No fim da jornada, vinte músicas acabam sendo pouco, se é que você me entende. [JP]
55) Why Hasn’t Everything Already Disappeared?, do Deerhunter
Você deve ter lido bastante durante o ano sobre artistas que buscam se reinventar em seus novos trabalhos e, como não poderia deixar de ser, o Deerhunter pegou carona nesse lema em seu novo álbum, Why Hasn’t Everything Already Disappeared?. Oitavo registro da banda norte-americana, o registro mostra uma busca por novos elementos, um maior número de colaboradores e a tentativa de sair da zona de conforto sem romper de forma abrupta com aquela mistura de folk e indie que já conhecemos. [JP]
54) Schlagenheim, do black midi
Após um relativo sucesso com a faixa “Talking Heads”, que acabou chamando a atenção do próprio David Byrne, o black midi lançou em junho o seu primeiro álbum cheio. Schlagenheim está longe de alguma classificação: é um rock experimental descompromissado e capaz de fugir de qualquer estética que você possa imaginar. É estranho, confuso em alguns momentos e parece ter sido construído em cima de um improviso que pode até incomodar no começo. Se você chegar ao fim, entenderá o que faz do álbum uma das coisas mais legais feitas no rock nos últimos anos. [JP]
53) Injury Reserve, do Injury Reserve
Ouvi por acaso uma música chamada “Rap Song Tutorial” que é, como o próprio nome diz, um manual básico para você fazer um rap. Foi por ela que conheci o Injury Reserve e o seu primeiro álbum, que carrega o nome do trio formado pelos rappers Stepa J. Groggs e Ritchie With a T, além do produtor Parker Corey. Com doze faixas, o álbum mescla elementos clássicos do hip hop com diversos experimentalismos, dando vida a uma proposta bem legal de se ouvir. [JP]
52) O Futuro Não Demora, do BaianaSystem
Um álbum para ser apreciado: é assim que eu definiria O Futuro Não Demora, novo registro do BaianaSystem. Com a dura missão de suceder o incrível Duas Cidades, o novo álbum do projeto capitaneado por Roberto Barreto (guitarra baiana), Seko Bass (baixo) e Russo Passapusso (voz) é tão marcante quanto o anterior. Com um time de colaboradores que tem BNegão, Manu Chao e Curumin, entre outros convidados, o álbum é provocante, marcante e forte. Exatamente o que se esperava do BaianaSystem. [JP]
51) Jaime, da Brittany Howard
A Brittany Howard não é uma cantora, é uma entidade. É talento demais pra uma pessoa só, tanto que ela transbordou a criatividade da sua incrível banda, o Alabama Shakes (cujas canções são basicamente todas compostas por ela), para fazer seu primeiro disco solo. Muito pessoal e autobiográfico, Jaime não tem medo de expor dores, defeitos e fraquezas nas letras, contando várias histórias vividas por Brittany, e por isso mesmo soa tão honesto e genuíno. O som mistura diversas referências da música negra estadunidense, do funk ao soul, sem nunca deixar o blues de lado – gênero que, inclusive, é super presente no Alabama Shakes, mas lá mais misturado com pitadas de rock, enquanto no álbum solo os destaques são funk, jazz, R&B e Hip Hop, com grandes doses de sintetizadores e teclas. É um disco lindo, emocionante e apaixonante do começo ao fim, que só nos faz admirar e amar ainda mais a grande artista que é Brittany Howard. Imperdível. [BM]