O Interrogatório traz desta vez um toque carioca, múltiplo e com uma mistura de blues com rock. Características que definem a cantora Sonja, que carrega em sua trajetória como artista influências que permeiam entre Bessie Smith, Janis Joplin, Etta James, Beth Ditto e Tina Turner.
Cantando desde os seis anos de idade, a artista brinca com a voz e entrega tons graves e agudos, dando vida à sua personalidade forte, orgânica, sensível e apaixonada pela arte.
Além de seu trabalho autoral, Sonja também faz parte da banda Caravana Cigana do Blues e já cantou ao lado de grandes artistas do ramo como J.J. Jackson, Little Jimmy Reed, Álamo Leal, Otávio Rocha, Big Gilson, Sérgio Rocha entre outros. Os shows que apresenta proporcionam um passeio intimista por suas canções autorais, compostas em parcerias, e pelos clássicos que influenciaram sua carreira.
Durante o Mississipi Delta Blues Festival, em 2018, no sul, lançou seu álbum homônimo, gravado com a banda Laranjeletric. Em 2019, ganhou ainda mais destaque na cena cultural carioca após apresentação marcante no Circo Voador.
Para contar para o Audiograma um pouco mais sobre sua carreira, fizemos entrevista exclusiva com a cantora.
Qual foi seu primeiro contato musical com artistas como Janis Joplin, Etta James e Tina Turner?
Lembro que quando conheci Janis, conheci primeiro a voz. Ouvi pela primeira vez na televisão. Não lembro que canal era e o que era. Lembro de estar fazendo alguma outra coisa pela casa e me virei pra ver o que estava acontecendo (risos) e ai vi aquela mulher cheia de cabelo, voz e personalidade e fui procurar mais sobre.
Etta eu conheci, se não me engano, através da minha professora de canto Patricia Evans, quando comecei a me interessar mais por esse lado da música. Tina eu já conhecia há mais tempo e realmente não me lembro qual foi a primeira vez que a vi e ouvi cantar, mas sei que faz bastante tempo. Eu adorava a voz rasgada e aquela energia doida que ela tinha no palco, cantando e dançando. Achava incrível como ela conseguia fazer aquilo.
Como surgiu a ideia de combinar o blues com o rock?
Blues é o pai do rock, né. E eu sempre gostei de rock desde que meu irmão me apresentou. Gostava de vários estilos de rock e em algum momento eu cheguei nos Stones. Acho que conheci um pouco antes de eles virem fazer show na praia de Copacabana. Fiquei apaixonada, de novo, pela energia do Mick e tal, e tudo isso me representava muito. Eu sentia um pouco deles em mim e vice-versa. Então eu já tinha essa pegada do rock no jeito de vestir, nas musicas que ouvia, nas m***** que eu fazia, enfim. Até que eu descobri o blues, alguns anos depois. Todas as histórias se cruzavam, tudo fazia muito sentido entre o que eu gostava e o que eu estava conhecendo. Foi amor intenso com o Blues e foi com ele que eu resolvi ter esse relacionamento sério. E ai juntou minha personalidade, que é o rock, com aquilo que eu amo cantar, que é o Blues. Não teve como separar uma coisa da outra…
Como foi sua transição entre musicais e sonoridade blues-rock?
Eu já estava mais ligada no Blues na época em que fazia musicais. Se não me engano, eu tinha lá pros 16 anos. Fui de maluca com uma amiga ao Festival de Rio das Ostras de Jazz e Blues e lá eu senti que tinha alguma coisa querendo acender ali dentro de mim, que ficou mais forte com a ida nesse Festival. Depois dele, a vida tratou de botar músicos ligados ao estilo (blues) no meu caminho, pouco a pouco, e quando percebi eu estava rodeada.
Antes disso, nesse processo ainda, quando estava em cartaz no Teatro Ipanema com “On Broadway – Os Grandes Musicais” – totalmente independente – , interpretei a música “And I am telling you I’m not going”, cantada originalmente pela Jeniffer Holliday. Quando o diretor me deu essa música e fui pesquisá-la, fiquei impressionada com o que vi. Com a potência vocal dessa mulher, com a verdade que ela passava cantando essa música, tão crua, tão despida, cuspindo a alma pra fora do corpo em forma de som, sem escrúpulos, com uma força tamanha. E falei pra minha professora, que era diretora musical da peça: “É isso! É isso que quero fazer!”
Minha professora, que não à toa chamo de mãe, que me conhece dos pés à cabeça, disse: “Acho que entendi. Vá pesquisar mais sobre blues. Assiste isso, ouve aquilo…”. Então, acho que a música que cantei no palco foi a primeira mais próxima do blues e aquilo me preencheu como nada havia feito. Me levou pra la, me abriu a mente e os caminhos.
Quais são os próximos passos de sua carreira?
Eu gosto de focar no que está acontecendo agora. Há um ano lancei meu primeiro disco e estamos trabalhando com ele, em torno dele. No momento estamos nos dedicando ao trabalho em cima deste, que é o primeiro, que tem tamanha importância quando falo em me apresentar para o mundo, como recém chegada. Mas, claro, tenho desejos para o futuro. Um clipe, um próximo disco e uma pequena turnê pelo Brasil estão nesses planos.