Entrevista realizada por Juliana Vannucchi e Gabriel Marinho.
Gabriel Casagrande é um artista de destaque. Após colaborar com diferentes bandas e músicos, atualmente faz parte do The Kram, um grupo que está conquistando cada vez mais visibilidade e reconhecimento. Batemos um papo com o Casagrande para conhecer melhor a sua trajetória e o resultado disso você acompanha logo abaixo.
Casagrande, atualmente, na banda The Kram, você toca baixo. Quais outros instrumentos você sabe tocar?
Meu principal instrumento é o contrabaixo elétrico, mas também toco contrabaixo acústico, ukebass (um híbrido de ukelele com contrabaixo que utiliza cordas de borracha), violão, guitarra e percussão em geral.
Quais são as suas principais influências musicais?
A primeira vez que “senti” conscientemente o que era uma música, nunca irei esquecer. Tinha por volta de seis anos de idade, estava na casa de meus primos e jogávamos Donkey Kong Country 2, no Super Nintendo. Em determinado momento do jogo, para acessar um mundo especial, os macacos precisam subornar um jacaré chamado “Klubba” para adentrarem um barril dourado. O nome da música é “Klubba’s Reveille”. A partir desse dia, comecei a prestar muita atenção em OSTs (Original Soundtracks) dos jogos que tive a oportunidade de conhecer – faço isso até hoje. Para além das OSTs de vídeo games (principalmente esses mais antigos), minhas influências englobam desde black metal e sertanejo raiz até música clássica e funk. Tem muito tempo desde que percebi a tolice de se prender a este ou aquele gênero musical: tento agregar às minhas técnicas o maior número de gêneros quanto for possível. Porém, se eu tivesse que fazer um “top cinco influências”, não necessariamente nessa ordem, escolheria: Michael Angelo Batio, MayheM, Davie504, Mindless Self Indulgence e Casiopea.
Em quantas bandas já tocou? Poderia nos contar um pouco sobre os projetos musicais dos quais já participou?
Já toquei em muitos projetos, é até complicado me recordar de todos, quanto mais enumerá-los. Um projeto que me marcou bastante foi a Road Neck, uma banda que tocava covers dos anos 60, 70 e 80. Nessa banda, além d’eu ter melhorado minhas habilidades como baixista em caráter considerável, também aprendi mais sobre relações humanas e como elas podem ser complicadas e independentes de nossa vontade. Outro projeto que gostei muito de participar foi o Pink Clouds, com um grande chegado meu; infelizmente o projeto esfriou por problemas de saúde desse meu amigo. Um último projeto, do qual eu não participo mais, é A Transgressão. Neste, assim como ocorreu com a Road Neck, aprendi muito sobre relações humanas. Os projetos que atualmente estou envolvido são: Quick Time Band (banda de covers 60’,70’ e 80’), fundada por um amigo do amigo do meu pai, nos conhecemos por acaso e ele adorou meu groove; The Kram (punk com elementos de psychobilly e psicodelia). Formada em Sorocaba, em 28 de fevereiro de 2018, consiste em três integrantes, Mark Tofolo (vocal e guitarra) Luiz Mello, (percussão e bateria) e Gabriel Casagrande (contrabaixo); e, por fim, também estou na Marafo de Exu (punk, hardcore, crossover, thrash), formada em 2016 e também possuindo três integrantes, Lucas “Frango” (vocal e guitarra), Kauan Bonini (bateria) e Gabriel Casagrande (contrabaixo).
Como você entrou para a banda The Kram?
De um jeito que rio só de lembrar. Eu tenho o hábito de sempre levar um instrumento comigo quando saio de casa, certo dia encontrei o Mark (que estava com um violão) e fizemos um som de maneira descompromissada, um improviso. Após esse dia ficamos um bom tempo sem nos falarmos. No início desse ano eu conheci o antigo baterista do The Kram, pois estudava com a namorada dele. Ele comentou que a banda dele estava procurando um baixista e eu aceitei após ouvir a proposta sonora. Quando nos encontramos, fiquei muito surpreso de ver que “aquele cara que fiz um som”, que eu sequer sabia o nome, era o frontman da banda. Nos demos super bem logo de cara! No primeiro ensaio adoraram os riffs que inventei para as músicas (que até então não tinham track de contrabaixo) e, desde então, estou na banda.
Qual foi o show mais marcante que já fez em sua trajetória na banda?
O último show do The Kram me marcou muito. Foi a primeira vez que fiz um solo improvisado em cima do palco, e durou bastante. Esse último show foi o que abriu as portas para eu entrar na Marafo de Exu, inclusive. O primeiro show que fizemos também foi ótimo, a energia do local estava contagiante, todos alegres e com as músicas sincronizadas entre os membros da banda.
A banda The Kram é trabalha aos moldes da ideologia DIY? Você considera que seja uma banda underground? Como você define o “underground”?
Sim, inclusive estamos trabalhando no lançamento de nosso primeiro álbum, previsto para esse ano. Sem selo, sem gravadora, tudo por nós mesmos. Considero o The Kram como uma banda underground, para mim o som underground é aquele que possui letras e/ou riffs não apetecíveis à mídia mainstream. Além disso, possui produção independente das grandes gravadoras e afins.
Como você enxerga a relação entre a música underground e os meios de comunicação de massa? É possível conciliá-los? Até que ponto? Muitos artistas do cenário underground reclamam que tais meios não dão espaço para eles…
Tudo é passível de conciliação. A questão é a perda ou ênfase da essência inicial do projeto. De fato, os grandes meios não dão espaço, porém, é uma característica dialética, ao mesmo tempo o espaço não é conquistado pelo cenário underground, explico: é óbvio para alguns, mas até no meio underground existem rivalidades e “panelinhas” e creio que essa desunião é um forte fator de impedimento para certos grupos underground alcançarem a “superfície”. Eu apenas gostaria de salientar que, para mim, tanto faz ser ou não ser underground. Atualmente minha intenção em participar de qualquer projeto musical é apenas expandir minha virtude enquanto praticante de arte e estudante de música.
Em que sentido você acha que a internet pode ser favorável e desfavorável para um músico?
Pode ser favorável como método de estudo e divulgação. Desfavorável, considero eu, apenas em fatores que qualquer outro meio se torna desfavorável, ou seja, só é desfavorável quando o usuário não sabe dominar a ferramenta: seja perdendo tempo com frivolidades, seja estudando de maneira errônea (com métodos que não o satisfazem intelectualmente, mesmo que o estudante não perceba) e afins.
O que faz um indivíduo se tornar músico: talento, treino, críticas ou uma certa dosagem de tudo isso?
Pode ser tudo isso e muito mais, ou nada disso e alguma outra coisa. Eu realmente não sei. Mas, sei o que me fez pegar num instrumento pela primeira vez, dois vídeos de “como tocar” chamados: Doug Marks’ Metal Method – Michael Angelo Batio – Speed Kills (I e II). Simplesmente fiquei maravilhado com a precisão, harmonia e velocidade do guitarrista. Então, se posso afirmar algo sobre como se tornar músico, com certeza afirmo: veja outros músicos, tente aprender o que puder com eles. E isso vale para qualquer área de conhecimento que o estudante tenha como objetivo.
Aqui vai uma pergunta “clássica”: o Punk ainda está vivo?
Vamos supor que, quando me pergunta isso, refere-se ao punk enquanto música (não ao punk enquanto cultura, ideologia, estilo, etc); o que é “estar vivo” quando falamos de gêneros musicais? Eu realmente não sei responder essa pergunta. Se “estar vivo” consiste em “manter sua essência original”, com certeza o punk está não somente morto, mas já devorado por larvas até o último de seus ossos. Se “estar vivo” representa a evolução dialética inerente às existências, o punk permanece vivo e se reinventando a cada dia com excelentes bandas como Rancid, Rise Against e The Kram.
Se pudesse dividir o palco com algum músico, quem escolheria?
Alguém categoricamente melhor que eu, musicalmente falando. Se eu tivesse que escolher um nome, seria Paul McCartney.
Quais são os planos para esse ano?
Esse ano pretendo lançar o primeiro álbum com o The Kram. Também pretendo começar aulas de contrabaixo erudito (nunca fiz aula de contrabaixo).