Quem me conhece, sabe que eu tenho um carinho especial pelo Festival Planeta Brasil e acompanho o evento desde a sua primeira edição, lá em 2009.
Sabe quando você se orgulha de algo feito na sua terra? É a minha relação com meu país Minas Gerais, com artistas locais, com os bares, subir Bahia, ir ao Maletta, o Independência, Mineirão e, claro, o Planeta Brasil não poderia ficar fora disso. Atualmente, esse é o grande festival da cidade e, ao longo dos anos, sempre buscou mirar no futuro, entregando um evento além dos palcos e tentar saciar uma saudade dos mineiros que vinha se prolongando desde o fim de festivais como o Pop Rock Brasil.
Em sua sétima edição, o Planeta Brasil resolveu fazer uma mescla de atrações, estilos e experiências na Esplanada do Mineirão, com nomes que vão de Phoenix e Mayer Hawthorne ao badalado Vintage Culture. O festival ainda rendeu momentos especiais como o encontro entre Criolo e Mano Brown, a apresentação do SOJA e aquele que foi o último show d’O Rappa em Belo Horizonte por um bom tempo (ou para sempre, não sabemos). Além da música, espaço com food trucks, painéis sendo pintados ao vivo, brinquedos, ativações de patrocinadores… tinha até uma mini-floresta (!) que mais parecia um oásis no meio daquele concreto e daquele calor que mais parecia um deserto.
Para um público de vinte e cinco mil pessoas, o Planeta Brasil mostrou uma evolução interessante e que parece consolidada em Belo Horizonte. Atendeu as reclamações da edição anterior e, ainda que tenha enfrentado novos problemas com os bares – por conta da demora no atendimento em alguns momentos – e existam relatos de pessoas que sofreram queimaduras por conta de fogos de artifício, não dá para dizer que o festival mereça uma avaliação negativa.
Assim como todos nós, o festival também passa por evolução. A gente aprende e cresce como tudo na vida e, desde de 2009, o Planeta Brasil vem crescendo e se mostrando capaz de aprender. Quem reside na capital mineira pode dizer que tem um festival para chamar de seu sem medo de ser feliz e, para quem gosta disso, é muito bom.
Mas e aí? Como foi o festival?
Com uma entrada mais organizada que a do ano passado, chegar a área do festival não foi problema. Para quem queria ver o show do Mayer Hawthorne e chegou ao local faltando dez minutos para o horário previsto, talvez o trajeto tenha parecido longo demais. Nada que uma corrida leve não resolva, não é mesmo?
O norte-americano empolgou o público – ainda pequeno – no Palco Norte, abrindo os trabalhos do evento naquele espaço. Com uma banda afiada, o empolgado Mayer interagiu, dançou, viu o céu despejar algumas gotas rápidas de chuva no exato momento em que tocava “I Wish It Would Rain” e, se tinha alguém ali que ainda não conhecia, provavelmente Mayer ganhou mais alguns ouvintes para os serviços de streaming e, porque não, para uma próxima visita a BH.
Após Hawthorne nos deixar, começou a maratona: a intenção era ver um pouco de cada um dos shows até a hora d’O Rappa subir no palco e, para isso, nada como boas caminhadas e as caronas nos tuk-tuks, que podemos chamar de triciclo motorizado, que faziam o transporte gratuito do público entre as áreas do festival. Nessa maratona, pude ver um pouco dos shows do 1Kilo, Orquestra Atípica de Lhamas, Maneva – mas não consegui ver a participação da Tati Portela, SOJA, o encontro entre Oriente e Iza, além de um pouquinho do show dos mineiros do Graveola. Entre um show e outro, ainda deu tempo de conhecer a área de food trucks e dar uma passada pela How Deep, espaço destinado a música eletrônica e onde tinha brinquedos como um tobogã no qual gostaria de ter descido – quem sabe ano que vem.
Pouco depois das 19h, os cariocas d’O Rappa subiram ao palco para se despedir de BH. Ainda não se sabe se por algum tempo ou pra sempre, mas a banda entregou aquilo que o público esperava: intensidade.
Passando pelos principais hits da carreira, o público nem ligou para uma certa “distância” no palco entre os integrantes e cantou a plenos pulmões a cada música, criando memórias que, pelo menos pelos próximos anos, ficarão guardadas e sem expectativa de renovação. A banda ainda abriu espaço para as participações de Oriente, cantando “A dama e o vagabundo”, e Iza, que dividiu com Falcão os vocais de “Pesadão”.
Com o fim da apresentação, eu tinha duas escolhas: fazer uma pausa e esperar pelo Phoenix ou ir correndo para ver o restinho do show da Anavitória. Quem tá na chuva (que não caiu no resto daquele sábado) é pra se molhar e lá fui eu tentar ver o show… no entanto, correr já não era uma hipótese e, quando eu me aproximava do Palco Sul, elas já estavam dando tchau ao público e foram embora.
Já que tinha atravessado a Esplanada, fiquei por lá a espera do Gabriel o Pensador. Não estava nos planos ver o show, pois já tinha visto alguns nos últimos anos e o horário o colocou dividindo espaço com o Phoenix, mas queria ouvir “Tô feliz (
Eu sempre fui partidário do “Phoenix é melhor ao vivo do que em estúdio” e, pela segunda vez, pude comprovar isso. A banda capitaneada por Thomas Mars sabe como poucos fazer um show digno de aplausos e, ainda que eu tenha perdido as primeiras músicas, chegar ao Palco Norte com a banda tocando os acordes iniciais de “Lisztomania” valeu a noite.
Daquele ponto em diante, a plateia já tava ganha. Mesmo em canções pouco conhecidas e que vem de seu recente álbum, Ti Amo (2017), a empolgação contagiante de Mars era mais do que suficiente para arrancar sorrisos naquela noite. E olha que boa parte do setlist veio do famoso Wolfgang Amadeus Phoenix (2009), álbum que catapultou o Phoenix para o mundo.
Por duas vezes, Thomas pegou o seu microfone com fio vermelho tradicional e foi sentir o calor do público de perto. Na primeira, cantou “If I Ever Feel Better” com quem estava próximo a grade. Na segunda, se jogou no meio das pessoas, segurou uma bandeira do Brasil, bebeu um copo de cerveja que estava na mão de um desconhecido e, na volta ao palco, ainda beijou uma fã.
Ao fim, com chuva de papel e tudo, a banda se despediu e deixou um show que, pra mim, foi ainda melhor que o que tinha visto lá em 2009. Além disso, provou que a banda realmente funciona ao vivo e é totalmente capaz de empolgar o público. Quem viu vai concordar comigo, seja quem estava no meio do público, a fã que ganhou um beijo do Thomas ou o Junior Lima, que tinha se apresentado no festival horas antes com o Manimal e curtiu o show do meu lado.
Agora era hora da escolha: Vintage Culture, Chapeleiro ou Criolo e Mano Brown. Enquanto boa parte do público travava um verdadeiro dilema – quem acompanhou as redes sociais do festival quando a grade de horários foi divulgada sabe do que tô falando, eu catei as minhas coisas e fui ver o encontro entre duas gerações do rap nacional.
“Convoque Seu Buda” abriu os trabalhos de um encontro que, se for possível, deveria se prolongar por mais tempo e render mais shows. Mesclando faixas de Criolo com o trabalho solo de Mano Brown e músicas do Racionais, o show foi elogiado por muitos e, durante os 40 minutos que por lá fiquei, não tinha como ser diferente.
No entanto, era fim de evento, foram horas andando, cansaço, joelho detonado, sedentarismo… vários foram os fatores que me levaram em direção a saída antes do previsto. Provavelmente, quando o show acabou, eu já estava na parte final do meu trajeto para casa com um misto de alegria por ter sobrevivido a mais um festival e tristeza por não ter visto um dos shows que mais queria por inteiro.
Espero que a dupla atenda o meu pedido e faça mais alguns encontros por aí.