Fifth Harmony é aquele nosso amor da adolescência que a gente jura que superou, mas a qualquer sinal de que ele está um pouquinho arrumadinho e disponível a gente esquece a dignidade e solta um “oi sumido”.
Eu jurei que não ia voltar atrás, que estava cansada do grande número de adolescentes brigando por absolutamente nenhuma razão nas redes sociais, não queria me misturar com aqueles que não conhecem o limite de fanatismo VS. vida privada do artista e no final das contas, do alto dos meus vinte e três anos de idade, eu já havia me tornado uma tia dentro de fã base com uma média de 15-18 anos. Mas adivinha onde eu estou agora? Exatamente na frente do computador escrevendo uma review sobre o ultimo álbum de estúdio do agora quarteto. Mas o que tem nesse álbum que levou essa “tia harmonizer” a mudar de ideia?
Vamos analisar o contexto: não é de hoje que o Fifth Harmony promete um álbum com maiores influencias de urban e R&B, com mais harmonias e musicas autorais e citavam Destiny’s Child como um ‘goal’ na carreira. Eu, como toda apaixonada, fui iludida. Não que elas ignoraram isso totalmente, encontramos no Reflection e no 7/27 faixas que flertam com o R&B. Porém, o instrumental do material como um todo tinha um apelo pop. Até agora.
Se o 7/27 foi trabalhado na ideia de afastar os rumores de fim do grupo ou separação, o self titled… bom… então… boa sorte Camila! Esse é o primeiro álbum sem Camila Cabello. E qual o impacto musical disso? Lembra que a gente falou agorinha sobre o apelo pop? Camila é pop. 100%. Gostando ou não, ela é definitivamente a receita da artista pop prontinha. Pensa comigo: se o grupo perdeu a maior influencia pop, é a hora para entrar de cabeça (e sem cabello, rs) no urban, certo?! Foi o que eu pensei desde o anuncio da saída de “la cubana”, mas nem tudo são flores e o primeiro single foi “Down”.
Sabe quando você acerta quando faz uma coisa bem feita, e tudo que você faz depois é espelhado no acerto anterior? “Down” é a “Work From Home” fraca do terceiro álbum. “WFH” deu certo, foi hit, a gente amou. “Down” segue a mesma receita pronta, e se bobear você consegue cantar a letra completa da música por cima do instrumental de “Work From Home” (incluindo a parte do rapper Gucci Mane). Mas o ‘beat’ da irmã mais velha é superior.
Mas eu fui convertida lembra? Eu tinha desistido de Fifth Harmony e voltei correndo. SIM, voltei mais rápido que o Usain Bolt assim que ouvi “Angel”. Com produção de Skrillex e Poo Bear (que deveria ter dado algo parecido pra Anitta, um beijo Anitta!), divisão de solos justa e usando o melhor de cada uma, “Angel” foi injustamente lançada como single promocional, mesmo sendo uma das melhores músicas lançadas pelo grupo em 5 anos de carreira. A gente perdoa o erro porque usaram a faixa na apresentação icônica no VMA.
“He Like That” é oficialmente o segundo single do álbum, e conta com a composição de Ester Dean e trechinhos de “Pumps and a Bump” do Mc Hammer. É extremamente radiofônica e contou com o clipe mais adulto do grupo. Novamente, tanto clipe e faixa usam o que cada integrante tem de melhor, e mesmo Ally não ficando confortável com determinadas cenas, sua vontade foi respeitada mostrando que agora elas tem autoridade no que diz respeito ao grupo, algo que não acontecia antes.
Apontada por muitos como próxima música de trabalho, “Sauced Up” tem o nome das 4 integrantes nos créditos de composição e as 4 harmonizando o vocal. Se já estava ótimo em ter uma música autoral, imagina a felicidade (e milagre!) ao saber que há mais músicas autorais! “Messy” também é creditada ao grupo. Ponto para as meninas, mas a faixa não cativa ao ponto de ser lembrada entre as melhores faixas do álbum e poderia ser substituída por uma versão finalizada (na voz das 4 integrantes) de “Sensitive”, faixa vazada e encontrada na internet, por exemplo.
O que seria um álbum mais R&B/Urban sem a presença marcante de Dinah e Normani? Pois elas aparecem e MUITO. ‘Norminah’ dominam “Lonely Night”, excelente faixa que agrada muito desde o primeiro play no álbum, e novamente as integrantes são creditadas. Na igualmente cativante “Make You Mad” a voz de Ally Brooke se sobressai, mas sem exageros.
Assim como “He Like That”, “Deliver” conta com um time de peso para fazer um hit: The Stereotypes e Taylor Parks que estão por trás de singles de Jason Derulo, Alicia Keys, Usher e Mariah Carey. Nessa faixa em específico, dá pra sentir o tamanho da influencia das Destiny’s Child, algo que nos trabalhos anteriores não era tão evidente.
“Don’t Say You Love Me” é uma balada poderosa e com ótimos vocais, destaque para a forma que a música se encaixa perfeitamente na voz de Lauren Jauregui. Mesmo quando alguma das integrantes recebe um número maior de solos em uma faixa, isso é compensada em outras, as divisões de solo são realmente respeitadas algo que se perdia no Reflection e 7/27. “Bridges” fecha o álbum. Quando analisamos a letra e o atual momento da sociedade mais um ponto positivo para a girlband:
Nós construímos pontes / Oh, nós construímos pontes / Não, não iremos separar / Sabemos que o amor pode conquistar o ódio / Então, nós construímos pontes / Pontes, não muros.
Sentiu a indireta @? Pois a indireta veio novamente das 4 integrantes que fazem questão de divulgar a diversidade e minorias que representam.
O Fifth Harmony apresenta um material bem mais homogêneo que os trabalhos anteriores. É visível o amadurecimento visual e musical. Atirar para todos os lados no terceiro álbum, após aproximadamente 5 anos de carreira seria saturar a imagem só para tentar boas posições em charts. Escolher um ritmo musical predominante e investir nele foi definitivamente a escolha mais sábia no momento. Não tocar no assunto Camila e afirmar que isso não tem ligação com a postura atual do grupo (até mesmo no quesito contratual), seria equivalente a ignorar um elefante no meio de uma sala. O tempo de saída – conturbado ou não – foi exato. Não que ela fosse o problema, mas tudo o que cerca o grupo estava longe da mínima organização necessária para que a carreira de todas, inclusive da própria, continuasse e de uma forma saudável. Foi necessário um choque para que isso acontecesse. Sem querer dar um passo maior que as pernas, Fifth Harmony usa o último álbum quase que como um novo debut, com os pés no chão, apresentando as 4 faces do agora muito mais harmonioso grupo.
Fifth Harmony – Fifth Harmony
Lançamento: 25 de agosto de 2017
Gravadora: Epic/Maverick/Syco
Gênero: Pop/R&B
Produção: Poo Bear, Skrillex, Ester Dean, The Stereotypes
Faixas:
01. Down (Feat. Gucci Mane)
02. He Like That
03. Sauced Up
04. Make You Mad
05. Deliver
06. Lonely Night
07. Don’t Say You Love Me
08. Angel
09. Messy
10. Bridges
PS.: Essa “tia harmonizer” que vos escreve, estará presente em um dos três shows do Fifth Harmony no Brasil. Quer saber mais detalhes dos shows? Tá aqui nosso post.