A presença cada vez maior das mulheres na música é um fator importante para a história das conquistas femininas. Em um mercado onde elas lidam com pressões ainda maiores que os homens, elas lutam pelo seu espaço diariamente e, ao longo das décadas, deixam cada vez mais claro que são totalmente capazes de se tornarem grandes sucessos compondo, tocando ou interpretando.
Celebrando mais uma vez o Dia Internacional da Mulher aqui no Audiograma, resolvemos destacar algumas figuras femininas importantes do Rock e que possuem algo em comum: originalidade, anormalidade e rebeldia – características com as quais nos identificamos.
Que as mulheres continuem firmes na luta pela igualdade de direitos, de tratamento e sigam nos brindando com obras incríveis na música, na cultura em geral e em todas as demais áreas da sociedade. Afinal, lugar de mulher é onde ela quiser!
SIOUXSIE SIOUX: A SIBILA DELIRANTE
Por Juliana Vannucchi
Siouxsie Sioux é uma mulher cuja influência é simplesmente atemporal. Suas atitudes foram imensamente marcantes em sua geração e também posteriormente, de tal forma que ela sempre será uma pessoa especial, capaz de motivar qualquer indivíduo, em qualquer situação. Sioux não apenas rompeu barreiras, mas as demoliu expressivamente com sua carga explosiva de originalidade e força! E ela fez isso para que pudesse escrever sua história e moldar sua vida e sua arte, através de suas próprias regras, sonhos e princípios.
O legado dessa notável mulher merece atenção e valorização. Certamente ainda precisamos aprender muito com essa sibila apaixonante, e absorver de seus feitos, muitas coisas positivas. O legado está aí, disponível e presente, sempre nos convocando para que possamos desfrutá-lo e nos inspirar de alguma maneira. Sioux é uma mulher magnífica, não somente por suas músicas, mas pela totalidade de tudo o que representa.
Abaixo, transponho mais algumas palavras sobre Sioux, todas de minha autoria, escritas em 2018 e que acredito que ainda permanecem atuais:
Se desvincular do mundo externo, descartar certas coisas e arquitetar sua própria realidade são atitudes que exigem muito empenho, originalidade disciplina e ousadia – sabemos que poucos, de fato, seguem esse caminho. Nenhum obstáculo nunca pareceu tão penoso para ela. Siouxsie, de maneira espontânea, sempre conseguiu concretizar seus projetos e, como consequência, sua imagem passou a simbolizar o arquétipo da mulher forte, inteligente e independente.
Assim, ao logo do tempo, a vocalista dos Banshees assumiu uma personalidade, hora dionisíaca, hora apolínea, hora, ambas. Enfim, foi aquilo que se propôs a ser. O importante para ela, era progredir, escrever história – e que fique claro: tratava-se de escrever a SUA história. Para isso, agia como almejava agir. Com erros e acertos, com desvios morais, incomodando o conservadorismo e pisoteando o senso comum, ela deixou sua marca e isso jamais irá se alterar, independentemente do tempo e do espaço em que o mundo se encontre.
Algumas curiosidades sobre a Siouxsie:
- Sioux é apaixonada por cinema e leva muitas influências desse universo para suas composições. Um de seus filmes favoritos é o clássico japonês “Onibaba”, de 1964.
- O time de coração da Sioux é o Wolverhampton – e ela gosta bastante de futebol -, que atualmente está se mantendo muito bem na Primeira Liga do futebol inglês.
- Sioux também gosta muito de livros e alguns dos autores que mais a atraíram são Proust, E. A. Poe, Lewis Carroll, G.J Ballard, e outros…
JESSIE EVANS: A SAXOFONISTA VERSÁTIL DE ESPÍRITO UNDERGROUND
Por Gabriel Marinho
Uma das artistas mais originais e fantásticas da música contemporânea, que se destaca especialmente por sua mistura eclética de Afrobeat, Jazz e Cabaret. Não há como não se sentir hipnotizado com suas canções dançantes, que combinam muito com o estilo extravagante e exuberante da cantora. Seu álbum de estreia, Is It Fire?, é uma prova de que ainda existem artistas excelentes e ecléticos em nossa geração. Os álbuns que seguiram não perderam na qualidade e mostram que Jessie Evans ainda tem muito mais a oferecer, podendo se superar a cada novo lançamento.
Algumas curiosidades sobre a Jessie:
- A cantora reside no litoral paulista do Brasil há alguns anos e gosta bastante do nosso país.
- Jessie Evans já dividiu o palco com grandes músicos, tal como Lydia Lunch, Budgie e Betina Koster. Além de ter participações de grandes artistas em seus álbuns como Toby Dammit (atual tecladista do Bad Seeds) e Steve Mackay (Iggy Pop & The Stooges).
- A saxofonista já tocou mais de uma vez na Virada Cultural, um dos mais grandiosos eventos musicais da América Latina.
PAM HOGG: A MUSA DA DESORDEM
Por Juliana Vannucchi
Pela primeira vez, Pam Hogg está entrando em nossa lista de Dia das Mulheres – e acho que ela entrará novamente nos próximos anos. Nascida nas terras de David Hume, Hogg é uma das mulheres mais instigantes, provocadoras e autênticas de nossa geração. Todas as suas produções – sejam as roupas, sejam as músicas – são cativantes e demonstram uma imensa dose de coragem e excentricidade.
Ela é livre – quebrou as correntes e escapou da caverna faz tempo. É poderosa, e construiu uma carreira brilhante que está à margem de qualquer regra ou comportamento estabelecido, pois Pam foi competente o bastante para criar seu próprio universo artístico através de sua peculiaridade, de seus gostos, e de sua espetacular imaginação. Seu estilo é único e apaixonante, sendo geralmente traçado por resquícios do movimento Glam (tal como as cores fortes e o uso de elementos futurísticos), mesclado com aspectos e ideologias undergrounds (ela, por exemplo, trabalha aos moldes do D.I.Y).
Pam é explosiva e genial, não somente nas roupas que faz, mas também em suas outras atividades, sendo uma delas a carreira musical, que é bastante notável e na qual ela lançou músicas bem qualificadas, que provam sua versatilidade artística.
Algumas curiosidades sobre a Pam:
- Pam Hogg já confeccionou peças de roupas para algumas das mulheres mais admiradas de nossos tempos, tal como Siouxsie Sioux, Debbie Harry, Björk, Lady Gaga e muitas, mas muitas outras…
- A estilista é um verdadeiro ícone underground e tem o reconhecimento e admiração de incontáveis celebridades. Uma dela é a majestosa Siouxsie Sioux (olha ela aqui de novo), que inúmeras vezes já declarou o quanto aprecia as peças de Pam Hogg.
- Pam possui uma carreira musical ativa e, inclusive já abriu um show para o Blondie.
NICO: A LOIRA MAIS INTENSA E ATRAENTE DO ROCK AND ROLL
Por Juliana Vannucchi
Nico é dona de uma das vozes mais marcantes do Rock And Roll. Seu timbre tem potencial de nos levar do céu ao inferno, pois ela é capaz de ser meiga e avassaladora.
Ela foi a donzela do The Velvet Underground, banda através da qual se imortalizou por seu talento único e por sua beleza. Mas ela não parou na banda de Lou Reed: a carreira solo de Nico é simplesmente magnífica. The Marble Index e Desertshore mostram o quanto ela foi grandiosa e como seu talento é único. Além de sua carreira musical ativa, Nico mostrou-se uma artista versátil, tendo participado de alguns filmes.
Algumas curiosidades sobre a Nico:
- Antes de embarcar na música, Nico teve papéis pequenos em alguns filmes. Um deles foi La Dolce Vita, de Federico Fellini.
- Conta-se que Nico chegou a ser contratada por Coco Chanel, que encontrou na cantora a personalidade ideal promover seus produtos.
- Seu single de estreia foi gravado ao lado de Brian Jones, do Rolling Stones.
LYDIA LUNCH: A PRINCESA SOTURNA DO APOCALIPSE
Por Gabriel Marinho
Uma das figuras mais controversas e provocadoras dos anos 80 (uma postura que mantém até hoje), Lydia Lunch é uma das figuras mais mal compreendidas pela mídia e até mesmo dentro do próprio cenário underground. Sua discografia é extensa e não se prende somente a música, mais a palestras, poesias e filmes, sempre subversivos. Não há limites em sua arte e ela continua sendo um ícone do punk e DIY.
Algumas curiosidades sobre a Lydia:
- Lydia Lunch já colaborou com inúmeros músicos consagrados da cena underground, como Sonic Youth, Nick Cave, Marc Almond, Steven Severin (Eca! Vai entender…), Michael Gira, e muitos outros.
- A artista é conhecida por sua postura afrontadora e é abertamente honesta em entrevistas a respeito de temas como sexo, alienação social, feminismo, entre outros tabus.
- Ela descreveu o movimento “No Wave” em uma entrevista da seguinte forma: “O apocalipse aconteceu. Parecia que esta cidade (Nova Iorque) era o fim do mundo”.
Além das cinco artistas acima, vamos deixar também algumas menções honrosas, que são dignas de destaque e cujos feitos foram tão relevantes quanto os das mulheres acima em destaque.
Começaremos pela lendária Joan Jett, uma verdadeira deusa do Rock And Roll… Quantas pessoas já não dançaram à exaustão e se divertiram com a música calorosa música “I Love Rock And Roll”? Bem, vamos aproveitar essa primeira menção para elogiar a charmosa Cherie Currie, que (literalmente) deu voz aos sucessos memoráveis da banda The Runaways. E agora vem a poderosa, sensual e devastadora Poison Ivy, que ao lado de Lux Interior, deu vida à sonoridade suja e singular do The Cramps… Ela arrasou na guitarra, criando acordes perfeitos para sustentarem a voz do maridão!
Elizabeth Fraser merece ser citada devido a sua voz angelical, envolvente e mágica. Ela certamente é a mulher mais enigmática desse texto. Brix Smith Start, a integrante mais estilosa do The Fall, responsável por ter dado a banda seus anos de ouro com a sensibilidade pop que trouxe as músicas. Kim Deal, uma das melhores baixistas dos anos 90, com seu baixo hipnótico e tribal, tão marcantes no Pixies e The Breeders, assim como sua voz melódica e sempre sorridente no palco. Gillian Lesley Gilbert, que levou o New Order a outro patamar com seu teclado pulsante e melódico, ajudando a popularizar a música eletrônica e de rave nos anos 80.
Debbie Harry também precisa estar aqui, pois sempre será um ícone mundial por sua voz meiga e sua beleza incomparável. Cyndi Lauper é a musa que fez muita gente do mundo todo dançar e se extasiar com o clássico “Girls Just Want To Have Fun” – convenhamos, um dos maiores hits de todos os tempos. Ela é ativista na luta contra a discriminação da comunidade LGBT. Patti Smith foi uma das compositoras mais incríveis e elogiáveis que o mundo já conheceu. Suas letras são profundas, sentimentais e instigantes. Lisa Gerrard é uma figura magnífica. Sua voz única e incomparável, atinge nossa alma e nos prende em universos inimagináveis. Basta escutá-la uma vez, e ela se torna inesquecível. Janis Joplin foi simplesmente genial e até hoje, suas músicas estão entre os principais legados do Rock And Roll. Ela é um verdadeiro clássico atemporal e alucinante!
Courtney Love geralmente é lembrada por seu relacionamento com Kurt Cobain, astro de Seattle que conquistou o mundo nos anos 90. Mas a Courtney, independente do que viveu com Cobain, merece respeito por ter criado músicas muito boas. Ela fez um trabalho digno de reconhecimento. Tina Weymout, com suas linhas de baixo memoráveis e criativas no Talking Heads, sempre elegante e intimidadora com seu olhar durante as performances de “Psycho Killer”. Allison Statton, com sua entrega vocal tímida que se tornou referência para diversas bandas de indie pop que surgiram após o Young Marble Giants. Patricia Morrison é uma das mais marcantes personalidades do Pós-Punk. Além de ser uma mulher belíssima, seus acordes são apaixonantes e muito qualificados… Tanto é que ela tocou em grandes bandas, tal como The Sisters Of Mercy e The Damned (aliás, ela conquistou o coração de Dave Vanian).
Little Simz, que poderia receber o título de nova rainha do R&B, com seu sotaque anglo-africano característico e entrega vocal sensível e poderosa, sempre acompanhada por instrumentais experimentais misturadas a música soul. Dolores O’Riordan faz falta em nossos tempos. O timbre de sua voz era um devir constante, por vezes doce, por vezes impactante. Suas músicas prendiam o ouvinte e não o soltavam mais… A musa Chrissie Hynde não poderia faltar por aqui, afinal, ela sempre foi a estrela que deu brilho e fama ao grupo The Pretenders. Também deixaremos os parabéns pelos feitos das meninas do The Raincoats, pois a postura dessas artistas estava totalmente a frente de seu tempo. Sempre foram corajosas e vigorosas!
E do nosso país? Quem podemos citar? Admitimos que há muitos nomes nacionais que geralmente são mencionados e homenageado no Dia das Mulheres, embora nós mesmos não tenhamos apego a tantos. Assim sendo, vamos então mencionar duas mulheres que realmente admiramos bastante: Karolina Escarlatina (foto abaixo), uma das melhores cantoras e baixistas do país, está sempre nos presenteando com novas produções. É uma mulher de personalidade forte e criativa e de grandes atitudes. Em vários aspectos, tanto dentro, quanto fora dos palcos, ela é sempre uma fonte de inspiração! E abriremos espaço para Rita Lee, uma das vozes femininas mais rebeldes e ácidas dos anos 60 (uma postura que mantém até hoje), ao lado de seus companheiros no grupo Os Mutantes e também dona de muitos clássicos em carreira solo.