A cantora, compositora e instrumentista BEL resolveu buscar novos caminhos em seu trabalho.
Após o elogiado Quando Brinca, que conta com um clima mais eletrônico, a cantora resolveu se aventurar em outros estilos em seu novo EP, O Gole Que Presta. Com produção musical de Maria Beraldo e Thiago Corrêa, o trabalho apresenta um indie punk que traduz bem as experiências vividas por BEL.
“Esse EP marca um novo ciclo na minha vida e no meu trabalho. São músicas que acompanham uma fase de experimentações, de relações que me transformaram, de atravessamentos afetivos. Continuam muito vivas pra mim, já tiveram outras versões e agora chegaram nesse conjunto. Acho que marca também essa nova formação, com sonoridade de banda, com power-trio sapatão”, revela BEL.
Gravado por Henrique Matheus, Thiago Corrêa e Bruno Corrêa no Estúdio Frango no Bafo (BH) através do projeto #SonânciasLab (quente + Natura Musical), o EP contou com a colaboração de Nathanne Rodrigues (baixo), Thaís Catão (guitarra) e Acácia Lima (bateria). Com três faixas, parte do registro conta com letras compostas durante um período vivido em Buenos Aires e que rendeu muitas experimentações para a carioca.
“Acho que o rock era o que faltava a essas músicas e ele chegou quando eu me juntei com essas manas. Nós já estávamos ensaiando essas e outras músicas novas, num projeto meio despretensioso de gravar algo, quando recebi a notícia de que tínhamos entrado no projeto Sonâncias Lab. Foi tudo bem rápido: foram cinco dias seguidos de estúdio, num clima delicioso. O trabalho com a Maria foi fluido, uma produção sensível e criativa”, conta a artista.
Bel Baroni iniciou seus estudos musicais ainda criança e começou a compor por volta de 2009, quando publicou uma coleção de poemas manuscritos de sua autoria, de onde saíram muitas das letras do disco que viria posteriormente. Foi integrante das bandas Mohandas – onde atuou até 2015 e com a qual lançou dois EPs, um compacto e os álbuns Etnopop (2012) e Um segundo (2015), este último com produção executiva de BEL e produção musical de Lucas Vasconcellos (Letuce, Legião Urbana) – e da Xanaxou, que unia oito mulheres intérpretes, compositoras e instrumentistas no ano de 2016.
Foi em 2017 que BEL mergulhou em sua carreira solo ao lançar o seu álbum de estreia, Quando Brinca. O registro mescla elementos eletrônicos, jazz e MPB a letras poéticas que refletem sobre a relação com a cidade, a sexualidade, as causas LGBT e feminista e o mundo contemporâneo. No início desse ano, lançou o single “Banquete Fake” através da Coletânea SÊLA, em parceria com o Programa ASA do Oi Futuro. A faixa foi produzida por Rafa Prestes e contou com a participação de Larissa Conforto, Mari Romano e Mahmundi. Além da música, BEL também organiza e assina a curadoria do projeto Palavra Sapata, que busca difundir a literatura lésbica e estimular essas narrativas.
Já disponível em todas as plataformas digitais, O Gole que Presta foi lançado pela Quente.
# Faixa-a-faixa de O Gole Que Presta
Por BEL
As duas primeiras faixas, “Islas de afecto” e “O gole que Presta”, foram compostas em Buenos Aires, em 2017, quando fui de mochila, guitarra e loopêra tocar as músicas do meu disco, recém-lançado na época. Fiquei por três meses lá tocando em um monte de bares, casas de show, conheci muita gente, artistas incríveis, vivi uns romances. Tava rolando aqui um daqueles momentos de transformação intensa, de fim/início de ciclo.
“Islas” é minha música em portunhol (risos). Foi gostoso gravar ela sussurrada, meio voz no pé do ouvido. Já “Gole” é o grito – eu tava mesmo sentindo um pouco de raiva quando escrevi a letra. A música veio quando o Martin Longoni, produtor musical de Buenos Aires, me chamou pra colocar letra numa base que ele tinha feito.
Puxei esses escritos que ainda eram bem recentes e fiz a melodia com a colaboração maravilhosa da Vera Marques, amiga querida, artista portuguesa que morava comigo na época. Gravamos em 2017 uma primeira versão no estúdio do Martin, bem diferente da que tá no EP.
A faixa “Pequenas Vitórias” me traz uma coisa de paciência, de confiar no tempo. Era o arranjo que estava mais em aberto quando chegamos no estúdio, por isso experimentamos e criamos bastante ali na gravação. Os arranjos dessas três faixas foram feitos coletivamente com a banda, com a Maria Beraldo e o Thiago Corrêa, que produziram o EP.