“Quando uma criatura humana desperta
para um grande sonho e sobre ele
lança toda a força de sua alma, todo o
universo conspira a seu favor.” – Goethe.
No início de julho, tive a grande oportunidade de passar alguns dias na casa da cantora e compositora Jessie Evans, que atualmente reside em Ubatuba, no litoral de São Paulo. Antes de ir, não a conhecia pessoalmente e, por isso, estava ansiosa e ligeiramente apreensiva com o encontro, afinal, eu não sabia, exatamente, quem iria encontrar e como seria nossa relação. Felizmente tudo fluiu perfeitamente bem e eu me surpreendi positivamente com a Jessie, que tem um coração enorme e é uma pessoa imensamente atenciosa.
Durante o período em que passei com ela, conversamos sobre muitas coisas legais e também normais, tal como sonhos, cães, UFOs, Budismo, futebol, política, etc. Descobri que eu e ela temos muitas coisas em comum e, de certa forma, uma maneira muito semelhante de encarar e entender a respeito da existência. Temos, digamos, uma cosmovisão bem semelhante. Tudo isso é ótimo, já que atualmente é muito raro encontrar pessoas assim, com a mente aberta, questionadoras, com senso crítico e não alienadas, tal como é a Jessie.
Posso assegurar que ela me proporcionou momentos muito satisfatórios e que guardarei com carinho dentro de mim, para toda a eternidade. Eu descobri e explorei coisas maravilhosas dela e que foram novas para mim. Definitivamente, foi muito interessante viver em seu mundo por alguns dias e absorver um pouco dele, isso me fez bem e me ajudará a crescer e ter inspiração.
Conheci coisas novas sobre ela. Eu não sabia, por exemplo, que a Jessie praticava Ioga pelas manhãs – admirável. Também não sabia que ela dirigia kombi (e que kombi, meus amigos). Ela também me contou que o David Bowie já salvou a vida dela, e isso aconteceu de uma maneira profundamente mística. Também conheci um pouco da vida de sua mãe, que tocava bateria e escrevia poesias maravilhosas. Eu, inclusive, li algumas que estão compiladas num livreto. Também conversamos sobre as intrigantes pesquisas de Masaru Emoto, que mostram como as nossas emoções podem afetar a realidade ao nosso redor – isso foi uma grande surpresa, afinal, como eu saberia que a Jessie conhecia esse pesquisador que, aliás, muito me interessa!
O que encontrei foi uma pessoa alegre, imensamente gentil e acolhedora, inspirada com os detalhes mais sutis da vida, amante da natureza e que me proporcionou momentos muito agradáveis. Minha breve convivência com a Jessie Evans e com seu marido foi suficiente para compreender as razões pelas quais suas produções artísticas são tão profundas, encantadoras e contagiantes, pois conforme ela mesma me disse, sua arte é o mecanismo através do qual ela procura passar alegria para as pessoas.
Definitivamente, ela é uma das artistas mais autênticas que já conheci. Suas produções e sua vida cotidiana estão distantes da manipulação midiática e das exigências mercadológicas da indústria musical. Ou seja, a Jessie não é o tipo de pessoa que se deixa moldar pelas numerosas imposições externas da monstruosa fábrica cultural que inventa (pseudo) artistas e cria canções em laboratórios, sempre visando lucro; ela não é clichê, ela é uma artista de verdade.
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Em certo momento, em um dos vários dias da minha estadia no local, conversei com uma gentil vizinha da Jessie que me disse uma frase interessante, que decidi anotar imediatamente após escutar, e que faço questão de compartilhar com os leitores: “Atualmente tudo se copia e nada se cria”. Essa frase, infelizmente traduz esse pobre contexto artístico-cultural que predomina atualmente, no qual a originalidade costuma ser empolgadamente substituída pela padronização. É um período de decadência, em que há muito produto e pouca arte – a arte está perdendo sua aura, perdendo seu espaço. Mas claro, ainda há algumas almas verdadeiramente talentosas para nos salvar, como é o caso da excepcional Jessie Evans.
Não vejo a Jessie como uma pessoa a ser idolatrada. Detesto idolatria, pois, inspirada pelo pensamento nietzscheano, acredito que a quando idolatramos algo/alguém tendemos a criar idealizações e no instante em que idealizamos, nós saímos do mundo real, para somente nos agarramos em ilusões, por isso a idolatria pode ser nociva. Soaria ofensivo dizer que a vejo assim, até porque, uma pessoa humilde como ela, jamais se colocaria em um patamar diferente. Afinal, a Jessie também valoriza e dá atenção aos outros. Sinceramente, acredito que ela não quer ser idolatrada, ela quer ser valorizada. E é isso que ela tem de mim: eu a valorizo. E antes de a valorizar como artista, tenho apreço pelo grande ser humano que ela é, pela irmã que se tornou para mim, pela mãe carinhosa que é em seu cotidiano, pela esposa atenciosa que ela é, pela maneira adorável como trata os animais.
Dica aos interessados: para maiores informações sobre a indústria cultural, sugiro a leitura do livro A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica e estudos, em geral, sobre a Escola de Frankfurt, Theodor Adorno e Max Horkheimer. A compreensão desse assunto, ajuda – e muito – a compreender melhor os bastidores da atual indústria musical.