Um dos destaques da cena instrumental carioca, o Sexteto Sucupira promove uma verdadeira viagem por estilos musicais em seu primeiro álbum de estúdio.
Carregando o nome do projeto formado por Rudá Brauns (bandolim), Alexandre Bittencourt (sopros), Felipe Chernicharo (violão), Max Dias (contrabaixo), Claudio Lima (bateria) e Lucas Videla (percussões), o registro foi gravado nos últimos dois anos e conta com uma mistura que mescla sonoridades nordestinas, sons feitos nos países latinos, africanos e também no Oriente Médio. Essa mistura resulta em um forró jazz cigano tropical, como a própria banda denomina o seu som.
Formado em 2014, o Sexteto Sucupira construiu a sua identidade peculiar ao longo dos anos e sempre prezou pela mistura. “No primeiro ensaio, cheguei dizendo que desejava fazer um baile juntando forró, música do oriente médio, jazz, música caribenha e uma pitada de rock progressivo, tudo bem dançante! Na época, aquilo soou um pouco como loucura, até mesmo para mim que não tinha ideia de onde aquela história poderia dar”, comenta Rudá Brauns. “Com quase cinco anos de bailes semanais em casas cheias, um público cada vez maior dançando nosso som, diversas ideias fervilhando na mente e grandes músicos se juntando a nós para somar, acreditamos estar numa boa direção e sentimos um enorme desejo de seguir com esse projeto”, reflete o músico.
O sexteto promove um baile semanal na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, que tem atraído não só o público mas também artistas de diversos estilos e de vários cantos do mundo. Já passaram por lá o saxofonista americano Kamasi Washington e a cantora e atriz espanhola Silvia Pérez Cruz, além de diversos nomes nacionais. Isso também é levado para o álbum, que conta com participações de nomes como Nicolas Krassik, Carlos Malta, Júlia Vargas, Marcelo Caldi e Marco Lobo.
O projeto traz o dinamismo e experiência que os músicos adquiriram nos palcos em um repertório completamente autoral, com composições de Brauns, Bittencourt, Chernicharo e Dias. A produção musical é de Rodrigo Lessa, conhecido por seu trabalho com o grupo Nó em Pingo D’Água. “O processo foi longo, mas acreditamos que valeu a pena esperar e estamos muito felizes com o resultado. Neste disco, temos um primeiro retrato do som que conseguimos criar a partir desta ideia de juntar danças brasileiras, cores orientais e sabores afro latinos”, afirma Rudá.
Sexteto Sucupira já está disponível em todas as plataformas de streaming e pode ser ouvido abaixo:
Abaixo, veja o faixa-a-faixa feito pelos integrantes do Sexteto Sucupira:
# “Aflitos”, por Felipe Chernicharo
Maracatu, baião e ijexá. A ideia era entrelaçar diferentes faces da música pernambucana numa composição simples, onde regional e universal se contrapõem. No final da música tem até uma referência ao rock, que, ao meu ver, é também muito representativo da cidade do Recife, tendo lá florescido de forma muito original, como no manguebeat. Em função dessa raiz pernambucana, decidi usar o nome de um bairro recifense na hora de batizar o tema, assim surgiu “Aflitos”.
# “Suíte Pros Anicete”, por Rudá Brauns com citação de Alexandre Bittencourt
Esta música me veio após um trabalho que realizei com a maravilhosa Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto. Inspirado pela sonoridade destes grandes músicos, me veio o desejo de compor uma suíte em três movimentos que teria como enredo uma história fictícia vivida pelos irmãos. A história que eu contava, e que depois foi reescrita pelo Alexandre, ficou mais ou menos assim: “No Crato, perto de Juazeiro do Norte, em meio a uma seca monstruosa, choveu aquela chuva de molhar todo mundo, e teve uma festa na cidade que durou 7 dias. Bom, muita cachaça e música pra dançar do jeito que o diabo gosta! Até os Aniceto foram tocar na festa com seus pifes, bacamarteiros e espadeiros. No meio da apresentação, uma senhora que estava na plateia rodou na cigana, agarrou seu Raimundo e disse: ‘Velho, tu vai lá no oriente. Encontra esse outro velho que toca pife lá e vocês vão fazer o mundo balançar!’. Virou uma garrafa de Pitú e sumiu na multidão. Os Aniceto montaram então no jegue e foram parar em Istambul”.
# “Embarcação”, por Rudá Brauns
Era o ensaio do Cabaret Mystico da Grande Companhia Brasileira de Mysterios e Novidades. Numa daquelas pausas para o café, sentado debaixo da goiabeira na sede da companhia, me veio a melodia. Ela foi inspirada em parte pela sonoridade de Nino Rota muito presente nos ensaios e também por uma melodia do disco do Hamilton de Holanda Trio, que eu escutava muito na época. Uma daquelas melodias que vêm de uma vez, inteira, e você até se pergunta se não está fazendo um plágio de alguma música sem saber… Até hoje não descobri.
# “Expresso Paraíso”, por Felipe Chernicharo
Inspirado pelo violão de Gilberto Gil em Expresso 2222, decidi fazer uma música vivaz e solar pra juntar forró com gêneros característicos do recôncavo baiano, no caso a chula e o samba de roda. Compus esse tema num período em que morava na Rua do Paraíso, no bairro carioca de Santa Tereza. Quando fui dar nome à obra, juntei o meu endereço com o verso do Gil, e assim a coisa ficou.
# “Volta Ao Mundo”, por Rudá Brauns
Uma singela homenagem ao Mestre Cláudio e a todos os membros do Grupo de Capoeira Angola Volta ao Mundo, por todo o ensinamento e pelo Axé. A primeira parte dessa música, totalmente inspirada pelos cantos tradicionais de capoeira, veio após um dos treinos. Já a segunda parte possui uma melodia um pouco mais misteriosa, que foge um pouco do universo dos cantos de capoeira e remete à música do Oriente Médio. A presença do berimbau de Marco Lobo nesta gravação, tocado num registro bem mais grave que o tradicional, ajudou muito a compor o clima mais misterioso e mântrico dessa canção. Já a presença da voz de Julia Vargas representa para mim a inserção da mulher dentro do universo da capoeira, assunto de extrema importância nas discussões promovidas pelo Grupo sobre gênero, cultura negra e luta antirracista.
# “Ziryab No Baile”, por Rudá Brauns
Ziryab foi um músico muito influente no século VI. Conhecido por sua bela voz e por ser um virtuoso do alaúde (instrumento ao qual acrescentou uma quinta corda), Ziryab foi marcante não somente na música mas também nos costumes, levando práticas do Oriente Médio para o ocidente. Nascido na região hoje conhecida como Iraque, passou pelo Egito, Tunísia e se instalou em Córdoba. Essa composição surge da imaginação de como Ziryab tocaria se tivesse chegado ao Rio de Janeiro dos dias atuais, influenciado pelos choros, forrós e carimbós desse Brasilzão.
# “Bizarrita”, por Alexandre Bittencourt
O xote Bizarrita surgiu de um sonho que tive. Um vaqueiro chinês tocava seu pife numa beira de rio, enquanto uma patativa pousada no seu ombro lhe soprava essa melodia. A música chegava no peito como um lamento, descia pelos joelhos como um xote e caía nos pés num choro bem carioca.
# “Quarta à Noite”, por Max Dias
A melodia da primeira parte me veio instantaneamente, quase sem querer, quando brincava no violão de um amigo. Ele sugeriu alguns acordes e, a partir deles, fui desenvolvendo o resto da melodia. A ideia era fazer um forró que contivesse elementos variados, que passasse pelo tradicional e pelo moderno.