Nesses tempos de crescimento de uma onda conservadora, imagine só como deve ser difícil ser homossexual e filho de pastora. Mais difícil ainda, além de tudo isso, resolver ser artista. Pois foi exatamente o que aconteceu com Victor Cavalcanti.
Nascido no ABC paulista e criado na igreja evangélica, com mãe pastora, passou boa parte da vida ouvindo que homossexualidade era pecado, doença, errado, ou uma mera escolha. Em 2017, enfrentou também a grande polêmica da liminar que autorizava psicólogos a oferecerem a “cura gay”, com terapia de “reversão sexual”, fomentando esse preconceito (e também significando um retrocesso, já que desde 1990 a homossexualidade tinha sido retirada da lista de doenças pela Organização Mundial da Saúde e, desde 1999, esse tipo de “terapia” era proibido).
Tudo isso culminou em uma música de protesto escrita por Victor, que se chama “Medicina”:
“Que merda é essa que você chama de medicina? Que me adoece e que me faz perder a vida”
“Não é cover de Anitta (risos). É uma faixa bem pop, com conceito militante”, me contou ele, apresentando o clipe muito bem produzido. O vídeo teve direção visual de Giuli Lacorte, da Casaestudio, em São Paulo – com cenas na famosa banheira do local. “Medicina” está disponível em todas as plataformas digitais.
Suas canções seguem esse estilo mesmo: pop, modernas, dançantes, mas sempre com um viés consciente, com letras críticas, e sempre em português. Seu último single antes de “Medicina”, “Reinando 2.0”, tem esse tipo de versos fortes:
“O seu tempo já acabou e nada mais me fere / eu tô voltando para reinar / ninguém vai me controlar / eu mesmo vou me coroar, mas não sou tirano / só tô voltando ao meu lugar, é meu direito, eu não te engano / acha que malcriação é coisa de moleque, mas tem tanto moleque com mais de 37”
Victor começou a se interessar por música na igreja e chegou a gravar um EP gospel em 2010 (que nunca foi lançado). Depois disso, se encontrou no pop e nas letras um tanto autobiográficas e lançou o EP “(Des)controlar”, em 2015.
Victor é um artista independente e muito autônomo, tendo feito todas as composições e a produção do EP sozinho em casa. Dois anos depois, ele lançou um projeto ainda mais desafiador: o trabalho “Caos”, mais cru e intenso, que também compôs e produziu e foi lançado em VHS com um curta-metragem com estética impecável e várias referências à religião cristã (não à toa, né). “Caos”, aliás, foi lançado no Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS)…chique, né?! Vale a pena assistir:
“Eu tô deixando o coração falar mais alto que o cérebro”
O senso estético de Victor, aliás, é um espetáculo à parte. Ele é um artista completo, que assim como Lady Gaga, para usar uma boa referência, entende que o visual faz toda a diferença em sua obra musical. Nada é feito ao acaso, a beleza é um item muito apurado e o Instagram dele dá vontade de passar horas olhando, de tão bonito!
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