Eu confesso: um dos discos mais falados e badalados do ano passado não me cativou tanto assim de cara; eu estou falando de ASTROWORLD, do agora mundialmente famoso Travis Scott. É claro que canções como “SICKO MODE” e “YOSEMITE” me conquistaram, por suas sua sonoridades bastante fáceis de se sentir atraído, sendo poderosos hits. Porém, o álbum me parecia uma tentativa (elogiável, mas bastante confusa) de Travis em entregar algo grandioso. Isso é o que eu pensava até escutá-lo novamente há pouco tempo, e principalmente após assistir o documentário sobre o rapper na Netflix, Travis Scott – Voando Alto.
Minha primeira volta a ASTROWORLD
Antes de fazer a ligação entre o que exibe o documentário, e consequentemente o que ele me fez ver de outra forma em relação ao álbum, eu vou voltar há alguns meses, quando escutei mais uma vez ASTROWORLD. O disco não é fácil, ainda mais pra quem é fã de uma linhagem mais conservadora dentro do hip-hop. Ele é cheio de experimentações, que demandam certo tempo até que o ouvinte as abrace; as inúmeras transições dentro de uma só faixa, como em “SICKO MODE” e “STARGAZING”, sem dúvida é uma assinatura positiva do álbum, e que agora eu consigo enxergar com bons olhos.
Outro ponto que eu não havia conseguido reparar, é como que, mesmo com seus exageros, ASTROWORLD consegue ser extremamente pessoal e intimista. Desde “R.I.P. SCREW”, faixa em homenagem a DJ Screw, um dos heróis musicais de Travis, até “WAKE UP”, com seus versos que funcionam como uma declaração a Kylie Jenner, sua namorada: ambas conseguem explorar uma camada bastante sensível de Travis, que por trás de uma suposta megalomania, se mostra até certo ponto frágil.
Agora sim, eu posso falar sobre como “Voando Alto” me fez revisitar ASTROWORLD de uma outra maneira.
O amor de Travis Scott por suas raízes
Em diversos momentos do documentário, é mostrado como a família e a própria cidade de Houston tem uma grande influência na vida de Travis. Uma das cenas mais interessantes é justamente uma gravação caseira em que o rapper é filmado ainda criança no parque Six Flags Astroworld, que posteriormente seria fechado; essa parte, sem dizer muito, exibe o quanto a cidade é importante pra ele.
Trazendo para o universo do álbum, esse fator torna o projeto ainda mais pessoal; há uma grande carga emocional em ASTROWORLD, e não à toa: esse é o disco que Scott sempre sonhou fazer. É óbvio que só isso não seria capaz de transformar o projeto em algo bem pensado; por outro lado, esse novo contexto o torna ainda mais sentimentalista, e bastante sincero se analisado por esse ponto.
A capacidade de Travis em criar canções grandiosas
Se tem algo que ficou claro pra mim após assistir o doc, é a capacidade de Travis em entregar canções grandiosas; uma prova disso são as imagens de seus shows insanos que envolvem o público (nesse sentido, espero que os boatos sobre a vinda dele ao próximo Lollapalooza Brasil se confirmem verdadeiros). Dá pra falar tranquilamente que Travis Scott entrega as melhores apresentações ao vivo do mundo, mesmo as assistindo apenas por vídeos, já que é por causa de suas músicas (especialmente as de ASTROWORLD) que ele consegue criar essa atmosfera especial.
Nesse sentido, um dos maiores méritos de ASTROWORLD é conseguir criar canções cheias de experimentações e ao mesmo tempo que conseguem ser acessíveis/de arena, com letras fáceis de arrebatar qualquer multidão, além de possuir uma sonoridade única e psicodélica, que flutua por vários gêneros. Não é qualquer artista que cria músicas como “ASTROTHUNDER” e “STOP TRYING TO BE GOD”.
ASTROWORLD é um dos discos mais importantes da década
Por fim, o documentário e essa revisita ao álbum me fez chegar a uma conclusão que, juntando todas as peças desse quebra-cabeça que constroem ASTROWORLD, se tornam óbvias: quando escutamos o álbum, estamos diante de um dos melhores e mais importantes álbuns de hip-hop e consequentemente da música na década.
Mesmo com todos os seus exageros, Travis demonstra ser um artista que consegue seguir em diversas direções, e que naturalmente pode se transformar em um dos maiores nomes do rap dessa geração. ASTROWORLD é um parque de diversões em forma de 17 faixas, e por trás de cada nova ouvida, ele se confirma cada vez mais impactante e um marco dos últimos anos.