De fato, o que é o pop? Um estilo musical? Um rótulo mercadológico ou sociocultural? O termo Pop se origina da palavra Popular; é aquilo que é feito com ou sem a intenção mas acaba chegando na atmosfera de consumo em massa. Ao longo da história, a conotação do pop, especialmente nas artes, ganhou tom depreciativo, nos momentos que falamos em música, é normal escutar alguém falar “Eu não gosto de pop”, quando na verdade pop é uma terminologia puramente rotularia do que atinge uma atmosfera de consumo ampla e não um estilo musical por si.
Ao passar da história, o pop já foi rock, synthpop, reggaeton, dancehall e muitos outros estilos, mas se o pop abrangeu tantos estilos porque tamanha rejeição de alguns? A resposta dessa pergunta é bem mais complexa que pensamos, a valorização de estilos hiper valorizados e culturas alternativas tem um pé – talvez inconsciente – na ideologia aristocrática da arte privativa, aquela que é apreciada por poucos, que tem qualidade distinta a partir do público que a consome… O que de fato é uma grande besteira num mundo em que há espaço para todas as cores, formas e ritmos.
E ainda falando disso, essa lista foi pensada como um retrato fiel do que atingiu a cultura popular em cada uma das respectivas épocas abordadas e como o pop cresceu e se consolidou a partir de produções icônicas, hits globais e surgimento de tribos urbanas. O ano de 1978 foi escolhido como ponto de partida e a lista se encerra com as apostas musicais para 2018; são 40 anos de música divididos em duas publicações diferentes 1978-2006 e 2006-2018, a seleção foi feita com embasamento em paradas globais e sucessos conectados a sensações e modismos repentinos das grandes cidades. Alguns artistas, bandas e músicas famosas ficaram de fora, não por esquecimento, mas por uma música com ideia musical e de público alvo equivalente já estar presente na lista.
# Kate Bush – “Wuthering Heights” (1978)
Com apenas 17 anos, a lendária Kate Bush lançou “Wuthering Heights”, inspirada no romance homônimo de Emile Bronte. Mais tarde, o teor teatral e multifuncionalismo da cantora e musicista se tornaria uma grande inspiração principalmente para as cantoras pós anos 90-2000, como Bjork, Lady Gaga, Marina & The Diamonds e Lana Del Rey.
# Chic – “I Want Your Love” (1979)
Instrumentos variados, um espírito jazz-rock e a euforia magna do prelúdio aos anos dourados. Em 79, o baixista Bernard Edwards e o guitarrista Nile Rodgers trouxeram a vida noturna o frescor de um novo ritmo. “I Want Your Love” carrega em si os primórdios da disco music que há pouco, serviu de inspiração para o duo Daft Punk e Calvin Harris em seus recentes trabalhos.
# Cyndi Lauper – “Girls Just Wanna Have Fun” (1983)
Embora não tenha sido composta propriamente por Lauper, o debut single da cantora serviu como um ótimo aperitivo de sua atitude “girl pwr” transgressora que mais tarde surtiria impacto em toda uma geração de cantoras.
# Michael Jackson – “Thriller” (1983)
“Thriller” é provavelmente a produção que deu origem ao formato atual de comercialização musical. A idealização de um conceito visual, minuciosamente planejado acompanhado de uma coreografia elevou naquela época as produções visuais a um grau de importância antes não existente.
# A-ha – “Take On Me” (1984)
O maior sucesso da febre synthpop oitentista representa aqui a época de grandes sucessos de bandas como Tears For Fears, Petshop Boys, New Order e Alphaville. Os noruegueses do A-ha contribuíram e muito para a fama da qualidade musical escandinava, de onde surgiram nomes importantes do atual cenário musical como os produtores Max Martin e Shellback.
# Madonna – “Vogue” (1990)
A canção dance-pop acentuada house music de Madonna é um fiel retrato da efervescência criativa do início da década que encerrava o milênio. “Vogue”, canção inspirada em dançarinos do estilo de dança homônimo se tornou um hino para a comunidade LGBTQ e um assopro do que estaria por vir nos anos seguintes, especialmente na cenário alternativo das grandes poles que desenvolveram diversos estilos derivados da house music.
# Backstreet Boys – “Everybody” (1997)
O smash-hit da boyband mais famosa dos anos 90 contou com a produção do já mencionado Max Martin. Os Backstreet Boys apresentavam comercialmente e musicalmente um estilo fabricado para o público jovem daquela época e seu equivalente feminino seria as Spice Girls. O fenômeno mercadológico da criação de boybands e girlbands é sempre uma forma interessante de estudar potenciais individuais (carisma, preferência pública, fama, etc) a partir do coletivo e posteriormente investir na carreira solo de um determinado artista – vide Beyoncé, Zayn, Justin Timberlake ou Camila Cabello.
# Britney Spears – “Baby One More Time” (1998)
O debut single de Britney Spears apresenta toda inocência que mais tarde seria estilhaçada pelos álbuns adiante seu terceiro álbum de estúdio, o auto-intitulado Britney. A canção coincidentemente também composta e produzida por Max Martin é um dos grandes feitos da carreira de Britney, embora a recepção crítica tenha a taxado como “enjoativa e prematura”.
# Eminem & Dido – “Stan” (2000)
A virada de século nos EUA foi marcada pela glamourização do estilo gangster. O universo do movimento de gangues nos anos 90 serviu como combustível para a criação de versos consagrados na história do rap, e em meio a tudo isso, Eminem – contemporâneo de Kanye West, Nas, Lil Wayne, T.I. e Jay-Z – direcionou sua arte em tom pessoal, adotando uma postura iconoclasta e dilemática acerca do ícone que havia se tornado, questionando sua influência pública e fama. O resultado disso rendeu a icônica “Stan”, faixa em parceria (sample) com a cantora Dido, presente no aclamado The Marshall Mathers LP. O clipe doentio da faixa e o triunfo de Eminem e seu exército no VMA 2000 são o perfeito retrato das obsessões de toda uma geração.
# Christina Aguilera, P!nk, Mya, Lil Kim & Missy Elliot – “Lady Marmalade” (2001)
Regravada para o filme Moulin Rouge!, do gênio Baz Luhrmann, o clássico de Labelle ganhou uma nova versão na voz das cantoras Christina Aguilera, P!nk, Mya, Lil’Kim e Missy Elliot.
# Christina Aguilera & Redman – “Dirrty” (2002)
O single que iniciou os trabalhos de Aguilera para o aclamado álbum Stripped, de 2002, teve o polêmico clipe dirigido por David LaChapelle e foi escrita com base na faixa “Let’s Get Dirty (I Can’t Get In Da Club)” de Redman, que posteriormente foi adicionado a faixa. A reinvenção temática e explicitação de temas feita por Aguilera e Britney Spears naquela época serviu como base para Miley Cyrus, Demi Lovato, Ariana Grande e também Selena Gomez, que tentou repetir o efeito de Stripped com seu álbum Revival.
# Avril Lavigne – “Complicated” (2002)
Enquanto Aguilera e Britney inspiravam padrões e sensualidade, e erguiam seu mercado com tal ideologia de público, Avril Lavigne surgiu dilemática, rebelde, complicada como seu debut single “Complicated”. Nessa época, começava a se tornar nítido a cortina de potências que anos depois iriam sintetizar o que foi o fenômeno “pop 2000”.
# The Killers – “Mr. Brightside” (2003)
As grandes cidades em constante expansão e os delírios capitalistas do início dos anos 2000 favoreceram o surgimento e fortalecimento de movimentos que mesclavam uma ideologia pós-punk e emocore, e foi esse o público que consumiu ou foi consumido por “Mr. Brightside” do The Killers.
# Beyoncé & Jay-Z – “Crazy In Love” (2003)
Hoje quando pensamos no fenômeno que Beyoncé se tornou e em todos seus feitos, fica difícil de lembrar que ela já pertenceu a uma girlband, mas sim, a cantora veio do Destiny Childs e “Crazy In Love” é o seu fervoroso single de estreia de sua carreira solo. A música que possui versos de Jay-Z apresentou ao mundo uma popstar diferente daquelas já existentes no cenário; havia atitude, sensualidade e carisma sem fim na figura de ghetto girl promovida por Beyoncé.
# Britney Spears – “Toxic” (2004)
Depois de estilhaçar a imagem de good girl com “I’m Slave 4 You”, a cantora elevou sua carreira e fez um dos clipes mais memoráveis da cultura pop. “Toxic”, segundo single do álbum In The Zone, consagrou a ex-Disney Girl como um verdadeiro símbolo sexual.
Leia mais: Ouça a voz real de Britney Spears na demo do hit “Toxic”
Britney é uma das únicas cantoras mencionadas aqui duas vezes por músicas próprias e não parcerias e não é à toa. As curvas de sua carreira sempre exerceram impacto de mão dupla; ela sob o pop e o pop em sua carreira, seja como good girl, ícone sexual ou estrela afetada pela fama. É inegável.
# Jennifer Lopez – “Get Right” (2005)
Se favorecendo da ascensão do hip-hop, várias cantoras e cantores se apropriaram de características do estilo e J-Lo não foi diferente. “Get Right” por si só é uma sofisticada e bem pensada produção, porém, exemplifica toda a sonoridade mainstream de uma época com desdobramentos variando entre soul, r&b e hip-hop que perdurou até o fim de 2007, quando a atenção volta novamente ao dance-pop.
# Bob Sinclair – “Love Generation” (2005)
A memorável produção electro-house do DJ francês se tornou um mega sucesso em 2005 e invadiu as pistas de dança de todo o mundo. É interessante observar como nessa época formava-se um esboço do atual cenário musical; a eletrônica de Bob Sinclair com os vocais do jamaicano Gary Pine é um perfeito retrato do resgate eletrônico a musicalidade latina e caribenha que seria enfatizado no mainstream anos depois por David Guetta, Major Lazer, etc.
# Shakira & Wyclef Jean – “Hips Don’t Lie” (2006)
Por mais que já fosse conhecida internacionalmente, “Hips Don’t Lie” levou Shakira ao almejado topo da Billboard nos Estados Unidos e em vários países da Europa e se tornou uma das canções com maior número de vendas no século XXI. Esse foi um momento muito importante para o pop latino, afinal, uma colombiana e um haitiano ocupavam o lugar mais almejado das restritivas indústrias musicais europeias e da América do Norte.
# Nelly Furtado & Timbaland – “Say It Right” (2006)
Seguido a mesma linha pop acentuado hip-hop, “Say It Right” foi um dos grandes hits da década passada. Produzida por Timbaland e Danja – que se tornaria uma lenda após o álbum Blackout de Britney Spears, a música alçou posições altas em paradas de todo o mundo e marca o ápice da carreira de Nelly Furtado.