Nunca antes na história deste país, aguardamos tanto por um lineup de festival como o do Lollapalooza Brasil 2019.
Após uma espera maior que o normal e muita especulação, a organização do festival liberou, na última quarta-feira (21) todas as atrações que estarão no Autódromo de Interlagos nos dias 05, 06 e 07 de abril.
A princípio, essa análise sairia em vídeo em nosso canal no YouTube, mas ela acabou virando um textão sobre os pontos fortes, fracos, as coisas interessantes e as controversas desse lineup que, comparado com a edição deste ano, apresenta menos nomes. Se para 2018 foram 72 nomes, para 2019 foram apresentados 65.
Antes de falar sobre cada ponto, vamos lembrar quem foi escolhido pela curadoria do festival?
# As principais atrações do Lollapalooza Brasil 2019
Analisando friamente, podemos dizer que temos sete atrações principais para 2019: os nomes que estão nas duas primeiras linhas.
Começando pelos headliners, o Lollapalooza Brasil colocou nas mãos de Arctic Monkeys, Kendrick Lamar e Tribalistas a missão de fechar as três noites de shows, todos se apresentando no palco principal. Dessa forma, como falei por aqui no ano passado, considerar qualquer outro artista como headliner é uma bobagem.
Pela segunda vez no festival, o Arctic Monkeys chega ao Brasil com a turnê do Tranquility Base Hotel & Casino, aquele álbum amado e odiado na mesma proporção pelas pessoas. Alex Turner e companhia não estão fazendo feio nos shows da turnê até o momento e estão dosando bem o álbum diferentão com as coisas antigas, ainda que elas estejam um pouco desaceleradas. Por mais que você não goste, merecem a primeira linha do lineup e não devem fazer feio.
Nome que caberia como headliner em qualquer uma das três últimas edições do Lollapalooza, Kendrick Lamar deve ter sido o artista mais pedido pelos que gostam do festival desde 2016. Demorou, mas resolveram riscá-lo na lista de atrações e, ainda que tenham perdido um pouco do timing, o rapper chega como o grande nome do lineup e deve fazer um dos melhores shows que esse festival já viu.
Como em todo lineup, um headliner causa polêmica e a bola da vez são os Tribalistas. Pela primeira vez, o Lolla Br terá um artista local fechando o dia e, para muitos, a escolha foi um pouco equivocada. Não vou entrar no mérito de qualidade – até porque questionar isso de pessoas como Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown seria um completo absurdo -, mas não vejo o Lolla como o melhor lugar para eles ocuparem o posto de headliner, até porque o Tribalistas não dialoga muito com o público ou com as demais atrações. Se a intenção era colocar um nome nacional, aposto que o Los Hermanos (que tocará na Argentina) deixaria o pessoal mais feliz.
Na segunda linha do lineup, nós temos Post Malone, Lenny Kravitz, Sam Smith e Twenty One Pilots. Os quatro fecham a lista de principais atrações do festival, seja pelo interesse do público ou pelo que podem oferecer musicalmente.
O Twenty One Pilots é uma daquelas bandas sempre pedidas em qualquer festival e que é lembrada até mesmo quando está de férias. O duo lançou em outubro o seu quinto álbum de estúdio, Trench, e deve entregar mais um bom show no festival, repetindo o que fizeram em 2016.
Por sua vez, Post Malone é o queridinho da molecada que curte rap. Em um festival encabeçado por Kendrick Lamar, ter o Post Malone é como você ter a chance de ver o Messi jogar futebol e perder um tempo vendo o seu vizinho perna de pau tentando fazer umas embaixadas. No entanto, tem que goste e isso se comprova pelo sucesso estrondoso de músicas como “Psycho”, “Rockstar” e “Congratulations”.
Lenny Kravitz e Sam Smith são aqueles nomes que pouca gente esperava ver no Lollapalooza e, provavelmente, não vão fazer feio. Ambos estão com novos materiais, possuem fãs no Brasil e carregam na bagagem alguns hits capazes de te fazer cantar junto. Entretanto, nenhum dos dois parece combinar com o evento, seja por causa da sonoridade ou das gerações com as quais eles dialogam. Tidos como “estranhos no ninho”, ambos podem sair na lista dos melhores shows do festival.
# O meio de campo que dá liga
Tiësto, The 1975, Steve Aoki, Interpol, Macklemore, Greta Van Fleet, Snow Patrol, Years & Years, Foals, St. Vincent, Bring Me The Horizon, Rüfüs Du Sol, Portugal. The Man, Troye Sivan e Jorja Smith. Dá pra dizer que tem artista bom para todos os gostos, ainda que isso não signifique uma unidade entre todas as tribos, como seria num show do Norvana.
Para quem curte a cena eletrônica, Tiësto e Steve Aoki são os grandes nomes do Lollapalooza Brasil e trazem cada um a sua bagagem de anos de carreira e diversas visitas ao país. Por sua vez, os fãs do Bring Me The Horizon verão a banda pela primeira vez em terras brasileiras e, adorada entre os fãs de metal alternativo, o grupo capitaneado por Oliver Sykes mostrará no Lolla a turnê de seu próximo álbum de estúdio, Amo, que sairá em janeiro.
Dessa lista vale destacar também o quarteto formado por Interpol, Greta Van Fleet, Snow Patrol e Foals. Queridinhos da cena indie rock, as quatro bandas criam expectativas nos fãs em torno de seus shows. Enquanto Interpol e Snow Patrol voltam para mostrar seus álbuns lançados neste ano, o Greta Van Fleet, que não tem feito feio nos festivais pelos quais tem passado, estreia no país com o seu rock espelhado no Led Zeppelin. Já o Foals, que passou pelo LollaBR em 2013, está trabalhando em seu quinto álbum, que deve sair antes de abril. Ainda que não tenha novidade até lá, a banda é conhecida pelos bons shows e não deve ser diferente por aqui.
Dessa lista intermediária, a minha grande expectativa gira em torno de três nomes: St. Vincent, Jorja Smith e Macklemore.
Em um lineup com poucas mulheres, ver a Annie Clark e, principalmente, a Jorja na lista foi um bom respiro. St. Vincent volta ao país – e ao Lolla – com a turnê do elogiado Masseduction e, pelo que tem mostrado lá fora, vai fazer jus ao seu retorno depois de quatro anos. Ouvir músicas como “Slow Disco” ou “Los Ageless” será, fatalmente, um dos pontos altos do festival.
Outra apresentação que todos deveriam dar atenção é a da Jorja Smith. Desse meio de campo, foi o nome que mais me deixou feliz, e o festival acertou perfeitamente ao trazê-la agora. Com apenas 21 anos, a jovem britânica mergulha lindamente num R&B gostoso de ouvir, e que tem nomes como Alicia Keys e Lauryn Hill como referências. O resultado disso foi o álbum Lost & Found, o seu primeiro, lançado em junho e que vem sendo bastante elogiado.
Macklemore é outro nome que me deixou feliz no lineup, ainda que o Lollapalooza só tenha olhado para ele bem depois do que deveria. Mesmo seu último álbum, Gemini, tendo sido lançado no ano passado, fica a sensação de que o norte-americano chega ao Brasil com certo atraso. Não custa lembrar que o seu primeiro álbum (e o de maior sucesso) ao lado de Ryan Lewis saiu em 2012. De lá pra cá, a dupla lançou outro álbum, veio para a América Latina e se separou (ainda que não definitivamente), mas somente agora o Macklemore virá para o Brasil. Antes tarde do que nunca, diriam alguns.
Por sua vez, The 1975, Years & Years, Troye Sivan, Rüfüs Du Sol e Portugal. The Man possuem apelo com o público do festival, então, certamente tocarão para muita gente e terão os seus shows elogiados. Deles, o Troye e o Rüfüs são os que me causam mais curiosidade ao vivo e seriam shows que eu tentaria ver, além do Portugal. The Man. Os outros dois eu deixo para quem é fã.
# O lineup nacional
Além do Tribalistas como headliner, a ala brasileira do Lollapalooza Brasil conta com alguns nomes interessantes para a sua edição 2019.
Dentre os principais, eu destacaria as presenças de Vintage Culture, Gabriel O Pensador, Rashid, Silva, Autoramas, Scalene e Liniker e os Caramelows no lineup, mostrando essa boa mescla entre nomes do momento e aqueles que já fazem parte da história do cenário musical do país.
No entanto, o grande destaque pra mim é ver que Carne Doce, Luiza Lian, Duda Beat, Molho Negro, o rapper BK’ e a banda E a Terra Nunca me Pareceu Tão Distante estarão no festival. Ainda que se apresentem durante o dia, podem fazer bonito em Interlagos e merecem que você chegue cedo por lá.
# A cena eletrônica
O Lollapalooza Brasil tem tratado com carinho quem gosta de música eletrônica nos últimos anos e, para 2019, o festival apostou em um time interessante comandado pelos já citados Tiësto, Steve Aoki e Vintage Culture.
Além deles, nomes como Dimitri Vegas & Like Mike, ODESZA, RL GRIME, Illusionize, Groove Delight e KSHMR são alguns dos que passarão pelos três dias do evento.
Ainda que tenha faltado alguns artistas do meio, quem curte o gênero parece ter ficado satisfeito com essa ala do lineup e está pronto para fincar bandeira perto do Palco Perry nos três dias. Eu, se por Interlagos estiver, devo poupar a caminhada.
# Poderia ser melhor? COM CERTEZA!
A hipótese de que a demora na divulgação das atrações puxou a aceitação da lista para baixo é bem válida – e eu até compartilho dela -, mas as escolhas feitas pelo Lollapalooza para a sua edição 2019 vão gerar muita discussão até o fim do evento. Ainda que existam alguns bons artistas escalados, a análise da edição 2019 por completo gera uma sensação de que ficou faltando algo.
Mais uma vez, o Lolla Brasil segue fechado para o mercado latino, mesmo trabalhando em conjunto com o Chile e a Argentina. No ano que vem, ambos terão shows de Caetano Veloso, Los Hermanos e até do MC Kevinho, mas a edição brasileira parece seguir acreditando que atrações latinas não funcionam por aqui: o intercâmbio de atrações não acontece de lá para cá.
Isso nos impede de ver coisas interessantes como a Lali ou o Juanes, para citar alguns nomes que estão escalados para os festivais parceiros. Sem falar de Kali Uchis, Bajofondo, Amarga Marga, El Cuarteto de Nós, Kuervos Del Sur, Bomba Estéreo, Maná, Café Tacvba, Mala Rodríguez, Orishas, Luis Fonsi, La Oreja de Van Gogh, David Bisbal, Sebastian Yatra, Pablo Alborán ou a Becky G (ainda que ela seja americana), para citar outros artistas que estão fazendo sucesso e possuem origem latina.
Aliás, falando nos Lollas Chile e Argentina: Kamasi Washington, Ziggy Marley, Rosália, Francisca Valenzuela, Parcels, Fito Páez, Jorge Drexler e Clairo também estarão nos festivais vizinhos (ou pelo menos em um deles) e nem foram lembrados por aqui.
Outra questão importante é a baixa presença de mulheres no lineup. Em um momento onde as mulheres batalham cada vez mais pelo seu espaço, o festival acabou reduzindo ainda mais a presença delas quando comparado com a edição 2018. Uma pela, já que existem várias mulheres com bons trabalhos por aí e que merecem a atenção dos festivais no Brasil: Sia, Solange, SZA, Janelle Monáe, Kiesza, Bebe Rexna, Billie Eilish, Jessie Ware, Alice Caymmi, Charli XCX, Kiiara, Beth Ditto, Banks, Feist, Hayley Kiyoko, Pitty, Julia Michaels, Kesha, cupcakKe, as meninas do Ibeyi ou da AnaVitória, as bandas Hundred Waters, CHVRCHES, PVRIS, Paramore, Wolf Alice, Goldfrapp, Hinds ou Pato Fu. Isso sem contar a ausência mais sentida pelo público: Dua Lipa. Opções femininas não faltavam para suprir esse ponto, né?
Resumindo, muitos gostariam de ver nomes citados nos últimos parágrafos, ou mesmo outros não lembrados, no festival. Nós, aqui no Audiograma, soltamos, em junho, uma lista com 45 artistas que a gente adoraria ver no festival. Nossa bola de cristal falhou: apenas três aparecem no lineup, com outros dois fazendo shows solo no primeiro trimestre de 2019.
# E aí? Qual o veredito?
Existe uma série de fatores que determinam a montagem de um lineup de festival, sendo que a produção esbarra em agendas, vontade das atrações de virem para a América Latina naquele momento, custos, concorrência com outros eventos, ou até mesmo o interesse da curadoria do evento em convidar um determinado nome.
É cômodo apontar as coisas enquanto “analista de lineup” sem saber que, talvez, vários nomes lembrados pelo público foram procurados e acabaram não se concretizando. No entanto, a sensação de que algumas coisas ficaram faltando, a baixa presença feminina e a redução da quantidade de artistas em relação ao ano passado deixam a gente com um gostinho de “quero mais” ao analisar a lista final divulgada.
No ano passado, eu olhei para o lineup deste ano e pensei que, se a produção mantivesse a linha de raciocínio, a tendência era de festivais ainda mais interessantes nos próximos anos. Talvez a sombra do Rock In Rio ou a situação financeira da América Latina de uma forma geral tenha colaborado com isso, mas ainda que o Lollapalooza Brasil 2019 apresente bons nomes – alguns muito aguardados – acredito que o público esperava mais do que foi entregue.
Quer todas as informações sobre o Lollapalooza Brasil 2019? Acompanhe o nosso especial e fique por dentro de todas as novidades e informações necessárias para curtir o festival!
Enquanto o Lolla não chega, vale se preparar e ouvir um pouco de cada uma das atrações que estarão em Interlagos em março! Para isso, nada melhor do que uma playlist especial, certo?