Levou um tempo, mas enfim foi possível sentar e analisar com calma e tranquilidade o lineup do Lollapalooza Brasil 2018 e, se já precisamos deixar uma coisa clara, é que ele é um dos melhores já feitos desde a edição de 2013.
Assim como naquela edição, o festival terá três dias em 2018 e não poupou esforços na montagem de seu lineup. Prometendo mais de 100 artistas no começo de sua divulgação, a produção entregou 72 nomes importantes dentro das propostas do festival, no anúncio feito no fim do mês passado.
# Headliners
Os headliners do Lolla em 2018 serão ninguém menos que Pearl Jam, The Killers e Red Hot Chili Peppers. São as três principais atrações do festival, que fecharão o palco principal em cada um dos dias e incluir outros artistas nessa lista pra mim é até bobagem.
Presentes em 2013, os dois primeiros voltam ao festival em 2018 com missões distintas. De um lado, Brandon Flowers e companhia lançaram recentemente o seu novo álbum de estúdio, Wonderful Wonderful. Elogiado por muitos, o trabalho resgata um pouco daquilo que nós aprendemos a amar no The Killers e, com isso, a expectativa pela apresentação no Brasil já é grande.
Além das novidades, apresentações recentes como a realizada no Glastonbury mostram o quanto “Somebody Told Me” ou “Mr. Brightside” continuam interessantes ao vivo. Ainda que eu, particularmente, não veja a banda como merecedora do posto de headliner, não dá pra negar que eles possuem um bom show nas mãos e um público apaixonado em terras brasileiras, o que justifica a sua posição.
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Por sua vez, o Pearl Jam pode ser visto no momento como uma incógnita. A banda, que lançou recentemente (mais) um registro ao vivo em sua carreira, volta ao Brasil depois de uma excelente passagem em 2015 com a turnê de seu mais recente álbum, Lightning Bolt. De lá pra cá, a banda não trabalhou em material inédito, não tem feito muitos shows, viu seus integrantes se dedicarem a outros projetos e, ao que tudo indica, coisa nova não deve surgir até março.
Apesar disso, se tem uma banda que sabe fazer shows é o Pearl Jam. Sempre com setlists diferentes, a banda promove uma verdadeira viagem entre seus dez álbuns de estúdio, b-sides e covers, gerando uma experiência longa – shows com pelo menos trinta músicas – e interessante para os fãs. E isso não deve ser diferente no Lollapalooza.
O terceiro headliner da lista é ninguém menos que o Red Hot Chili Peppers. A banda voltará ao Brasil exatamente seis meses após sua passagem pelo Rock In Rio e ela causou um certo burburinho entre o público. Para muitos, a banda não deveria bater ponto no país novamente num espaço de tempo tão curto. Para outros, é mais uma chance de ver a turnê do álbum The Getaway, que só veio ao Brasil para o festival carioca.
Eu sou fã confesso da banda e tenho algumas críticas ao atual momento de Anthony Kiedis, Flea, Chad Smith e Josh Klinghoffer nos palcos. Ainda que os setlists proporcionem algumas surpresas ao longo dos shows, ele tem o seu esqueleto formado e raramente passa por alterações. O início do show é com “Can’t Stop” ou “Around The World”, a segunda música é “Dani California” ou “Snow” e a quarta música quase sempre é “Dark Necessities”. No meio, tem uma sequência com “Go Robot” e “Californication” e a parte final tem “By The Way” encerrando o show, além de “Goodbye Angels” e “Give It Away” no bis. Isso sem contar as várias jams (são pelo menos três em cada show) que podem até valorizar a qualidade instrumental da banda, mas tiram a chance dos fãs ouvirem coisas especiais. No meu caso, “Wet Sand”, “Funky Monks” ou “This Velvet Glove”, por exemplo.
Com onze discos na carreira e uma centena de boas músicas, esse formato pode ser maravilhoso para quem está vendo os caras pela primeira vez, mas se você é fã e quer ouvir outras coisas, essas variações pré-moldadas acabam cansando. E quando o assunto é o Brasil, a coisa piora um pouco por conta da “necessidade” que a banda tem de incluir faixas como “Did I Let You Know” por ela ter uma influência da música brasileira.
Como fã, eu quero ver a banda rasgar o protocolo e começar um show com “Give It Away”, tocar “Otherside” e “Scar Tissue” em sequência para todo mundo chorar junto, terminar com “Around The World”. Eu quero ver o Red Hot fugir do padrão criado e ser aquela banda que muita gente aprendeu a gostar. Não precisa nem colocar meia no pênis ao subir ao palco – até porque, no Brasil de hoje é melhor não fazer isso mesmo; mas esqueçam a formatação no supermercado e, se possível, tentem tocar mais. Todo mundo sabe que a banda pode fazer mais do que um show de 17 músicas.
# O lineup nacional
Mallu Magalhães, Ego Kill Talent, O Terno, Plutão Já Foi Planeta, Selvagens à Procura da Lei, Mahmundi, BRAZA, Mano Brown e Tiê são só alguns dos nomes nacionais que farão parte do Lollapalooza Brasil em 2018.
Elogiada por muitos, a lista tem proporcionalmente a mesma quantidade de artistas que nos anos anteriores, mas o grande ponto é que ela parece levar muito mais em conta o momento dos nomes escolhidos e conta com vários destaques no momento.
Por tudo isso, ver nomes como Ventre, Luneta Mágica, Rincon Sapiência, Liniker e os Caramelows, Tagore, Vanguart e a Francisco, el Hombre no festival é um ponto positivo para quem gosta de música nacional e que, nos últimos anos, andou torcendo o nariz para os nomes escolhidos pelo Lollapalooza, ainda que nomes como BaianaSystem, Karol Conka, Far From Alaska e Supercombo tenham passado por Interlagos.
# O Lolla enfim olhou para o rap
Depois de anos vendo a matriz de Chicago dar mais espaço para os novos nomes do rap, o Lolla resolveu atender o pedido de muitos e trazer ninguém menos que Chance The Rapper ao Brasil. Com apresentações sempre interessantes, o rapper tem tudo para dar ao público um dos grandes shows da história do Lollapalooza.
Além dele, o Lolla terá também a presença do Flower Boy e sempre excelente Tyler, The Creator e também de Anderson Paak que, acompanhado do The Free Nationals, mostrará um pouco do que fez ele se tornar um dos queridinhos da mídia especializada no último ano.
E não para por aí: o festival ainda contará com shows de Mac Miller, os nacionais Mano Brown e Rincon Sapiência, além de Wiz Khalifa, que vai colocar todo mundo para cantar “See You Again” a plenos pulmões em Interlagos.
Comparado com os últimos anos, a ala rap do Lolla tá bem interessante e vai atrair a atenção do público. Só faltou um certo Kendrick Lamar para ficar perfeito.
# O meio de campo internacional
Como reclamar de um festival que coloca Lana Del Rey, Royal Blood, LCD Soundsystem, Metronomy, Khalid e Mac Demarco no lineup? Tem atração para agradar os mais diferentes gostos nesse Lollapalooza e shows que podem ser bem interessantes ao longo dos três dias de idas e vindas pelo Autódromo de Interlagos.
Para começar, Lana Del Rey volta ao Brasil com a turnê de seu mais recente álbum, Lust For Life. Lançado em julho, o disco recebeu várias críticas positivas por conta de faixas como “Love”, “Summer Bummer” e a que dá nome ao registro. Além dela, o Royal Blood também volta com turnê nova ao país. Com shows sempre marcantes, o duo mostrará aos fãs algumas das faixas do elogiado How Did We Get So Dark?, lançado em junho.
Especulado no Lolla para este ano, o LCD Soundsystem fará parte do festival em 2018 e volta ao país depois de muitos anos com uma novidade na manga, o álbum American Dream. Lançado em setembro, o disco marca a volta do grupo capitaneado por James Murphy e mostra que esse pode ser mais um dos bons momentos do festival. Por sua vez, nomes como Volbeat e Spoon causaram surpresa no público. Enquanto a primeira é dona de um hard rock que vai empolgar os fãs do gênero no Lolla, a segunda tem um dos shows mais elogiados dentro do indie e, finalmente, resolveram levar isso em consideração. Outro nome interessante é o do The National, que chega ao país com o seu novo registro de estúdio, Sleep Well Beast.
O Lollapalooza Brasil ainda tem o grande David Byrne solto ali nas entrelinhas do lineup, além de nomes como Imagine Dragons, Zara Larsson, Alison Wonderland, Oh-Wonder, Milky Chance, The Neighbourhood e Kaleo, que possuem os seus fãs apaixonados. No entanto, a grande expectativa nesse meio de campo está nas mãos e nas costas de Liam Gallagher. Lançado na última sexta, As You Were vem recebendo elogios dos fãs e da crítica como o melhor trabalho do músico desde o fim do Oasis e só isso já é motivo para ver o cara ao vivo. Se não bastasse, dá pra matar um pouquinho da saudade do Oasis com o jeito peculiar de Liam no palco, né?
# A cena eletrônica
O Lollapalooza Brasil tem tratado com carinho quem gosta de música eletrônica nos últimos anos e, para 2018, o festival apostou em um time interessante capitaneado por DJ Snake, Kygo, Alok e Hardwell.
Além deles, nomes como Dillon Francis, Tropkillaz, Cheat Codes, o duo Galantis, Yellow Claw, DVBBS, Cat Dealers, Alan Walker, Sofi Tukker e FTampa são alguns dos que passarão pelos três dias de festival, em Interlagos.
Ainda que eu não curta tanto o gênero, tiraria um tempo para ver o Tropkillaz, o Galantis e o Sofi Tukker, só para ficar com “Drinkee” na cabeça. Aliás, essa deve ser uma daquelas músicas que a gente vai se cansar de ouvir ao andar por Interlagos, quer apostar?
# Poderia ser melhor? Ah, sim!
Partindo do ponto de que o festival tinha anunciado anteriormente que teria mais de cem atrações, a expectativa em torno do lineup foi lá no alto e, ainda que o resultado final seja bem interessante, algumas coisas precisam ser levadas em conta.
A primeira delas é a abertura para a música latina: o festival trabalha em parceria com os irmãos chilenos e argentinos, mas o intercâmbio de atrações para ambos os lados parece ser algo difícil de assimilar. Isso priva os hermanos de receberam coisas legais brasileiras (ainda que o Ego Kill Talent vá tocar na edição chilena) e nos impede de ver coisas interessantes como Bajofondo, Amarga Marga ou Kuervos Del Sur, para citar alguns nomes que estão no lineup dos vizinhos.
Outro ponto bastante destacado pelo público nas redes sociais é a baixa presença de mulheres no lineup. De 72 atrações confirmadas, apenas 17 são ou contam com mulheres em sua formação. Ainda que não existam cotas e que o objetivo principal o festival seja a música, existem várias mulheres com bons trabalhos por aí e que valeriam a atenção e a presença no lineup. Lorde, Sia, P!nk, Solange, SZA, Kiesza, Bebe Rexna, Alice Caymmi, Charli XCX, Kiiara, Beth Ditto, Banks, Feist, Azealia Banks, Dua Lipa, Pitty, Julia Michaels, Kesha, Mala Rodríguez, cupcakKe e até mesmo a Camila Cabello, que estará nos Lollas vizinhos, poderiam ajudar a aumentar essa margem por aqui. Isso sem contas duos ou bandas como HAIM, Paramore, CHVRCHES, Wolf Alice, Goldfrapp, AnaVitória, Pvris ou Pato Fu, para citar outras opções interessantes.
Ainda que a causa seja totalmente pertinente, falar de quem a gente gostaria de ver no Lollapalooza Brasil acaba sendo complicado, já que envolve uma série de fatores por trás da montagem de um lineup. Nesse ponto, a gente esbarra em agendas, vontades das atrações, custos ou até mesmo o interesse da curadoria do evento em convidar determinado artista. Muitos gostariam de ver nomes citados acima ou alguma outra não lembrada no festival. Nós aqui no Audiograma listamos em julho 35 artistas que a gente adoraria ver e, dessa lista, o festival lembrou de 10, sendo a principal delas o The Killers.
# E aí? Qual o veredito?
Ver o Lolla voltar a ter três dias é talvez o grande ponto positivo da edição 2018. Com um lineup que entrega bons nomes em diversas vertentes e atende alguns pedidos aclamados do público, o Lollapalooza Brasil joga das fichas em nomes consagrados na linha de frente e se permite ousar no meio de campo com nomes interessantes e capazes de fazer desse a melhor edição do festival.
Se vai superar 2013 na cabeça dos apaixonados por aquela edição nós ainda não sabemos, mas o festival parece ter assimilado o que acontece em Chicago e isso é muito importante. Se manter a linha de raciocínio, a tendência é de lineups ainda mais interessantes nos próximos anos.
Enquanto o festival não chega, vale se preparar e ouvir um pouco de cada uma das atrações que estarão em Interlagos em março. Para isso, nada melhor do que uma playlist especial, certo?
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