Em 1993, o Nirvana havia lançado seu primeiro disco há apenas quatro anos, mas já tinha uma discografia peculiar e de respeito. Como todas as resenhas do especial da banda já mostraram, Bleach, Nevermind, Incesticide e o In Utero possuem suas peculiaridades com sonoridades punk, pop, e letras que falam de amor e morte.
In Utero tinha sido lançado há pouco tempo e tinha canções extremamente pesadas, como “Apprentice Scentless”, e letras tensas como a de “Heart-Shped Box”. Ninguém discutia que o Nirvana era uma banda imprevisível, mas esperar um acústico MTV com aquele repertório e formato era demais. Sem grandes exigências, a banda liderada por Kurt Cobain aceitou gravar um disco no formato que havia começado há poucos anos, em 1989.
Kurt ter aceitado gravar um acústico só mostra que ele realmente foi um cara diferente. Acho que das duas, uma: pode ser que estava tão seguro de que, mesmo fugindo totalmente da sonoridade dos discos de estúdio, sem tocar boa parte dos principais clássicos da banda, e tocando covers totalmente inesperados, conseguiria fazer um sucesso. Ou já estava de saco cheio de ser considerado o grande nome da geração, de tudo que a fama envolvia e simplesmente gravou o acústico porque deu vontade, sem pensar tanto na aceitação do público.
Sendo alguma das duas alternativas ou qualquer outro motivo, o fato é que mesmo com o grande sucesso de alguns acústicos na época, em especial o de Eric Clapton, que foi um marco na carreira do guitarrista, o Nirvana estava fazendo uma aposta ousada. Mais ousada ainda foi a forma como encararam a gravação, onde os ensaios eram raros e com Kurt já exagerando bastante nas drogas. No fim das contas, o Nirvana gastou mais tempo negociando a gravação com a MTV do que propriamente ensaiando.
Das 14 músicas escolhidas, seis eram covers: uma de David Bowie, três dos Meat Puppets, uma dos Vaselines e uma de Leadbelly, um dos maiores e mais antigos ídolos de Kurt. Das músicas do Nirvana, apenas “About a Girl” vem de seu primeiro álbum, o Bleach. Todas as outras escolhidas são do Nevermind e do In Utero, sendo que “Smells Like Teen Spirit”, maior sucesso do Nirvana, ficou de fora.
A forma como tocaram também chamou atenção em algumas partes: Krist tocou acordeon na faixa “Jesus Wants Me for a Sunbeam” e Lori Goldston foi chamada para tocar violoncelo em boa parte do disco. Mas o que mais chama a atenção é Dave Grohl tocando bateria de forma totalmente sutil, mudando mais a sonoridade do Nirvana até do que o violão no lugar da guitarra.
O resultado disso tudo foi um dos acústicos mais importantes de todos os tempos, e um dos responsáveis por popularizar de vez o formato desta gravação. Esse é, com folga, o meu álbum favorito do Nirvana e um dos preferidos contado todas as bandas.
Este disco tem uma curiosidade especial: gravado em novembro de 1993, o material foi lançado em 1994, poucos meses depois da morte de Kurt. Alex Coletti, produtor do acústico, contou uma conversa que teve com o cantor, onde ele tinha sugerido velas pretas, lírios roxos e um candelabro de cristal para o cenário na gravação. “Você quer dizer… como um funeral?”, perguntou o produtor. Kurt respondeu que era exatamente como um funeral que ele queria.
Nirvana – MTV Unplugged in New York
Lançamento: 01 de novembro de 1994
Gravadora/Selo: Geffen/DGC Records
Gênero: Grunge/Acoustic
Produção:Alex Coletti, Scott Litt e Nirvana
01. About a Girl
02. Come as You Are
03. Jesus Doesn’t Want Me for a Sunbeam (The Vaselines)
04. The Man Who Sold the World (David Bowie)
05. Pennyroyal Tea
06. Dumb
07. Polly
08. On a Plain
09. Something in the Way
10. Plateau (Meat Puppets)
11. Oh, Me (Meat Puppets)
12. Lake of Fire (Meat Puppets)
13. All Apologies
14. Where Did You Sleep Last Night (Leadbelly)