Quais foram os melhores álbuns lançados em setembro?
A nossa lista com alguns dos destaques do nono mês do ano demorou, mas finalmente chegou com trinta e oito trabalhos nacionais e internacionais que resumem bem como agosto foi interessante musicalmente. Como você já deve estar acostumado, cada álbum escolhido pelo nosso time recebe uma mini-resenha visando explicar os motivos que os credenciam para essa seleção.
Entre os escolhidos, temos os novos álbuns de veteranos como Elza Soares e Iggy Pop, a volta do Keane, o debut solo da Brittany Howard, novidades de Liam Gallagher, Korn, Charli XCX, blink-182 e Post Malone, além de outras coisas bem legais lançadas ao longo do mês.
Você confere abaixo a nossa lista com os 38 álbuns lançados em setembro que você deveria ouvir. É só dar play e ser feliz, fechado?
# This Summer [EP], da Alessia Cara
Com This Summer, Alessia Cara faz um pop solar que é ideal para ouvir no verão, ou se despedindo dele, como o próprio título do EP explana. As seis faixas combinam entre si, com mensagens positivas e ritmos que têm influências que vão do reggae ao soul. Dentre elas, destaco “October”, que transmite um clima super nostálgico, ótimo para aquela road trip e que é a preferida da própria artista. A canadense de 23 anos, que inclusive merecia mais reconhecimento no mundo pop, escreveu todas as músicas deste trabalho e recentemente lançou o clipe de “Rooting For You”, que é uma divertida representação da vibe alto astral do álbum. [VC]
# Little Eletric Chicken Heart, da Ana Frango Elétrico
Menos de um ano após o lançamento de Mormaço Queima (2018), Ana Frango Elétrico retorna com Little Eletric Chicken Heart. Espécie de continuação do álbum anterior, as músicas flertam com o imprevisível, com arranjos experimentais utilizados em desencontro, causando uma confortável surpresa ao ouvinte. Em semelhança ao primeiro trabalho, Ana Fainguelernt mantém a irreverência em suas letras, de forma que deixam de ser apenas palavras e caem muito bem como um instrumento vocálico. Da divertida “Tem Certeza?” até a melancólica “Torturadores”, a artista firma sua identidade de multifacetas, entregando um trabalho de diversas camadas que se desdobram a cada nova execução. [BS]
# Will You Be My Yellow?, do Bakar
Artista revelação de Londres, o cantor é impossível de classificar, e é justamente isso que faz sua arte tão especial. Cheio de personalidade, Bakar consegue misturar com muito bom gosto indie rock, punk rock, hip hop, rap, R&B e o que mais lhe der na telha. Ele ficou famoso com a música “Big Dreams” que, de acordo com o tribunal da internet, seria uma trilha sonora perfeita para o jogo FIFA. É verdade que ele tem muitas músicas canções de ouvir, mas passa longe do pop fofinho radiofônico mainstream, além de também apresentar umas pedradas de vez em quando (procure o vídeo dele no canal COLORS. Vale a pena!). Bakar foge de qualquer estereótipo e, mesmo sendo muito comparado ao Kele Okereke (Bloc Party), esse segundo disco veio justamente para provar que ele pode muito mais. Will You Be My Yellow? começa com Bakar declamando um poema, segue para um R&B tão delícia e de pegada vintage que também poderia estar na trilha sonora de qualquer produção audiovisual, e continua com canções bem cruas voz e violão ou com uma pegada mais black (sinto referências de Anderson .Paak e Daniel Caesar). É um disco nu e sincero. [BM]
# Lost Girls, da Bat For Lashes
Em seu novo trabalho sob a alcunha Bat For Lashes, a britânica Natasha Khan entrega aquele que pode ser considerado como o seu registro mais honesto até o momento. Com dez faixas, Lost Girls é extremamente oitentista em sua sonoridade, mas sem soar datado ou antigo. Nele, canções como “Feel For You”, “Mountains” e “Safe Tonight” são alguns exemplos de destaque por conta de sua consistência e beleza, o que faz do registro algo que mereça ser ouvido com atenção. [JP]
# Days Of The Bagnold Summer, do Belle and Sebastian
Days Of The Bagnold Summer é o nome da trilha sonora feita pelo Belle and Sebastian para o filme de mesmo nome e, talvez, a sua compreensão completa esteja totalmente atrelada a necessidade de se assistir a obra. No entanto, as suas treze faixas também funcionam de formas soltas, como uma boa coletânea de músicas com narrativas interessantes, momentos melancólicos, mas eficientes. Um novo álbum do Belle and Sebastian é algo bom demais para que se faça qualquer tipo de reclamação, não é mesmo? [JP]
# Igreja Lesbiteriana, Um Chamado, da Bia Ferreira
Mineira radicada em Sergipe, Bia Ferreira fala sobre racismo, feminismo, relacionamentos e a sua vivência como mulher lésbica em Igreja Lesbiteriana, Um Chamado. Com nove faixas, os destaques ficam por conta de “Não Precisa Ser Amélia”, “Cota Não é Esmola” e “De Dentro do AP”, momentos nos quais Bia mostra a força de suas letras e de sua voz. [JP]
# NINE, do blink-182
Essa banda dispensa apresentações! O novo álbum do blink-182 é carregado de nostalgia e, apesar de parecer mais nítida a “falta” de Tom Delonge nos vocais, Skiba cumpre muito bem o papel que se propõe a fazer. A sonoridade de NINE, resgata sentimentos e sensações de velhos tempos da banda, em especial, a fase dos álbuns Take Off Your Pants And Jacket (2001) e blink-182 (2003). Essa impressão fica ainda mais clara ao ouvir canções como “The First Time” e “Darkside”, que poderiam facilmente integrar os álbuns citados. O fato é que NINE, de alguma forma, passa por todas as fases da banda resgatando elementos de álbuns anteriores e nos deixando com um sentimento saudosista dos tempos áureos da nossa adolescência. O difícil é destacar as melhores músicas desse álbum, mas se você for escutar, não deixe de dar uma atenção especial a músicas como “I Really Wish I Hated You” – uma clara “alfinetada” em Tom Delonge e o single mais recente desse álbum -, “No Heart To Speak Of”, “On Some Emo Shit”, “Remember To Forget Me” e “Heaven”. [JS]
# Jaime, da Brittany Howard
A Brittany Howard não é uma cantora, é uma entidade. É talento demais pra uma pessoa só, tanto que ela transbordou a criatividade da sua incrível banda, o Alabama Shakes (cujas canções são basicamente todas compostas por ela), para fazer seu primeiro disco solo. Muito pessoal e autobiográfico, Jaime não tem medo de expor dores, defeitos e fraquezas nas letras, contando várias histórias vividas por Brittany, e por isso mesmo soa tão honesto e genuíno. O som mistura diversas referências da música negra estadunidense, do funk ao soul, sem nunca deixar o blues de lado – gênero que, inclusive, é super presente no Alabama Shakes, mas lá mais misturado com pitadas de rock, enquanto no álbum solo os destaques são funk, jazz, R&B e Hip Hop, com grandes doses de sintetizadores e teclas. É um disco lindo, emocionante e apaixonante do começo ao fim, que só nos faz admirar e amar ainda mais a grande artista que é Brittany Howard. Imperdível. [BM]
# Sermão, do Castello Branco
Sermão é o terceiro álbum de estúdio do cantor e compositor carioca Castello Branco e serve como encerramento de uma trilogia iniciada em 2013, com o lançamento do álbum Serviço. Até por isso, o novo trabalho dialoga bastante com o começo de carreira de Castello, se mostrando mais alegre e ensolarado que o Sintoma (2017). Produzido por Ruben di Souza, o álbum conta com onze faixas que buscam criar um refúgio para o ouvinte em meio aos tempos em que vivemos e cumpre bem o seu papel. Destaque para as faixas “Cola Comigo” e “Uma Flecha Para o Futuro”. [JP]
# APKÁ!, da Céu
Três anos após o futurista Tropix, Céu presenteia a música brasileira com seu quinto álbum de estúdio, APKÁ!, impactante trabalho composto por 11 faixas. Nele, percebe-se que Céu revisita o passado e transita por diversos estilos já abordados anteriormente, como em “Coreto” — composta em parceria com Gal Costa — e “Corpocontinente”, eletrônicas como o trabalho anterior. O álbum passa bem por diversos momentos como o pop rock dançante “Forçar o Verão” e “Off (Sad Siri)”, explorando ao máximo sentimentos de uma vida íntima. Para os mais saudosos, “Pardo” (composição de Caetano Veloso) tem um quê do álbum Vagarosa, segundo registro de estúdio da artista. As participações marcantes de Dinho Almeida (“Make Sure Your Head Is Above”) e Tropikillaz (“Eye Contact”) contribuem para a grandiosidade do disco. APKÁ! é um álbum forte capaz de levar aos extremos das sensações, mensagem muito bem captada pela artista ao ouvir o filho exclamar a palavra em momentos de grande alegria. [BS]
# Charli, da Charli XCX
Cinco anos após o lançamento de seu último álbum, Sucker, Charli XCX retorna com o produto de todo experimentalismo pop presente em suas mixtapes. Charli, seu álbum self-titled, é despretensioso e cheio de colaborações, uma pletora de sonoridades extremamente texturizadas em uma carta de amor à todas as possibilidades da música eletrônica. [MG]
# Birth of Violence, da Chelsea Wolfe
Em seu sexto registro de estúdio, a norte-americana Chelsea Wolfe deixa clara a sua constante evolução. Birth of Violence é um daqueles álbuns que vai te prender por sua sonoridade, pelas composições e por toda a estética em torno de sua apresentação. Ao longo das 12 faixas, Chelsea é capaz de agradar o seu fã mais apaixonado e também deixar a porta aberta para que novas pessoas entrem, conheçam e se apaixonem por seu trabalho. Ainda que menos “apoteótico” que álbuns anteriores, Birth of Violence é mais uma amostra de todo o potencial de Wolfe, que consegue mesclar folk com rock gótico como poucas. [JP]
# Valve Bone Woe, da Chrissie Hynde
A Chrissie Hynde ficou famosa com sua banda The Pretenders e abriu muitos caminhos para mulheres na música porque, além de cantar, sempre compôs e tocou guitarra, estando à frente de uma banda de rock em tempos ainda mais machistas. Ela sempre foi super descolada e, aos 68 anos, continua criando e solta um disco solo classudo e longo, com 14 faixas, que já abre com um blues rasgado e sexy. Fugindo do rock e da sua zona de conforto, o álbum segue por esse clima sensual e fino do jazz. É um clima de sofrência, de dor de cotovelo, mas sempre muito chique. O cover da canção instrumental “Meditation on a Pair of Wire Cutters”, do Charlie Mingus, brilha entre as faixas. Há também um cover da icônica banda inglesa The Kinks (“No Return”), contando com participação do próprio Ray Davies – com quem Chrissie já foi casada e tem uma filha – e uma música em francês tão linda que até arrepia. Para encerrar, uma outra curiosidade: você sabia que a Chrissie já morou no Brasil? Ela ficou em um apartamento no histórico edifício Copan, bem no centro de São Paulo. Isso foi em 2004, quando ela passou um tempo tocando com o Moreno Veloso (filho de Caetano). Não tem como ser mais cool que a Chrissie. [BM]
# The Blue [EP], do Death Cab For Cutie
De fato, às vezes Death Cab For Cutie pode soar meio monótono ou depressivo, mas em The Blue, parece que a banda conseguiu achar o equilíbrio perfeito entre essas coisas, tornando as canções agradáveis e até relaxantes. É perceptível influências de rock anos 60 e elementos que parecem ter saído de “efeitos sonoros de um filme” dessa mesma época. A boa construção dos solos de guitarra e a voz suave do vocalista, completa o combo de coisas boas desse EP. As músicas “Kids in ‘99”, “Before the bombs” e “Blue bloods” merecem ser ouvidas com atenção, em especial a última citada, que apresenta um belo e extenso solo de guitarra com uma vibe que lembra até um pouco de uma antiga época do U2. Apesar de trazer boas músicas, qualquer canção do álbum anterior da banda, Thank You For Today, é com certeza muito superior a qualquer uma das canções apresentada nesse EP. [JS]
# Ma, do Devendra Banhart
Diversas línguas são entregues por Devendra Banhart em seu novo álbum de estúdio. Com treze faixas, Ma tem a mistura e a experiência como o seu ponto de partida. Seja nas letras ou na sonoridade, o músico oferece ao ouvinte uma experiência bem interessante e que combina muito com a história de Devendra. Bem produzido, Ma é divertido e romântico ao mesmo tempo que nos dá doses de melancolia e excentricidade, sem que isso faça com que o álbum perca a sua unidade. É folk, é bossa nova, é latino, tem pitadas de músicas japonesas… e funciona. [JP]
# Twenty Twenty, do Djo
Twenty Twenty é o álbum de estreia do Djo, nome adotado pelo Joe Keery, músico e ator norte-americano que ficou conhecido por interpretar Steve Harrington na série Stranger Things, da Netflix. Com doze faixas, o debut de Djo não decepciona, ainda que seja fácil perceber que bandas como Tame Impala, MGMT e The Voidz são algumas de suas influências. No entanto, o músico parece ter peneirado bem cada uma delas em busca de bons elementos para a sua sonoridade. É um resultado que surpreende. [JP]
# Planeta Fome, da Elza Soares
Em seu 34º trabalho de estúdio, Elza Soares resolveu cantar o Brasil em suas nuances mais problemáticas. Com capa feita por Laerte e produzido por Rafael Ramos, Planeta Fome vai do samba ao rock, passando pelo rap e por diversos elementos regionais da música brasileira, resultando em um trabalho atual e que dialoga diretamente com o que se passa no país. Falando sobre as mazelas políticas e sociais que são pautas frequentes em seus trabalhos, o novo álbum de Elza é ainda mais incisivo na sua linguagem, fazendo dele uma das obras nacionais mais importantes de 2019. [JP]
# REAL LIFE, da Emeli Sandé
Inspirador e motivacional. Talvez essa seja a melhor forma de definir o terceiro álbum de estúdio da britânica Emeli Sandé. Com o nome de REAL LIFE, o registro conta com onze faixas bem interessantes que mesclam o Pop já conhecido da cantora com elementos de reggae, blues, disco e gospel. Tudo isso aliado a voz sempre marcante de Emeli, resultam em um álbum coeso e que vale a pena ser ouvido. Sandé parece ter deixado de lado a necessidade de buscar por um novo hit como “Next To Me” e construiu uma obra marcante e capaz de emocionar. “Survivor” que o diga. [JP]
# Miracle Pill, do Goo Goo Dolls
Vinte e um anos após ganharem o mundo com “Iris”, parece que Johnny Rzeznik e Robby Takac estão prontos para dar um próximo passo na carreira com o Goo Goo Dolls. Após uma sequência de álbuns irregulares, os norte-americanos lançam o seu coeso e interessante décimo segundo registro de estúdio, Miracle Pill. Com onze faixas, é um trabalho que conta com a essência carregada pela banda desde o fim dos anos 80 mas que consegue dialogar com o mainstream atual. Tem lá suas pitadas de rock de arena e algumas construções que lembram o Imagine Dragons – “Fearless” é um grande exemplo disso – que podem dar uma oxigenada em sua base de fãs. No entanto, o destaque segue sendo os momentos em que o Goo Goo Dolls relembra os bons momentos da carreira, como em “Money, Fame & Fortune” e “Step In Line”, faixa que mantém viva a tradição de canções cantadas por seu baixista. [JP]
# Free, do Iggy Pop
Iggy Pop podia viver de passado, mas escolheu continuar criando, se reinventando e se desafiando, e merece muito respeito por isso. Aos 72 anos, ele continua super ativo e surfa na contramão da sua geração, apresentando um programa de rádio incrível na BBC, sabendo usar muito bem as mídias sociais (Biggy, seu pássaro de estimação, ganhou um Instagram só dele) e agora traz um álbum novo só de inéditas, surpreendendo com o vocal ainda muito poderoso – isso sem contar os shows mega enérgicos e intensos. Free tem muitos elementos de jazz, muito sopro, e não é a mesma pegada garageira dos Stooges e do Iggy solo que você já conhece, mas também não deixa o rock de lado, nem a sensualidade tão característica de um dos maiores artistas e cantores de todos os tempos, com uma das vozes mais marcantes. Acho o Iggy subestimado e Free prova que ele continua criativo, à frente de seu tempo, ligado em tudo que está acontecendo e fazendo música boa como sempre. Vida longa a Iggy Pop! [BM]
# Mais Que Os Olhos Podem Ver, da Jade Baraldo
A Jade Baraldo começou com ótimos covers no YouTube, se destacando desde o começo por cantar muito e também por sempre dar um toque pessoal às músicas. A sensualidade está sempre presente, e nesse primeiro álbum cheio isso não é diferente – sem tabu, preconceito e vergonha, ela fala de sentimentos, sexo, relacionamentos e autoconhecimento. O som é pop, bem pop, mas com muitas referências de jazz, hip hop e R&B (sim, tem aquelas batidinhas de trap também). Em alguns momentos, tem violão acústico remetendo às suas origens e também elementos de reggae e música latina, mas não foge muito do que anda tocando no rádio. No entanto, é muito bom ver uma artista ainda tão jovem que mantém sua essência e reforça essa bandeira de desmistificar assuntos que poderiam ser polêmicos, naturalizando os corpos e comportamentos humanos em uma época em que a sociedade parece andar para trás e se tornar cada dia mais pudica. E o vocal dela é indiscutivelmente lindo, poderoso e único. Autenticidade a Jade tem. Coragem também. [BM]
# ft (pt.1), do Jaloo
O talento e a voz do cantor brasileiro é algo inegável, mas esse álbum mostra muito além do potencial que Jaloo tem a nos oferecer. Com 11 músicas, ft (pt.1) já nos surpreende em “Dom”, primeira faixa do álbum, pelo feat com nada mais, nada menos do que a poderosíssima Karol Conká e Pedrowl, uma espécie de “baladinha com rima” com direito a partes em espanhol. O álbum segue com a ótima e dançante “Q.S.A”, com a participação de Gaby Amarantos, e “Céu Azul” que, além de uma bela canção, merece destaque por sua letra forte e a bela voz de MC Tha.
Vale dar uma atenção especial também para as canções “Doi d+”, a deliciosa “Sem Você”, que conta com a participação especial de Diogo Strausz e da cantora Céu, “Say Goodbye” e a belíssima “Eu te amei (Amo!)”, com participação de Dona Onete e Manoel Cordeiro. Como um todo, é um álbum fluído, agradável aos ouvidos e com boas participações especiais. [JS]
# Cause and Effect, do Keane
Sabemos que as canções do Keane são carregadas com uma dose de monotonia (o que não é ruim, desde que seja na medida certa), sempre com belas letras e alguns bons hits. Acontece que em seu novo álbum, parece que a banda “perdeu um pouco a mão” e as coisas saíram um pouco diferentes. Depois de todo esse tempo aguardando alguma novidade, esse álbum definitivamente não atende totalmente às expectativas e pode até ser um pouco decepcionante, quando ouvido pela primeira vez ou até que você se acostume com as mudanças feitas pela banda. As faixas soam “melancólicas demais” e podem se tornar um pouco maçantes. Cause and Effect não lembra nem de longe o velho Keane dos hits “Everybody’s Changing” e “Somewhere Only We Know”, clássicos consagrados da banda. Apesar disso, Cause and Effect tem boas canções como “Love Too Much”, “The Way I Feel”, “Chase The Night Away”, “Stupid Things” e “I’m Not Leaving”, que não devem passar despercebidas de jeito nenhum, mesmo se você não for um fã fervoroso da banda. [JS]
# The Nothing, do Korn
Três anos depois de seu último lançamento, a veterana banda de nu metal volta com um álbum de inéditas para alegria dos fãs, que andam fazendo boas críticas ao disco novo. The Nothing abre com uma gaita de foles (!) e um cara sofrendo, bem bizarro, mas logo na sequência vem a pedrada “Cold”, bem a cara do Korn. Com 25 anos de estrada, a banda mantém sua identidade sonora nesse 13º álbum, mesmo com algumas experimentações pelo caminho da carreira. O som não é uma grande novidade, no entanto – e pode ser por isso mesmo que continue agradando tanto os fãs já fiéis, mantendo as origens. O disco é grandioso, forte, e impecavelmente produzido, dando destaque para todos os elementos das músicas. É para ouvir bem alto batendo cabeça, mesmo. Nas letras, é difícil não pensar em uma ligação com a grande perda que Jonathan Davies, o vocalista, teve no ano passado, quando sua esposa faleceu acidentalmente. Deven Davis morrem em 2018 com apenas 39 anos depois de tomar uma mistura letal de remédios e drogas. Mesmo assim, em The Nothing, o vocal de Jonathan brilha mais do que nunca, apesar do luto. Pode ser que o disco tenha sido uma catarse para ele, sem querer normalizar o sofrimento do artista, que nada tem a ver com a qualidade do trabalho, como por muito tempo se pensou. Mas a música pode sim ser terapêutica. [BM]
# Why Me? Why Not., do Liam Gallagher
Esse disco parece que veio para o Liam Gallagher se vingar, depois de muito ter sido apontado como o elo mais fraco da dupla que era o coração do Oasis, sempre comparado ao irmão Noel. Isso porque, apesar da boa banda Beady Eye que Liam montou após o fim do Oasis, os discos de Noel em carreira solo brilharam mais do que os dele. Mas, agora, com Why Me? Why Not., Liam resgata seu orgulho e oferece aos fãs sedentos por uma reunião da banda um som o mais próximo possível ao que era o Oasis. Muitos elementos de britpop, Beatles, anos 60, orquestrações, guitarras cheias de fuzz, baladas mais românticas, refrões explosivos e grudentos estão presentes nesse segundo disco solo dele. Liam alcançou a glória de novo, brilhou no Glastonbury de 2019 e bateu o recorde de single mais vendido do Reino Unido esse ano com “Shockwave”, canção que abre o disco. Ah, o álbum também ficou em primeiro lugar logo após seu lançamento, recebendo disco de prata já na primeira semana. Liam deve estar feliz. Não deixe de ouvir “Glimmer” e “Halo”. [BM]
# Lúcio Maia, do Lúcio Maia
Conhecido por seu trabalho na Nação Zumbi, o guitarrista Lúcio Maia resolveu percorrer novos caminhos. O músico lançou em setembro o seu primeiro álbum solo, que leva o seu nome. Com oito faixas instrumentais, o álbum conta com sete faixas autorais e uma releitura de “Lithium”, do Nirvana. Em comum, as músicas deixam claras as influências de salsa, merengue e de outros ritmos caribenhos, além da surf music e da guitarrada paraense. O resultado é bem interessante de se ouvir! [JP]
# DSVII, do M83
Em sua nova produção sob o nome M83, o francês Anthony Gonzalez apresenta um álbum instrumental impecável com conceito sci-fi. Digno da trilha sonora do remake vindouro de Duna, o álbum remete também ao imaginário pós-apocalíptico presente nas capas feitas por Roger Dean para os britânicos do Yes. Destacam-se as faixas “A Bit Of Sweetness” e “Goodbye Captain Lee”, uma homenagem a épica obra de Ryuichi Sakamoto, Merry Christmas, Mr. Lawrence. [MG]
# K-12, da Melanie Martinez
A tão aguardada continuação de Cry Baby nos deixou cheio de ansiedade sem saber muito o que esperar, mas quando chegou atendeu parte das expectativas: K-12 é um álbum bem produzido, com conceito bem construído, com direito a filme e tudo que tem direito no bom e velho estilo Melanie Martinez. Apesar disso, o álbum se mostra fraco em relação ao seu antecessor na questão musical. As canções são boas, mas soam como “mais do mesmo”, nada do que já não tenhamos visto antes se tratando da cantora. As faixas “The Principal”, “Drama Club”, “Strawberry Shortcake”, “Lunchbox Friends” e “High School Sweethearts” são as que me parecem mais “inovadoras”, tendo em vista o histórico de produções anteriores de Melanie. Em suma, está longe de ser um álbum ruim, porém com toda expectativa em torno do lançamento, era esperado alguma novidade mais concreta. [JS]
Metronomy Forever, do Metronomy
Em seu sexto álbum de estúdio, os britânicos do Metronomy parecem estar mais relaxados. Capitaneado pela mente de Joseph Mount, Metronomy Forever é um registro sólido e, ao mesmo tempo, descontraído, resultando em mais um belo trabalho do grupo. O baixo marcante de “Whitsand Bay”, a gostosinha “Lately” e a irreverente “Salted Caramel Ice Cream” são só alguns dos pontos altos do álbum que vai do synthpop oitentista aos sintetizadores marcantes de 2010 sem parecer datado ou desconexo. Vale o play! [JP]
# Dreaming Fully Awake, do Moons
Em seu terceiro álbum de estúdio, os mineiros do Moons seguem cumprindo a tradição de entregar bons trabalhos. A banda formada por André Travassos (voz, violão e guitarra), Jennifer Souza (voz e guitarra), Pedro Hamdan (bateria), Bernardo Bauer (baixo), Felipe D’Angelo (teclados) e Digo Leite (banjo, violão e harmônica) entrega um registro que representa mais a unidade enquanto sexteto e que soa menos melancólico que os álbuns anteriores. Mais uma vez ao lado do produtor Leonardo Marques, o Moons mostra uma constante evolução em Dreaming Fully Awake, trilhando um caminho cada vez mais cativante. [JP]
# Morning in America [EP], do Mudhoney
Esse disco é longo demais para ser um EP e curto demais pra ser um álbum, mas em sete faixas o Mudhoney, mais uma vez, não decepciona. A banda merecia mais reconhecimento do que tem, sendo sempre menos lembrada na cena grunge e punk apesar de toda a sua influência e importância, apesar de eles mesmos serem low profile e quererem ficar de boa (como diz a letra de “I Like It Small”). Voltando ao novo EP, Morning in America é uma aula de rock do começo ao fim, com canções cheias de energia, intensas, letras críticas e ácidas, guitarras estalando, todos os demais instrumentos brilhando, e músicas que te dão vontade de sair pulando pela casa. Mesmo com 31 anos de carreira, a banda segue produtiva e fazendo coisa boa. O EP, no entanto, é feito de “sobras” – as 7 canções de Morning in America foram gravadas nas sessões do álbum Digital Garbage, lançado em 2018, e ficaram de fora do disco, aparecendo apenas em edições limitadas e esgotadas de singles e vinis. “Ensam I Natt” é um cover de uma banda de rock sueca chamada Leather Nun, lançada originalmente em 1979 (e cantada em sueco!). Achei muito bacana eles ressuscitarem uma canção tão obscura e garageira. Na versão do Mudhoney, apesar do título igual, a letra ganhou versos em inglês. [BM]
# Beneath The Eyrie, do Pixies
Logo de cara eu não gostei desse disco novo do Pixies, já que a faixa de abertura não tem nada a ver com a banda e soa como qualquer outra coisa, com vocais bem sem graça. Me fez querer pular logo pro resto, mas vale a pena continuar ouvindo. Beneath The Eyrie tem sintetizador, tem climão, tem bateria cheia de eco. É muito anos 80 e, de fato, Black Francis falou que o álbum teve inspirações góticas. Ah, ele foi gravado em uma antiga igreja que virou estúdio, e o local certamente deve ter influenciado nisso. A segunda faixa, felizmente, traz o melhor dos Pixies de volta, com baixo bem marcado, guitarra suja em evidência com riffs deliciosos e vocais um pouco mais espirituosos e muito mais agressivos do que a primeira, em uma canção que dá vontade de cantar junto, assim como as melhores da banda. O título continua super gótico: “On Graveyard Hill”, e o refrão fica repetindo “in the witching hour” – que na cultura estadunidense se refere à meia-noite, hora assombrada em que supostamente as bruxas fazem seus feitiços. A letra conta como Donna faz rituais estranhos e invoca maldições no cemitério (!). Acho que os Pixies andaram vendo muito aquele meme do “hola, soy darks” (um clássico da internet, quando isso aqui ainda era tudo mato). De qualquer forma, o disco segue bem, sem deixar esses elementos góticos de lado, mas muito mais interessante daí em diante, com a banda se reinventando e experimentando coisas diferentes com bom resultado. Destaque para “This Is My Fate”, “Bird of Prey” e “St Nazaire”. [BM]
# Hollywood’s Bleeding, do Post Malone
Hollywood’s Bleeding é um álbum que causa surpresa para quem já tem uma opinião formada do Post Malone. A começar por sua sonoridade mais próxima do indie rock, o trabalho serve como uma resposta para algumas das críticas que eram feitas ao rapper, sobretudo ao fato de que muitos o consideravam monotemático. Transitando por outros temas, trazendo convidados do calibre de Ozzy Osbourne e emulando Julian Casablancas em alguns momentos, Hollywood’s Bleeding é diferente de qualquer coisa que Post Malone já fez e, ainda assim, tem o DNA do rapper impresso em cada uma das faixas. [JP]
# Capim-cidreira, do Rael
A cada lançamento, Rael só solidifica mais e mais seu posto de grande artista, já com muitos anos de estrada e um longo caminho no underground antes de alcançar o estrelato, as rádios e o contrato com a major Sony Music. O mainstream aparece nas colaborações do disco também, com participação do grupo Melim (em “Só Ficou O Cheiro”, bem radiofônica) e de Thiaguinho (na ótima “Beijo B”). Sem nunca deixar as referências de música jamaicana e o violão acústico de lado, em Capim-cidreira são fortes também os elementos de música africana, como o afrobeat que marca a abertura do disco em “Bença Mãe” e o feat com Thiaguinho, lembrando o som de Fela Kuti no instrumental. E, apesar de sempre ter deixado claro que era cantor e não rapper (daí ter tirado o “da Rima” do nome artístico), os vocais de Rael impressionam pelo fôlego e pelo flow, com versos rimados afiadíssimos e muito rápidos sem nunca desafinar e letras sempre críticas, cheias de consciência social e mensagens de força e superação (que também têm suas raízes no reggae). “Flor de Aruanda – Citação: Feminina” também traz várias referências à cultura negra no pop atual, citando da escritora Chimamanda Ngozi Adichie ao filme Pantera Negra. [BM]
# Coruja Muda, do Siba
Dá pra fazer um som tipicamente brasileiro, com raiz, folclórico, sem soar ultrapassado? O Siba prova que sim. Com o sotaque delicioso do Recife, ele apresenta seu terceiro disco solo, Coruja Muda, com bastante guitarra elétrica e, como sempre, trazendo elementos da música pernambucana tradicional e letras extensas e nada óbvias. Em “Só É Gente Quem Se Diz”, cujas rimas parecem vir de um cordel ou repente, ele dá opiniões ácidas e muito espertas sobre o Brasil de hoje escondidas dentro de uma historinha: “Gente diz tudo o que pensa, bicho nem pensa e nem diz. E eu ainda vou virar bicho que é tudo o que eu sempre quis. Dos bichos da criação a aranha é a mais feia, mas ela tem uma teia de boa conexão que é pra ter informação de todo bicho esquisito. Não posta fake do mito nem vive de alguém que apanha, a internet da aranha só pega mosca ou mosquito”. O disco novo de Siba é atual, antenado e moderno ao mesmo tempo em que resgata os sons típicos de sua terra, assim como faz muito bem feito a Karina Buhr. [BM]
# DANCING ON THE PEOPLE [EP], do Sofi Tukker
A dupla mais globalizada e culturalmente diversa do mundo volta com um novo EP misturando letras em português brasileiro, inglês e espanhol (Anitta who?). O disquinho de 6 faixas já abre com “Swing”, um poema musicado de Chacal em uma base instrumental eletrônica que você escuta e é impossível ficar parado. A Sophie e o Tucker são mesmo a alma da festa, aquele tipo de artista de quem você queria ser amigo e dar rolê junto. Até quando eles cantam sobre dor de cotovelo é animado e te faz se sentir pra cima. Por falar nisso, entrou no EP o single “Playa Grande”, parceria com o Bomba Estéreo que deu muito certo e rendeu um clipe lindo. Entrou também o single “Fantasy”, que tem um clipe futurista num clima bem Avatar e que saiu em março. O EP fecha com “Like This”, que parece os hits de balada dance do começo dos anos 2000, tipo Lasgo, e é mega dançante. Bota o EP na festinha que não tem erro. [BM]
# III, do The Lumineers
Depois de três anos, o The Lumineers retorna com o que eles sabem fazer de melhor: contar histórias carregadas de emoções através do folk. Faz até sentido o grupo demorar alguns bons anos nesse processo, pois seus discos são sempre repletos de complexividade narrativa. Agora em III, os personagens de suas músicas são a conturbada família Sparks, que lida com questões como vício e solidão. Em 10 faixas, o álbum é dividido com três atos sobre diferentes membros dessa família fictícia. Apesar do grupo escrever sobre outras pessoas e experiências, o vocalista Wesley Schultz explicou que este álbum também é extremamente pessoal, pois alguns integrantes passaram por situações similares. Entre uma ou outra mais upbeat, como “Gloria” e “Leader of the Landslide”, a maioria das faixas tem uma carga mais melancólica. É até difícil analisa-las separadamente, pois as músicas fazem parte de uma unidade, quase como se fosse o roteiro de um filme. Aliás, é essa a intenção. O disco ganha mais força se você acompanhar o material audiovisual presente no canal da banda. Os clipes se completam em um curta e você se transporta para uma experiência visual e sonora. De fato, ouvir The Lumineers sempre é uma experiência, a gente precisa de um tempo para digerir tudo, pensar nas letras e entrar naquele universo. O grande diferencial da banda é esse. Depois de três trabalhos consistentes, dá para perceber que eles já estão consolidados com maestria. [VC]
# Sunshine Kitty, da Tove Lo
Após o projeto narrativo folclórico sobre o escapismo moderno presente em seus dois últimos álbuns visuais, Lady Wood (2016) e Blue Lips (2017), Tove Lo retorna com Sunshine Kitty, um álbum de electropop que conta com uma energia cinematográfica, veranil e passional como âncora discursiva, para ilustrar os tópicos já decorrentes nos projetos da cantora e compositora sueca. Com parcerias inesperadas e ecletismos como techno-funk, musicalmente o álbum revela a lógica de uma artista que se permite desfrutar e aceitar a influência dos lugares pelos quais transita. [MG]
Quer saber como foram os outros meses do ano? Não deixe de ver a nossa lista com os nossos álbuns preferidos de janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho, julho e agosto, além de dar uma olhadinha em nossa lista especial com os 60 melhores álbuns do primeiro semestre. Agora, se você quer se programar para os próximos meses, veja a nossa lista com os principais lançamentos previstos para o segundo semestre de 2019 no mundo da música.
Textos: Bárbara Monteiro, Bárbara Silva, John Pereira, Juliana Suarez, Matheus Gouthier e Vanessa Cutrim.