Presença, flow, letras explícitas e versos inteligentes fizeram de Djonga um dos principais nomes do rap nacional.
Desde seu disco de estreia, Heresia, lançado em 2017, o rapper belo-horizontino vem ganhando espaço como nenhum outro artista mineiro fez nos últimos anos; seu último álbum, o aclamado O Menino que queria ser Deus (2018) integrou a lista de melhores do ano pela APCA e de vários outros importantes veículos culturais, incluindo a publicada pelo Audiograma.
E durante a última edição do Festival Planeta Brasil, Djonga conversou comigo sobre sua carreira, seu recente e próximo álbum, parcerias e mais. O resultado você confere logo abaixo.
# SOBRE A CAPA E DIREÇÃO DE ARTE DE SEU ÁLBUM
Toda ideia da capa é minha. O que o Marcelo (1993Agosto) fez, meu irmãozinho Marcelo foi, além de fotografar, eu falei ‘Eu quero um céu no fundo, grama no chão, eu no colo de uma mulher negra e gorda pisando num cara branco de terno’ ai ele falou que teria como a gente fazer isso num fundo brancão, tem como a gente fazer isso, sei lá, num lugar onde a parede é pintada de céu e o chão é grama de fato, enfim sei lá… E o Marcelo falou – ‘Não, nós vamos pegar um banner de céu colocar atrás, grama sintética…’; Ele fez exatamente isso que cê disse, a Direção de Arte, tá ligado? Mas só explicando pras pessoas que a ideia é minha.
“É um disco audiovisual.”
Eu acho, eu acho não… Eu tenho certeza que aquela capa é tão importante quanto o próprio disco! Inclusive porque ela é o disco, ela faz parte total do disco, saca? Eu acho que assim, a galera tinha mais que investir na capa dos trampos, dos discos, dos singles porque é muito importante, faz parte da mensagem que você tá querendo passar pra galera…
“Pra mim é uma das capas mais importantes do rap nacional, se não a mais.”
Foi porque ela é polêmica né? Tá pisando no cara branco, isso é polêmica no Brasil. Inclusive depois que a galera viu o álbum, a galera aceitou mais ainda a capa, é… eu não sei se ela tem exatamente a ver com o álbum, tô falando aqui mas pensando bem, não sei… Tem muito a ver com o que eu tava sentindo quando eu escrevi o álbum, sacou? Mas pra mim é uma das capas mais importantes do rap nacional, se não a mais.
# PARCERIAS
Porra, tem! Eu não posso contar porque eu ainda tô produzindo, num tá pronto, então saca? Se der errado.. Mas tem trampo bom vindo aí! Eu acho né, eu gosto do meu trampo então, talvez seja bom.
# QUAIS OS DESAFIOS DO ARTISTA INDEPENDENTE NEGRO?
“Todos.”
Até hoje, as vezes eu chego no meu show e o segurança não sabe quem sou eu, tá ligado? E me recebe mal até perceber quem que sou eu e depois fica numa babação de ovo do caralho, tá ligado? Isso aí pra mim é a maior imagem do quanto isso é problemático, e difícil ser esse artista negro que cê tá falando, que sou eu inclusive e entre outros camaradas meus e camaradas, camaradas é bom porque é feminino e masculino – risos -.
Assim, eu fico muito feliz mano, porque as pessoas da minha cidade me abraçaram e porque também eu ajudei a construir várias coisas interessantes na cultura dessa cidade. Eu, minhas amigas e amigos, tá ligado? Então assim, a gente faz parte da cultura de BH, a gente faz parte dessa cidade, muito mais do que conhecido ou não.
‘Ah agora eu virei, famoso’. Foda-se! Se eu não tivesse virado eu ia morrer com meu nome na história de BH do mesmo jeito, sacou? Porque a gente construiu vários movimentos interessantes: a ocupação por exemplo, Fora Lacerda, Praia da Estação, Construção do Lá da Favelinha, entre outros diversos… Então assim, nós fazemos parte, de fato, da cultura dessa cidade.
E assim, sou independente mas dependo de muita gente, tá ligado? Dependo da minha família pra caralho; dependo da minha mulher que é a Malu, minha companheira e assessora de imprensa; dependo demais do Paulão e do Leo, que são meus produtores… dependo do meu filho; apesar dele não saber fazer muita coisa ainda, dependo dele… Dependo da Iasmin; a mãe dele, nós não tamo junto mas dependo dela também. Dependo do Cesão do pessoal da CEIA, da Nicole… Então independente, mas dependo de muita gente.
# O QUE ESPERAR DO PRÓXIMO ÁLBUM?
“Muita seriedade, profissionalismo e com uma inspiração foda.”
Uma bosta, põe isso aí, fala que vai ser uma bosta – risos -. Pô num faço a menor ideia mano. É porque assim, eu to construindo e a galera que decide, brother.
Tipo, eu sou um instrumento dos deuses e deusas e dos orixás e de quem quer que seja, pra fazer arte, mas quem decide é o público. Então sinceramente eu acho que cês podem esperar é que eu vou fazer do jeito que eu sempre faço, que é com muita seriedade e profissionalismo e com uma inspiração foda, porque minha vida apesar de não ser muito interessante, acontece umas coisas que até Deus duvida.
# SOBRE O FUNK, RAP E ESTILOS PERIFÉRICOS SENDO EXPLORADOS COMERCIALMENTE POR GRANDES GRAVADORAS
“Num interessa se é comercial, se é de mensagem, nós batalhamos muito, nós já sofremos muito, agora nós temos que sorrir um pouquinho mais.”
Se meus irmão tiver ganhando dinheiro, se minhas irmã tiver ganhando dinheiro, aí tá legal! Agora se for só a gravadora tiver ganhando dinheiro e o cara se fudendo, aí é uma bosta. Ai é só mais do mesmo do que o cara já faz na Vale, quero falar mal da Vale hoje… Mesma coisa que o cara faz na Vale lá, sacou? Trabalha pra depois morrer soterrado pela lama…
Então se você tá numa gravadora e a gravadora ganha muito mais que você, brother, cê tá perdendo, é melhor trabalhar numa empresa qualquer, agora se você tá numa gravadora e você tá se sentindo bem com isso, tá ganhando dinheiro, tá conseguindo sustentar sua família, brother… vai que vai! Num interessa se é comercial, se é de mensagem… Nós batalhamos muito, nós já sofremos muito, agora nós temos que sorrir um pouquinho mais.