Se você gosta de rap e ainda não conhece a Monna Brutal, cê tá moscando. Com apenas 21 anos (!!!), a rapper já chama a atenção pelas letras ácidas e afiadíssimas, flow realmente bruto e fôlego impressionante – tente cantar metade de uma das músicas dela e veja se você não fica sem ar. O som dela é rápido, é agressivo, é inteligente, é pesado, é cheio de crítica social. Monna me chamou a atenção em sua participação no incrível projeto Psicopretas, participando do volume 2 ao lado das também maravilhosas Sistah Chilli, Alinega, Meg Tmthc, Gabi Nyarai e Yzalú. Dentro da faixa coletiva, Monna mandou um dos versos mais marcantes: “racista bom é racista jorrando sangue”. Vale demais a pena ver:
E hoje Monna lançou um vídeo superproduzido para a canção “Bixa Papão (Putos Não Fodem)”, que faz parte de seu disco de estreia, lançado em outubro do ano passado. E esse disco é a realização de um sonho antigo – ela faz parte do hip hop desde criança, começou dançando break, organizou a batalha de freestyle do Jaçanã por dois anos e já rimava muito antes de conseguir finalizar o álbum “9/11”, produzido por Z-Rock com participações especiais de Brisa Flow e Katrina. Se liga no clipe novo:
Assim como em todo seu álbum, a música do clipe critica pesadamente homens brancos cisgênero e suas demonstrações de machismo, transfobia e violência. Esse tipo de cara ela chama de “putos” nessa e em várias outras faixas do disco. Não podemos nos esquecer de que o Brasil é o país que mais mata trans no mundo, onde essa população tem uma expectativa de vida de 35 anos (!), ao mesmo tempo em que a sociedade brasileira bate recorde de consumo de pornografia com trans. Depois ainda perguntam por que a Rihanna “mata os homi tudo” nos clipes dela (e nesse vídeo a Monna faz o mesmo – SPOILER). Não à toa, o clipe foi lançado hoje, 29 de janeiro, dia da visibilidade trans.
“Me xinga na rua e bate uma pensando em mim”
Por mais que possa levantar questionamentos e polêmicas, o conteúdo tão agressivo tem razão de ser. Afinal, Monna tem todos os motivos do mundo para estar indignada – negra, trans, vinda da periferia na divisa de São Paulo com Guarulhos, muito das suas letras são experiências pessoais e uma visão consciente, muito lúcida e crítica, da sociedade que trata ela e seus pares tão mal, de forma tão injusta e violenta. É um levante de resistência, é um contra-ataque. Ela critica o próprio hip hop e rappers em um tom de “não tem conversa” que me faz lembrar muito o paradoxo da tolerância, do filósofo Karl Popper:
E ai de quem vier criticando com argumentos do tipo “só estão falando dela porque é politicamente correto” ou “só tem espaço pra cumprir cota”, porque o talento de Monna Brutal é inegável. Como já disse: se você gosta de rap, não tem como não se impressionar. E, mesmo que não goste, se prestar atenção nas letras também se admirará. Brutal é adjetivo mesmo.
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