Não é verdade que o ano só começa depois do carnaval. Na real, o ano só começa depois do primeiro show do Dead Fish. Já faz algum tempo que a banda de hardcore, originalmente de Vitória (ES), organiza uma apresentação em janeiro para começar o novo ano já no gás. E o primeiro show do ano costuma ser em São Paulo, onde a maior parte dos integrantes mora.
Em 2019, o evento aconteceu no dia 19 de janeiro na The House, antigo Hangar 110, que ficou famoso e fez história dando espaço para bandas alternativas do punk e hardcore e onde praticamente nasceu o emo brasileiro (bandas como CPM 22 e NX Zero começaram a estourar lá). Dividindo palco com os capixabas, as bandas Violet Soda e I am Hell também fizeram bonito. A casa estava completamente lotada e, em um dia quente demais, era impossível sair de lá sem estar pingando suor.
DEAD FISH
Como sempre, o show intercalava músicas com letras de protesto a discursos politizados reflexivos e combativos de Rodrigo Lima, o vocalista. No mês em que Bolsonaro assumiu a presidência do Brasil, o foco foi a ascensão da direita no mundo e o papel da mídia nas eleições, debatendo sobre as fake news que elegeram Trump nos EUA e também atingiram em cheio o Brasil em 2018. Rodrigo criticou a grande mídia de massa por isso e pediu que os fãs tivessem olhar crítico e procurassem se informar por diversas fontes, dando preferência ao jornalismo independente e alternativo. A banda também tocou pela primeira vez ao vivo a música nova “Sem Remédio”, que critica o sistema capitalista e empregos exploradores e abusivos.
“Cumpra a meta e não esqueça de sorrir
A vaga é sua até não ser mais
Tão fácil substituir”
Mas o ponto alto do show foi o mosh do Rodrigo do mezanino pra pista:
Vídeo por Raquel Pereira
VIOLET SODA
A banda é liderada pela santista Karen Dió, que canta, toca guitarra e compõe. Karen já fez parte de outras bandas e largou sua recente carreira solo para montar o grupo, que apesar de só ter lançado 2 EPs e ter pouco mais de 6 meses de estrada conta com músicos experientes como ela e já conquistou muitos fãs, tendo feito shows grandes (como o festival Street Rock, realizado pela rádio 89 em novembro, quando tocaram ao lado de Supercombo e Far From Alaska) e recebido ótimas críticas.
Mas vamos combinar que a banda já nasceu pronta – além de Karen, a formação conta com Murilo Benites (Corona Kings) na guitarra, André Dea (Estúdio Costella, Sugar Kane, Vespas Mandarinas, Nevilton) na bateria e Tuti (Medulla) no baixo. Não tinha como não ser sucesso.
O show no Hangar (ops, quer dizer, na The House) impressionou a plateia. O som, enérgico e animado e cantado em inglês, tem referências de punk e grunge e soa bem anos 90. Sendo bem imparcial, já que sou fã, me arrisco a dizer: o único defeito dos EPs do Violet Soda é que eles acabam.
I AM HELL
O ano mal começou e eles já estão com a agenda lotada! Só em janeiro, são 6 shows marcados – tocar mais de uma vez por semana quando se é uma banda autoral independente e com pouco tempo de estrada é um grande feito, gente!
O grupo paulistano começou em julho do ano passado e segue a linha punk e hardcore com letras em inglês, vocal gritado, som alto, sujo e pesado. Lançaram um single (“The Awakening”), um EP e um clipe e foram elogiados por outras bandas da cena, como Bayside Kings.
No sábado, eles encerraram o show com um cover endiabrado de Black Sabbath que conseguiu sair mais pesado do que a canção original.