Vídeo por Rodolfo Yuzo. Fotos por Fabricio Vianna e Popload
Em uma noite de muita, mas muita chuva, a Fabrique Club, na Barra Funda, estava abarrotada. O trânsito caótico (São Paulo é um Gremlin: molhou, fodeu) não impediu os fãs de lotarem o show, que estava com ingressos esgotados. E a noite começou pontualmente, apesar da bagunça na cidade, com o show da BRVNKS às 20h30.
Bruna Guimarães, a cabeça por trás da BRVNKS, ainda é muito jovem (tem só 23 anos), mas começou mais novinha ainda, e impressiona ver o crescimento e o desenvolvimento dela no palco.
Em 2016, eu já era fã e vi um dos primeiros shows dela em São Paulo, na Casa do Mancha, que foi ótimo – e que comportava tipo 50 pessoas. Mas dá para perceber que ela agora está muito mais segura e desenvolta no palco, além de ter arranjos mais elaborados para as músicas do seu primeiro EP (Lanches, também de 2016) e composições novas muito interessantes que vão fazer parte de seu primeiro álbum, Morri de Raiva (amei o nome) que sai pela Sony Music ainda este ano. Isso sem contar o quanto a banda cresceu, sendo contratada por uma grande gravadora, tocando em festivais e abrindo shows de gringos.
No dia 21, a banda tocou algumas músicas novas, como as já conhecidas “Yas Queen” e “Tristinha”, além das inéditas “Your Mom”, “Freedom” e “Tired”. E, apesar de o disco e algumas músicas terem títulos em português, pode tirar o cavalinho da chuva: ela já respondeu trocentos fãs dizendo que vai continuar a fazer músicas em inglês mesmo, ok, obrigada.
Bruna é criativa, foge do óbvio, tem letras simples mas muito sinceras, um som moderno que conversa bem com as bandas estrangeiras da atualidade e agrada sua geração, sem perder sua personalidade própria. Assim como Courtney Barnett, ela chega no palco sem frescura, sem firula, apenas sendo ela mesma de forma honesta, e ainda assim nos arrebata. Sem contar que ver mulheres tocando, liderando bandas, à frente, nos holofotes, é extremamente inspirador e necessário. Ah, ainda falando sobre dar mais espaço à mulheres na música, a BRVNKS agora conta com uma nova integrante, Heloisa Cleaver, no synth – e ela fez bonito nesse show!
E o que dizer sobre o showzaço da Courtney Barnett? Meus amigos! Já se passou quase uma semana e eu ainda não consegui superar. Sinto muito, de verdade, se você perdeu. Mas essa já foi a segunda vez que ela tocou na cidade e, se depender da Australiana, vai voltar logo. Durante todo o show, ela falou repetidas vezes como amava o Brasil (destacando São Paulo) e o público daqui, o mais barulhento que ela já tinha visto; como achava lindo todos os fãs cantando as músicas junto durante a apresentação, e como ficava lisonjeada e até sem graça, erubescida, com os aplausos, assovios e gritos ao final de cada canção. Nas redes sociais, no pós-show, Courtney também fez questão de ressaltar o quanto ama a gente. Owwwwnnn!
A primeira vez da Courtney no Brasil foi em 2016, quando ela tocou no Popload Gig junto com Edward Sharpe & The Magnetic Zeros (aqueles do hit “Home”). Agora, ela voltou com um álbum novo elogiadíssimo, o excelente Tell Me How You Really Feel, lançado no ano passado. Os dois shows dela em São Paulo esgotaram, e dessa vez também rolou uma apresentação em Porto Alegre no dia 22 de fevereiro. Nas duas visitas da cantora, guitarrista e compositora ao Brasil, quem trouxe foi a Popload (muito obrigada, Lúcio Ribeiro, pela graça alcançada!).
O show da Courtney hipnotiza porque, apesar de ela parecer muito simples, com roupas básicas demais, sem maquiagem, sem nenhum tipo de decoração ou efeitos de palco, tudo muito comum, o que se destaca é justamente a música e a paixão, o tocar se entregando, com muito sentimento. A arte crua, honesta, com muito coração. E olha que, no dia, ela estava um pouco doente e ainda mais rouca que o normal.
Ver uma mulher liderando a banda, à frente do palco, cantando com tanta vontade, tanta intensidade, e de fato arregaçando a guitarra (e olha que ela toca sem palheta!) é muito inspirador e, infelizmente, ainda um pouco raro de ver, já que poucas casas de show, festivais e produtoras dão espaço para artistas mulheres. Veja bem, não me entenda mal: existem mulheres na música aos borbotões, elas são excelentes, e só não aparecem tanto quanto os homens por pura falta de oportunidade. Acostumados a ver apenas guitarristas homens e mulheres só na função de cantoras (o que é triste, porém real), a gente se espanta com a figura de Barnett e com toda a sua entrega, vocais poderosos muito pessoais e habilidade no instrumento. Sabe aquela cena de Amélie Poulain em que ela vai ao cinema e, no meio do filme, se vira para trás para ver a cara das pessoas? Eu costumo fazer isso em shows, e a reação da galera era justamente essa: todo mundo vidrado, impressionado, sem piscar, com um sorriso besta, cara de bobo. Todo mundo embasbacado! Esse é o poder de Courtney Barnett. E que bom, porque foi um dos poucos shows que eu fui recentemente em que a plateia prestava mais atenção no palco, de fato, do que no celular ou em conversar com o amigo do lado. Vamos apreciar mais a música, né, gente?
Só uma música da excelente parceria com o Kurt Vile entrou no setlist de São Paulo, que desapontou um pouquinho os fãs mais fervorosos por isso e por deixar músicas importantes de lado. De qualquer forma, a apresentação agradou bastante. Também acho legal destacar que a Courtney, além de ser uma excelente artista, é uma ótima pessoa. Todo mundo que eu conheço que teve a oportunidade de vê-la disse que ela é um amor, super humilde e acessível, atenciosa com os fãs, fácil de trabalhar junto. E esse tipo de gente tá em falta. Um belo exemplo de como a Courtney Barnett é praticamente um labrador que todas ama é esse vídeo zoeira aí embaixo, feito pela Bruna da Brvnks no camarim. E aí, bicha? Tá boa?
Vê se volta logo, Courtney. ❤