Jessie Evans não apenas produz obras de arte. Ela própria é como se fosse uma obra de arte, por meio da qual encontramos energias contagiantes, que são capazes de nos libertar de qualquer male que nos aflige. As suas músicas nos oferecem um pouco de tudo: são um mix colorido e criativo de sentimentos, emoções e experiências.
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Nossa querida saxofonista e compositora já tocou em inúmeros palcos espalhados pelo mundo, através dos quais conquistou espaço e reconhecimento. Morou em países diferentes, e atualmente reside no Brasil. Em abril de 2017, lançou seu último álbum, intitulado In Love With Jessie & Pitschu. No ano passado, se apresentou com maestria na Virada Cultural, um dos mais importantes e badalados eventos musicais do país.
E como será que está a vida e carreira de Jessie atualmente? Bem, eu tive a oportunidade de bater mais um papo com ela, e trouxe para o Audiograma algumas novidades e curiosidades. Confira!
# Jessie, quais são os seus planos para o futuro? Você está trabalhando em algum novo material?
Atualmente estou trabalhando em dois novos álbuns. Um deles está seguindo um estilo new wave/pop/noir e está sendo feito com um produtor da França, e o outro é de reggae/dub, carregando influências de Cumbia, e está sendo feito com um produtor do México. Eu também tenho um álbum inacabado de versões de reggae que estou completando lentamente.
Na última vez em que estive na Califórnia, fiz planos para começar a fazer material novo com Billy e Brian, da minha antiga banda, The Vanishing. É um começo lento, mas com certeza vou seguir com isso. Também iniciei uma colaboração com Karim Shuquem, vocalista do The Phantom Limbs, que é um amigo querido. Estes estão em segundo plano, mas se manifestarão com o tempo.
# Algum show confirmado para 2019?
Nada planejado ainda já que eu estou nas gravações, e não estou com pressa para retornar aos palcos até que eu tenha algum material novo.
# Quais têm sido suas inspirações ultimamente?
O amor sempre foi e continua a ser minha principal inspiração para composições e para a vida, em geral. Quando comecei a escrever músicas, senti que tinha que ser muito conceitual sobre isso, muito metafórica, política. Senti como se todas as músicas fossem a minha chance de dizer ao mundo tudo que eu sentia em meu coração, e senti essa urgente responsabilidade de dizer algo importante. Agora estou muito mais relaxada. Eu não tento tanto, deixo as coisas fluírem e escrevo como me sinto. E eu sinto além de tudo, que é importante ser honesto e falar do fundo do seu coração. O amor é o único assunto em que sinto que tenho alguma compreensão. Não se trata apenas de amor romântico, mas também do amor por minha filha, minha mãe, meu país escolhido, este planeta, etc. Meu ambiente é uma grande inspiração também.
Nos últimos três anos tenho vivido em Ubatuba, no Brasil, que é uma cidade litorânea a meio caminho entre o Rio e São Paulo. Temos mais de 103 praias em nossa cidade. É literalmente um dos lugares mais bonitos do mundo e sou muito grata pela oportunidade que tive de morar aqui e passar esse tempo de qualidade em meio à natureza. Alguns anos atrás, quando eu morava em Aricanduva – Zona Leste, de São Paulo, uma área conhecida por ter o maior shopping center da América do Sul, eu sonhei com esse lugar incrível com todas essas praias e peixes tropicais. Foi tão bonito, irreal, como nada que eu já vi. E agora estamos aqui! Foi meu sonho por muito tempo voltar ao mar. Amigos, família e sociedade me disseram que eu tinha que esperar até me aposentar para me mudar para um lugar assim. Que eu precisava estar em uma cidade para ser um artista. Mas, como tenho certeza de que nunca vou me aposentar, e também não tenho certeza de quanto tempo estarei aqui neste planeta, decidi viver para hoje. Foi meu maior desejo viver perto do oceano em um tempo e área onde o oceano ainda está limpo o suficiente para nadar e eu queria compartilhar essa experiência com minha filha enquanto ela está crescendo. Eu sou de uma pequena cidade de surf no norte da Califórnia e cresci nadando. É algo que moldou muito meu espírito. Então eu acabo escrevendo muitas músicas de estilo marinheiro, com referências ao mar e navios, praias e ilhas. Como chove tanto aqui, chuva e inundação realmente se tornaram um tema muito constante em minhas composições também. As sereias são uma grande inspiração para a minha arte visual, já que comecei a fazer bonecas de sereia, além das bonecas Josephine Baker que eu também faço.
Eu não tenho certeza no momento se eu vou ficar aqui por muito mais tempo, já que estou sentindo o “7 year itch” (coceira de 7 anos) para seguir em frente e tentar algo diferente, mas ao mesmo tempo, estou muito feliz com o tempo que nós estamos passando por aqui e não me importaria se ficássemos para sempre nesse lugar. Eu acho a natureza aqui incrivelmente inspiradora. Eu poderia passar horas na minha rede apenas olhando para o vento soprando as folhas das árvores. Eu digo à minha filha que as árvores estão dançando. As folhas são como pessoas em um salão de dança, movendo-se e esvoaçando ao vento. Na natureza, cada parte está conectada a um todo, onde, como seres humanos, estamos tristemente separados por nossos egos. Nunca me canso da praia, do oceano, das montanhas, da selva. Temos mais de 30 árvores frutíferas em nosso quintal, incluindo banana, jabuticaba, abacaxi, goiaba, mamão, abacate, açaí, coco… Fico constantemente maravilhada com as novas frutas exóticas que descubro aqui no Brasil. Muitos delas têm texturas que são muito eróticas e sabores que combinam nozes com doçura de frutas.
O budismo Nicherin que eu estudo e pratico com o canto de Nam myoho renge kyo é também uma fonte constante de alegria e inspiração em minha vida. Essa forma moderna de budismo ensina que, de todo sofrimento, vem a alegria, e que na verdade existe uma lei sagrada para o universo e que tudo está em harmonia com isso. Eles dizem: “Deixe o veneno ser o remédio”. Eles acreditam que somos todos deuses e responsáveis pela nossa própria felicidade, e que a iluminação não é algo resignado para o pós-vida, mas algo que é atingível para todas as pessoas e em todos os momentos. Você pode ser feliz no próximo instante, se mudar sua perspectiva. Traz grande coragem para saber isso e ter encontrado uma fé que encoraje tal positividade. A simples disciplina de cantar traz grande coragem e força para mim em minhas atividades diárias e continua a me fazer sentir como se todos nós fôssemos apenas rochas caindo no mar e que vamos eventualmente nos tornar polidos e purificados, mais belos do que se possa imaginar.
# Como tem sido morar num país como o Brasil, que atualmente enfrenta uma situação política tão complicada?
Sinceramente, estou gostando de morar no Brasil. Sempre me senti agradecida, pois o Brasil me recebeu de braços abertos e me estimulou em muitos níveis. Embora atualmente tenha sido um momento desafiador em minha vida em termos de sobrevivência como cantora, sinto que fui bem recebida aqui e apreciei muito a gentileza e a humanidade do povo brasileiro. A comunidade é importante aqui e as pessoas são muito amigáveis, faladoras. Acenar e dizer oi para as pessoas na rua quando você vai à uma loja torna a vida muito mais agradável.
Estou com medo do novo presidente e da destruição que isso trará não apenas ao Brasil, mas ao mundo, já que ele está empenhado em destruir a amazônia e seus recursos, bem como os nativos, em uma velocidade que ainda não vimos. Tenho certeza de que isso terá efeitos devastadores no planeta e espero que algo possa ser feito para impedir essa progressão de estupidez e ganância egocêntrica que é tão prevalente no mundo atualmente. Certamente estamos em tempos sombrios, mas desta escuridão eu acredito que nós iremos dar luz ao novo mundo, e estamos de fato, no meio desta escuridão, já entrando na próxima era de ouro. É como um derramamento de pele em um nível planetário, no qual todas as trevas e enfermidades devem ser reveladas para que a verdade e o amor embaixo brilhem mais uma vez.
# As músicas brasileiras já influenciaram de alguma forma as suas composições? Você gosta de algum gênero musical brasileiro em específico?
Eu não sinto que a música brasileira tenha tido muito impacto na minha música, não. A música brasileira é muito específica, muito diferente das minhas raízes de punk/wave/jazz/reggae, e mesmo que eu a aprecie em algum aspecto, não é algo realmente natural em meu sangue que eu possa simplesmente transplantar em mim mesma. Eu acho que o que mais gosto são os elementos percussivos. Aprecio também a música pop brasileira: Ludmilla, Anitta… Acho esses estilos muito sexy. Eu gosto muito do álbum FATAL, da Gal Costa, e de seus primeiros trabalhos. Esse álbum teve o maior impacto em mim. Rita Lee, claro que acho que é fabulosa também, Gilberto Gil…
# Quais bandas e músicos você tem escutado ultimamente?
Eu descobri a banda WILD BELLE, que eu amo e com a qual me identifico muito. Nas últimas semanas, eu também tenho ouvido muito Lana Del Rey. Eu sempre gostei das músicas dela, mas até o momento, nunca fui obcecada.
Minha filha ama a música “Girls Just Wanna Have Fun”, da Cyndi Lauper, e constantemente quer ouvi-la e precisa fazer todos os movimentos de dança iguais aos do vídeo várias vezes por semana, o que para mim é uma alegria porque a Cyndi Lauper foi a primeira cantora com a qual eu realmente me identifiquei e que me inspirou para cantar. Também estou ouvindo muito o projeto solo de cumbia do meu produtor mexicano, Ima Felini, chamado AMANTES DEL FUTURO, que eu adoro. Não vejo a hora que ele lançe seu novo álbum para eu poder compartilhá-lo!
Em geral, eu ouço principalmente roots reggae/dub e new wave. A Nina Simone também é uma das favoritas, junto com o Prince. Mas, honestamente, tenho me concentrado tanto na minha própria música que não ouço muita coisa.
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