Foto: Fernando Pastorelli
A banda paulistana Rock Rocket, que está na ativa desde o comecinho de 2002 e teve forte presença na finada MTV Brasil e em todos os bares com show ao vivo de São Paulo, anunciou que vai encerrar suas atividades em janeiro de 2019. Nas redes sociais, a banda disse que o show marcado para o dia 20/01/2019 no Z – Largo da Batata, com as bandas amigas Sioux 66 e Devilish, será sua última apresentação.
Durante todos esses 17 anos de carreira, o Rock Rocket excursionou pelo Brasil inteiro, lançou 4 discos e uma coletânea, fez trilha sonora de filme e teve um papel muito importante na cena nacional de rock alternativo. Quando eles apareceram, fizeram um movimento parecido (devidas proporções) ao que o Ramones fez nos anos de 1970, resgatando um rock cru, simples, com canções curtas, rápidas, enérgicas e sem firula. As letras, sempre muito debochadas (e a coragem de lançar logo no primeiro CD uma música chamada “Quem Depilou O Meu Rabo”), falavam de bebedeira, zoeira entre amigos e agruras de relacionamentos de forma divertida e chamaram a atenção do público e da crítica desde o início. Seu primeiro disco, “Por um Rock and Roll Mais Alcoólatra e Inconsequente”, levantava justamente essa bandeira contra a caretice e por um rock mais rock – num tempo em que bandas como Los Hermanos estavam no auge, com músicas mais trabalhadas, muita mistura de MPB e temas cabeçudos. Uma das músicas desse disco diz, justamente:
“Há quem diga por aí que o rock’n’roll morreu. A esses eu grito no ouvido: você ainda não me conheceu!”
O grande trunfo do Rock Rocket foi cantar em português, eu acho. Dessa forma, eles conseguiram atingir um público muito maior e encantar os adolescentes e jovens adultos da época com o som típico do rock americano, o resgate do punk e do garage revivendo bandas como Ramones, MC5 e Stooges, e as letras engraçadas que ganhavam todo mundo. Outro atrativo da banda eram os ótimos clipes, que tiveram bastante exposição e fizeram um grande sucesso:
Se você nunca viu isso na MTV, você não morava no Brasil no começo dos anos 2000
E esse aqui, super produzido e com o Zé do Caixão no elenco?!
Saudades, bar Berlim, bons tempos
A banda sempre foi um power trio. Nos dois primeiros discos, lançados em 2006 e 2008, a formação original contava com Noel Rouco na voz e na guitarra, Pesky no baixo e Alan Feres na bateria. Já no terceiro disco (o “Rock Rocket III”, lançado em 2012 com a foto de capa tirada na Casa do Mancha), Pesky foi substituído por Jun Santos – que é o cara mais estiloso e gente fina do rolê. Essa formação ainda lançou o “Citadel”, último disco da banda, em 2015. Recentemente, Alan Feres foi substituído por Éder Chapolla. O Alan, vale citar, tem um gosto musical impecável e é dono da Fatiado Discos, loja de vinil que também tem vários eventos culturais, shows e até uma noite de comida árabe feita por refugiados, além de abrigar no andar de cima o Congolinária, restaurante vegano de imigrantes do Congo. É o lugar mais legal de São Paulo e vale a visita.
Como fã, fico triste pela banda acabar, mas feliz pelo importante legado que deixaram. Se não fosse pelo Rock Rocket, não teríamos várias bandas de rock no Brasil hoje e espaço para a cena alternativa e o pico das casas roqueiras nos anos 2000, quando a Rua Augusta estava no auge, por exemplo. E eles mostraram que dá sim para fazer rock no Brasil e em português. Também vão fazer falta por serem caras legais e fazerem bons shows. Nunca esqueço um dia em que encontrei com o Noel dentro de um ônibus na Avenida Paulista, em 2008. Eu tinha só 19 anos e estava morrendo de vergonha, mas disse que era fã dele e ele me deu de presente uma cópia do segundo CD da banda, que ainda estava para ser lançado. Tenho esse CD até hoje. Obrigada por tudo, Rock Rocket!