Não faz muito tempo, embarquei em uma viagem rumo ao meu passado musical que me rendeu uma playlist com mais de 150 músicas no Spotify, além de um texto sobre a influência da minha mãe no meu gosto musical lá pelas bandas do Medium.
O meu gosto musical foi moldado por três fases interessantes da vida: a primeira delas é representada pela minha casa e a minha criação. A segunda pela influência dos meus primos mais velhos, que me apresentaram a trinca formada por Pearl Jam, Nirvana e Metallica e também a rádio 98FM, quando esta ainda era conhecida como “a melhor do pop rock”. A terceira fase – que se estende até os dias atuais – é representada pela internet, seus blogs de música e downloads de MP3, aquele arquivo que muita gente baixava antigamente e hoje nem sabe pra que serve graças ao streaming, sabe?
Enquanto relembrava histórias com minha mãe e tia que deram origem ao texto no Medium e a playlist cujos links estão nesta coluna, comecei a relembrar das músicas, momentos e histórias ligadas a cada uma delas. Eu cresci em uma casa com duas mulheres e posso dizer que a minha paixão por música vem desde pequeno. Inclusive, existem registros antigos em que apareço agarrado em vinis enquanto tinha idade suficiente apenas para bagunçar a casa e ficar correndo de um lado para o outro tentando explorar um mundo novo.
Cresci ouvindo de tudo um pouco. Roberto Carlos. Raça Negra. Beth Carvalho. Fundo de Quintal. Bezerra da Silva. Alceu Valença. Zé Ramalho. Na minha casa existiam fases. A única fase que nunca passou era a das rádios adultas. Quem mora em São Paulo tem a disposição a Alpha FM ou a Antena 1, por exemplo. Aqui em Belo Horizonte – e, posteriormente, Sabará – além da segunda citada, existe até hoje a Alvorada FM e elas fizeram parte do meu primeiro grande contato com a música.
Se eu tive fases da vida que contemplaram coisas que vão de Banda Magníficos e o seu grande sucesso “Me Usa” até Julio Iglesias cantando “La Cumparsita” em um disco dedicado ao Tango, a programação das rádios adultas tinha o seu lugar cativo no som de casa. Desde pequeno, cresci com Phil Collins, Seal, Michael Jackson, Stevie Wonder, Tracy Chapman ou Toto como trilha sonora, para citar alguns dos mais variados artistas que passaram pelas programações dessas rádios e, por consequência, pelos seis ouvidos da casa.
Você também se lembra do Mike Tyson em Se Beber Não Case ao ouvir essa música? Toca aê! o/
Eu sempre tive dificuldade em dizer quais eram os meus artistas preferidos. Sempre digo que a ordem muda e que os cinco principais podem ser diferentes em cada momento da minha vida, mas que coisas como Pearl Jam, Red Hot Chili Peppers e Silverchair estarão sempre presentes. Dessa primeira experiência com a música, pouca coisa faz parte do meu repertório atualmente em sua totalidade. Eu gosto de algumas músicas do Seal, mas ele não faz parte da minha lista de artistas preferidos num todo. O mesmo vale para o Rick Astley ou para o Christopher Cross, apesar de músicas como “Cry For Help” e “Ride Like The Wind” serem sensacionais. Dessa primeira fase musical, o único artista que permaneceu firme entre os meus preferidos foi o Michael Jackson, além de nomes como Depeche Mode, Stevie Wonder, Pet Shop Boys ou New Order, que eu ainda escuto com certa frequência.
No entanto, várias foram as músicas que me acompanharam daquela época até os dias atuais. Tive momentos inspirados como tocar “Baby Can I Hold You” da Tracy Chapman na rádio da escola quando eu tinha 14 anos para uma menina que eu gostava. Já me apaixonei pela Dolores O’Riordan e seus 1.58cm após ver um DVD do The Cranberries. Também ouvi até cansar aquele álbum ao vivo que o Men At Work gravou no Brasil em 1996 e que nunca achei para comprar ou ouvir nos streamings. Uma das primeiras músicas que tentei tirar no violão não foi do Legião Urbana, mas sim “Tears In Heaven” do Eric Clapton.
Eu adorava ficar cantando “Girl I’m Gonna Miss You”. Quando tocava no rádio, eu parava o que tivesse fazendo para ficar ouvindo e cantando junto. Na última vez que fiz isso, tive a minha vida arruinada pelo locutor da rádio que contou para quem quisesse ouvir que o Milli Vanilli não passava de uma farsa e que “qualquer um agora poderia fazer sucesso”. Esse dia também ficou marcado como “o dia em que eu decidi ter uma banda”, algo que chegou a sair do papel mas nunca pisou num palco de fato.
Me lembro da minha mãe dançando “Footloose” enquanto me arrumava pra escola e me sacudindo pela sala de casa como se eu fosse o Kevin Bacon naquele filme. O mesmo acontecia quando tocava “Part-Time Lover” do Stevie Wonder ou “Karma Chameleon”, clássico do Culture Club. A gente tinha nossos momentos especiais…
O tempo passa e muita coisa acaba se perdendo nessa vida. Um dos exercícios que eu tenho feito em terapia é olhar para o passado e tentar entender um pouco sobre como eu cheguei até aqui nos vários campos da minha vida. Falar de música é uma coisa legal e, além disso, foram bons anos trabalhando em rádios. No entanto, entender como isso tudo começou e conseguir assimilar sem sentir vergonha de qualquer experiência é ainda melhor.
Hoje em dia eu não escuto Martinho da Vila ou Jorge Aragão com a mesma frequência que ouvia em uma época da minha vida. O mesmo vale para a Banda Magníficos ou para o CD Axé Brasil 1997, mas ter passado por essas experiências me fez criar uma aceitação um pouco maior aos gêneros alheios ao meu gosto musical. Tanto que, durante os anos passados em rádio, eu nunca trabalhei em uma que fosse 100% Rock. Tudo isso faz com que hoje eu possa ouvir Demi Lovato, MC Lan ou The Chainsmokers sem as famosas pedras na mão que a gente insiste em carregar. Se eu gosto ou não é uma outra história e isso não cabe aqui, mas mergulhar nessas experiências antigas são uma boa forma de entender os motivos pelos quais esse espaço existe, principalmente quando se tem dúvidas sobre o seu futuro.
Enquanto eu não tenho filhos para dançar com eles pela sala ouvindo “Never Gonna Give You Up” e contribuir com as suas memórias, sigo recordando as minhas em uma casa com duas pessoas que me fizeram gostar de música e, para isso, me fizeram ouvir de tudo um pouco. Como bem disse lá pelo Medium, “muitas coisas fizeram com que eu ainda dividisse o mesmo teto com elas depois de 30 anos. Sejam boas ou não, elas fizeram com que momentos tivessem significados especiais na minha vida”.
E você? Quais as recordações de sua infância que você passaria adiante?
Uma parte das minhas estão nessa playlist: