Neo-Música: o olhar crítico da Asfixia Social

Acredito que um dos aspectos que torna uma banda realmente qualificada e diferenciada, é quando seus integrantes se propõe a utilizar seus talentos para produzir uma sonoridade singular, inovadora e distante de mesmices. Essa postura costuma ser arriscada, mas é preciso dizer que a ousadia é um elemento importante para qualquer indivíduo que tente se distanciar de padrões e criar algo autêntico.

A banda Asfixia Social, que deu seus primeiros passos em 2007, exemplifica bem essa postura de criatividade e unicidade: eles mesclam admiravelmente, pitadas de Punk Rock, com um pouco de Hip Hop, de Rap, Ska e Hardcore. Sim: eles conseguem brilhante e eficientemente, misturar um pouco de cada um desses gêneros em suas produções e assim, dar vida a uma sonoridade diferenciada e cativante que resulta numa expressão artística única em nosso país.

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Além das melodias e ritmos originais, as letras, por sua vez, também são um ponto elogiável da banda. A maior parte delas aborda temáticas de cunho social, político e urbano, expondo questões como a desigualdade social, a violência, a injustiça, o consumismo e outros assuntos. De maneira geral, podemos perceber que as letras apresentam problemas ligados à realidade da maior parte dos brasileiros e sempre carregam como pano de fundo um olhar crítico, de desconstrução e questionador acerca do cotidiano nacional. Dessa forma, elas oferecem aos ouvintes propostas reflexivas a respeito de situações densas que tangem a vida, e que certamente não podem passar despercebidas.

O Brasil, como bem sabemos, atravessa atualmente um momento político bastante conturbado e dicotômico dentro do qual muito se pontuam falhas e geram-se desavenças, mas sobre o qual pouco se reflete com profundidade e senso crítico. Nesse âmbito, as letras do grupo podem ser bastante eficazes e positivas, uma vez que seus conteúdos, conforme citado, se erguem justamente sob temáticas que se fazem presentes e “assombram” o mundo do cidadão brasileiro. Uma das letras mais admiráveis é “Get Ready” que se trata de uma verdadeira convocação para a exercício intelectual e para o exame crítico do mundo:

“Teu pensamento que grita!

Tua alma inquieta se agita!

Quem não pensa tá morto

Cansou? Pense bem!

Não perca sua chance de ir muito além

O tempo não pára, você tem que pensar!

(…)

Desafie a sua mente

Parei pra pensar

Pare pra pensar

Que quem pára pra pensar, nunca tá parado

Outra letra que possui uma mensagem bem interessante é “500 Anos de Contradição”, na qual encontramos uma análise da situação do Brasil que é feita a partir de um panorama histórico que se dissolve diante de uma perspectiva crítica:

Quando o primeiro português pisou nesta terra

Quando o índio aceitou a bugiganga e a balela

Colonização maldita

O domínio de um povo nas mãos do jesuíta

(…)

500 anos de contradição, e a ferida

A ferida sangra, o povo agoniza

Pra te conformar vai aqui uma birita

Entretenimento massivo

Futilidade anestesia, te torna morto-vivo

Drogas, jogo, a escola é o esgoto

No meio disso tudo cresce mais um garoto

Mais um presidente sobe ao poder

A propaganda reacende a chama

Faz-te esquecer todas as promessas não cumpridas

Atualmente, a banda a Asfixia Social é um dos maiores destaques do cenário musical brasileiro. Porém, é válido mencionar que seu reconhecimento não se restringe somente ao nosso próprio país, mas também abrange muitos outros, tanto da América Latina, quanto da Europa – prova disso é que estão com uma turnê europeia confirmada para o próximo semestre, onde irão lançar o novo álbum, Sistema de Soma: A Quebrada Constrói (Independente – 2019), em formato livro-cd.

É também importante citar que acumulam prêmios importantes na carreira, tal como o Prêmio Ministério da Cultura: Núcleo de Hip Hop Zumaluma – Embu das Artes, (2010), Prêmio Agente de Cultura – Ministério da Cultura – entre os 200 melhores projetos sócio-culturais do Brasil (2012), Prêmio da Cultura Hip Hop 2014 – FUNARTE – entre os 30 melhores projetos de Hip Hop do Brasil (2014) e outros reconhecimentos notáveis, como ter representado o Brasil, na Semana Internacional de Música em Havana, Cuba.

Se você tiver oportunidade de assisti-los ao vivo, aproveite! Com certeza a experiência vale muito a pena!