Taylor Swift segue dando entrevistas bem interessantes nos últimos meses e, desta vez, a cantora participou de uma “segura sessão de terapia” – conforme ela mesma descreveu – em conversa com a Rolling Stone.
Capa da edição de setembro da revista norte-americana, Taylor falou abertamente sobre diversos assuntos que fizeram parte da sua vida nos últimos anos, como as confusões envolvendo Kanye West e Scott Borchetta, as questões envolvendo Katy Perry, a agressividade da mídia que busca colocar mulheres umas contra outras, as vezes em que foi mal interpretada, além dos altos e baixos na carreira e da importância da turnê de promoção do álbum Reputation.
A entrevista foi feita por Brian Hiatt, com quem a cantora já tinha conversado há sete anos atrás. O jornalista relembrou o papo anterior apontando que a cantora parecia ter receio de que algo de estranho pudesse acontecer com ela. “Eu meio que sabia. Sentia como se estivesse andando pela calçada sabendo que, eventualmente, a calçada iria desmoronar e eu cairia. Você não pode vencer sempre”, afirmou a cantora. “As pessoas adoram algo ‘novo’ – elas te colocam lá em cima de um mastro e você fica acenando no topo e depois elas pensam ‘espere, essa nova bandeira é o que eu amo agora’. Elas decidem que você está fazendo algo de errado, que você não representa mais o que deveria, que é um mau exemplo. Então se continuar fazendo música e sobreviver, e continuar se conectando com as pessoas, eventualmente eles levantam um pouco mais o mastro. E isso acontece mais com as mulheres do que com os homens na música”, completou.
Swift relembrou os momentos de turbulência na carreira e como ela lidava com os comentários sobre ela. “Quando eu tinha 18, eles diziam ‘ela não escreve mesmo todas essas canções’. Então no meu terceiro álbum eu escrevi tudo sozinha como uma reação a isso. Depois eles decidiram que eu era uma namoradeira em série quando tinha 22. Então eu não me relacionei com ninguém por uns 2 anos. E depois eles decidiram em 2016 que absolutamente tudo sobre mim estava errado. Se eu fizesse algo de bom, era pelas razões erradas. Se eu fizesse algo corajoso, não fiz da forma correta. Se eu me defendesse, eu estava de birra. Então eu me vi em uma cadeia sem fim de piadas. Então decidi não falar mais nada. Não foi necessariamente uma decisão. Foi involuntário”, afirmou.
Para ela, a fase Reputation acabou sendo como um “amor em meio ao caos”. “Eu vivi momentos lindos, na minha vida calma que decidi viver. E eu tive incríveis lembranças com meus amigos que sei que se preocupam comigo, mesmo que todos me odeiem. As coisas ruins foram significantes e prejudiciais, mas as boas vão durar. As boas lições – você percebe que você não pode apenas mostrar a sua vida às pessoas”.
Foi nesse ponto que ela começou a falar abertamente de sua relação com Kanye West, aproveitando para relembrar toda a trajetória em torno daquela confusão que ficou marcada na cultura pop e, recentemente, completou dez anos.
Para quem não se lembra, a cantora estava no palco do VMA de 2009 agradecendo por seu prêmio de Melhor Videoclipe Feminino quando West subiu ao palco e impediu que ela terminasse o que tinha a dizer, pegando o microfone de sua mão com o objetivo de defender Beyoncé, cantora que merecia o prêmio para ele. Tempos depois, uma “reconciliação” teria ocorrido em 2015, mas a situação não foi bem essa e acabou rendendo indiretas em músicas, farpas em entrevistas e também nas redes sociais. Por isso, a cantora aproveitou a conversa para falar sobre alguns tópicos que, até então, ela não tinha comentado.
“O mundo não entendeu o contexto dos eventos porque nada acontece sem uma orientação anterior. Alguns eventos aconteceram para me irritar quando ele me chamou de vadia. Esse não foi apenas um evento singular. Basicamente fiquei cansada da dinâmica entre ele e eu isso não foi baseado no que aconteceu naquela ligação e com essa música. Foi uma reação em cadeia. Começou quando eu senti que havíamos nos reconectado, o que foi ótimo para mim – porque tudo o que eu sempre quis em toda a minha carreira depois do que aconteceu em 2009 foi que ele me respeitasse. Quando alguém não te respeita tão claramente e diz literalmente que você não merece estar aqui – queria tanto esse respeito dele e odeio isso em relação a mim mesma – eu fiquei tipo ‘esse cara está contra mim, só quero a aprovação dele’. Era onde eu estava. Então nós íamos jantar e outra coisas. E eu fiquei tão feliz porque ele dizia coisas legais sobre a minha música. Parecia que eu estava curando alguma rejeição infantil ou algo assim quando tinha 19 anos”, afirmou Taylor.
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“Mas o VMA de 2015 estava se aproximando. Ele estava recebendo o Vanguard Award. Ele me ligou antes – eu não gravei ilegalmente então posso te mostrar – mas ele ligou talvez uma semana antes do evento e tivemos talvez mais de uma hora de conversa e ele disse ‘gostaria que você me desse esse prêmio, isso significaria muito pra mim’ e analisou todas as razões porque isso significaria tanto, porque ele pode ser muito gentil [quando quer]. Ele pode ser o mais doce. Então eu escrevi esse discurso e, quando chegamos ao VMA e eu faço o discurso, ele grita ‘a MTV trouxe Taylor aqui para me apresentar esse prêmio pela audiência’. As palavras exatas foram: ‘você sabe quantas vezes eles anunciaram Taylor para me entregar o prêmio ‘porque iria dar a eles mais audiência?’. E eu estava na plateia de braços dados com a esposa dele e esse frio correu pelo meu corpo. Eu percebi que ele tem duas caras. Que ele quer ser bacana comigo nos bastidores, mas quer parecer legal, ficar na frente de todos e falar merda. E eu estava muito chateada. Ele queria que eu fosse falar com ele depois do evento no camarim. Eu não iria. Então ele enviou essas grandes flores no dia seguinte como pedido de desculpas. E eu ‘quer saber? Eu não quero que fiquemos mal novamente. Então, seja o que for eu vou superar’. Aí quando ele me liga, eu me senti respeitada, e me fala sobre essa linha na música, eu pensei ‘ok, estamos de boas de novo’”, revelou Taylor.
A ligação e a linha em questão é a famosa conversa divulgada por Kim Kardashian na época do lançamento de “Famous”, faixa que integra o álbum The Life of Pablo, na qual Kanye West fala “eu e Taylor talvez ainda façamos sexo”. “E aí quando ouvi a música eu pensei ‘cansei disso tudo. Se você não quer manter um relacionamento bom, que não tenhamos, mas seja verdadeiro sobre isso’. E depois ele fez exatamente a mesma coisa com Drake. Ele atacou diretamente a trajetória da família do Drake e suas vidas. É a mesma coisa. Aproxima-se de você, ganha sua confiança, detona você. Eu realmente não quero mais falar sobre isso porque eu fico nervosa e eu não quero mais falar sobre coisas negativas o dia todo, mas é a mesma coisa. Veja o Drake falando sobre o que aconteceu”, encerrou.
Para Taylor, o importante foi que a calmaria chegou graças a todo o processo de criação e com a turnê de Reputation. “Aquela turnê me colocou no lugar mais saudável, equilibrado que eu jamais estive. Após a turnê, coisas ruins podem acontecer, mas elas não me diminuem mais. O que aconteceu meses antes com Scott poderiam ter me atingido três anos atrás e me calado. Eu tinha muito medo de falar. Algo nessa turnê me fez desviar de alguma parte da percepção pública em que eu costumava sustentar toda a minha identidade, que agora sei que é incrivelmente prejudicial”, afirmou. “É quase como se eu sentisse que o meu trabalho é ser artista [entreter as pessoas]. Não é essa coisa grandiosa que às vezes o meu cérebro interpreta e às vezes a mídia faz parte, onde estamos todos neste campo de batalha e todo mundo vai morrer exceto uma pessoa. Katy vai ser lendária. Gaga será lendária. Beyoncé será lendária. Rihanna vai ser lendária. Porque o trabalho que elas fizeram obscurece completamente a miopia desse ciclo de notícias de 24 horas loucas por cliques. E de alguma forma eu percebi isso em turnê, enquanto olhava o rosto das pessoas. Nós estamos apenas divertindo as pessoas, e isso deve ser divertido”, completou.
Após citar Scott Borchetta, a cantora falou sobre outra bandeira importante que ela tem defendido nos últimos anos, a luta por liberdade criativa. “Muitas das melhores coisas que eu criativamente já fiz foram aquelas que eu realmente tive que lutar – e quero dizer, lutar agressivamente – para acontecer. Mas sabe, não sou como ele [Scott], fazendo acusações malucas e mesquinhas sobre o passado. Quando você tem um relacionamento empresarial com alguém por 15 anos, haverá muitos altos e baixos. Mas eu realmente, legitimamente, pensei que ele me olhasse como a filha que nunca teve e que havíamos tido momentos realmente ruins, diferenças criativas. Eu queria ser amiga dele. Pensei que sabia como era traição, mas essas coisas que aconteceram redefiniram traição para mim porque parecia uma família. Ir do sentimento de ser encarada como uma filha para algo grotesco como ‘eu era realmente o bezerro premiado que ele estava engordando para vender ao matadouro que pagaria mais’”, comentou.
A entrevista não ficou só nos tópicos passados e Taylor aproveitou para falar também sobre a sua nova fase, representada pelo recém-lançado Lover. Perguntada sobre de onde viria inspiração para novas músicas caso a sua vida se acalmasse, a cantora foi bem direta: “não sinto que cheguei nesse ponto ainda. Acho que há uma possibilidade quando eu tiver uma família. SE eu tiver uma família. [Pausa] Não sei porque eu disse isso! Mas é o que eu aprendi com outros artistas que são protetivos com suas vidas pessoais, então eles retiram sua inspiração de outras coisas. Mas de novo, não sei porque disse isso. Porque eu não sei como vai ser minha vida ou o que farei, mas agora sinto que é mais fácil escrever que antes”, revelou.
“Cantar sobre algo ajuda você a expressar [os sentimentos] de uma maneira que pareça mais precisa. Você não pode de maneira alguma colocar palavras em uma frase e mover alguém da mesma maneira como se você as ouvisse com a representação sonora perfeita desse sentimento. Há esse conflito estranho em ser um compositor confessional e depois também ter minha vida, você sabe, há 10 anos, catapultada para essa coisa estranha da cultura pop”, afirmou Swift.
“Algo que tive que reconciliar comigo mesmo nos últimos dois anos, esse tipo de complexo de ser ‘boa’. Porque desde que eu era criança, tentava ser gentil, ser uma boa pessoa. Tentava muito, mas às vezes você é atropelada e como você responde? Não dá para simplesmente sentar, comer a sua salada e deixar pra lá. ‘I Did Something Bad’ é sobre fazer algo que eu era contra. Katy e eu estávamos falando sobre nossos signos [risos]. Claro que estávamos”, completou Taylor.
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Por fim, a sessão de terapia em forma de entrevista se encerra com a cantora falando sobre a reaproximação com Katy Perry. “Estávamos conversando sobre nossos signos porque tivemos uma conversa muito, muito longa quando estávamos nos reconectando. Lembro que na longa conversa ela disse ‘se tivéssemos com um copo de vinho branco estaríamos chorando’ porque estávamos bebendo chá. Tivemos boas conversas. Falamos sobre como tivemos problemas de comunicação com pessoas no passado, especificamente entre eu e ela. E ela ‘eu sou de escorpião. Os escorpianos atacam quando se sentem ameaçados’. E eu pensava ‘bem, eu sou uma arqueira. Nós literalmente recuamos, avaliamos a situação, processamos, levantamos o arco, puxamos para trás e disparamos. Então são maneiras completamente diferentes de processar dor, confusão, equívoco. E muitas vezes tive esse atraso em perceber que algo me machucava e a dizer que me magoava. Sabe o que quero dizer? Se você assistir ao VMA de 2009 eu literalmente congelo. Eu estou parada lá. E é assim que eu lido com qualquer desconforto, fico lá, congelada. Mas cinco minutos depois eu sei como me sinto”, comentou.
Além da longa conversa, a entrevista rendeu belas fotos que ilustram a matéria e foram feitas por Erik Madigan Heck. Vale lembrar que, nesta semana, Taylor Swift confirmou a passagem da turnê de Lover pelo Brasil em julho do ano que vem, com apresentação em São Paulo.