Desde sua definitiva ascensão no início de 2012, Lana Del Rey é um dos nomes mais comentados no mundo da música por críticos e amantes, sejam os que vangloriam seus trabalhos ou aqueles que desdenham.
O fato é que Lana assina tudo em sua obra, escolhe a dedo seus parceiros para criação de seus projetos e faz questão de que o mundo saiba que ela tem total poder criativo sob sua arte e para evidenciar de melhor forma o quão extraordinária é Lana Del Rey, aqui estão alguns dos mais admiráveis feitos da cantora.
# “Freak” – O conjunto da obra
Musicalmente falando, “Freak” é uma canção R&B com influência trap/hip-hop, um jazz-rock com arranjo marcado por linhas de baixo altamente expressivas, um poderoso saxofone e efeitos de mellotron, além da poética letra que enaltece o estado da Califórnia em versos que fazem referencias explicitas ao movimento de contra cultura e a literatura beat.
O clipe – com mais de 10 minutos – narra através de cenas alternadas a dualidade entre a realidade sóbria e a ilusória viagem causada pelo LSD. Poderia ser banal, mas a direção de fotografia extremamente intimista e a atuação de Father John Misty fazem do vídeo um dos principais registros da carreira de Del Rey. Fora isso, o encerramento conta com belíssimas cenas aquáticas ao som de “Clair de Lune” do musicista francês Claude Debussy.
“Gods & Monsters” – o conjunto da obra
A canção detentora da icônica frase “In the land of Gods & Monsters, I was an Angel living in the garden of evil” é basicamente uma poesia melódica. Seu arranjo angelical amanhece em nossas mentes uma perspectiva teatral da música, o que serve como complemento a letra, que por sua vez é extremamente desilusional e conta em versos a saga de uma “party girl hardcore”, a falta de fé e a perda de inocência – temas decorrentes na carreira de Lana, com referencias a Jim Morrison e a obra “Intenções: quatro ensaios sobre estética” de Oscar Wilde.
Seu vídeo musical, extraído do curta metragem Tropico, de Del Rey e Anthony Mandler, é de altíssima sensibilidade visual, desde o longo monologo de introdução que conta com o poema “O Uivo” – do poeta beat Allen Ginsberg – até as cenas de relance onde Del Rey aparece festejando com maquiagem de caveira mexicana em seu rosto após vez que o trecho “I’m living like Jim Morrison” é proclamado.
São alguns pequenos detalhes que fazem de “Gods & Monsters” não só o ápice de Tropico, mas também um dos grandiosos momentos da carreira de Lana Del Rey.
# “Fucked My Way Up To The Top” – Música
“Uma declaração a nível biográfico” é uma das melhores formas de descrever a canção “Fucked My Way Up To The Top”, presente no álbum Ultraviolence (2014).
O arranjo parece conter samples não tão comuns para as musicas de hoje, como ruídos captados por sonar e o som de um trem, mas isso não significa que a música seja um rito experimentalista. Muito ao contrário, a canção incorpora o estilo clássico das baladas de Del Rey, porém com uma produção extremamente sofisticada.
Contudo, a letra que foi entendida como indireta para contemporâneas como Lorde ou Lady Gaga, é um manifesto pessoal da cantora, uma carta aberta para si mesma em diversas circunstancias.
# “Art Deco” – Instrumental
Embora a letra e os vocais de Lana Del Rey na música sejam deliberadamente fascinantes, a instrumental de “Art Deco” mescla sintetizadores, pianos, violinos e flautas, sendo assim uma obra a parte, verdadeiramente estonteante. Basta escutar para viajar de volta aos loucos anos 20 na grandeza da ascensão americana; os arranha-céus e as obras de Tamara de Lempicka.
# “Cola” – Letra
A letra mais polêmica da cantora não é simplesmente uma frase erótica aleatória tentando soar original. A metáfora por trás do famigerado “My pussy tastes like Pepsi Cola” se deve ao patriotismo da cantora.
A ideia para a canção teria nascido da afirmação feita por seu ex-namorado, o escocês Barrie-James O’Neil, que disse impressionado com a paixão das estados-unidenses à pátria. “Vocês garotas agem de tal forma que parecem dormir enroladas na bandeira dos EUA e ter a b*ceta com gosto de Pepsi”.
Lana em sua capacidade de percepção poética para compor transformou a frase em um dos versos mais imponentes presentes em seus álbuns.
# “West Coast” – A versão enviada as rádios
Um rock psicodélico com pegadas de surf-rock. A versão de “West Coast” presente no álbum parece exatamente a alquimia que Lana Del Rey e Dan Auerbach tanto procuravam em estúdio quando produziam o álbum Ultraviolence (2014). Porém, a versão enviada às rádios, com tom sutilmente comercial e sonoridade acústica não é só tão boa quanto a versão do disco, mas para alguns até melhor.
# A estética de seus álbuns
A mensagem de seus álbuns soaria nula caso suas produções não fossem acompanhadas da opulência visual pela qual Lana preza em suas criações; Born To Die (2012), seu álbum de estréia é uma visão jovem, apaixonada e nostálgica do sonho americano e dos delírios de um romance nos deslumbres do capitalismo, já seu relançamento Paradise, também de 2012, traz mais do mesmo conceito, porém com o acentuado desejo de liberdade e uma glamorosa obscuridade na forma com que os tópicos como amor, riqueza e drogas são abordados.
Para seu LP de 2014, Ultraviolence, Lana apostou na espontaneidade da criação do disco; alusões a drogas como Peyote, sua obsessão por Los Angeles, Eagles e jaquetas de couro, em contrapartida, Honeymoon (2015) traz a tona uma imagem ensolarada, sóbria e bastante leve em relação a de seus antecessores, porém, a imagem veranil que o álbum transmite se dissipa ao longo da compreensão da real essência do disco, que resgata conceitos metafísicos em sua composição, como a obra do escritor ganhador do Nobel T.S. Eliot, sendo assim o mais complexo e ambicioso álbum da cantora até o presente momento.
# “This Is What Makes Us Girls” – intertextualidade ritmo x letra
A faixa de encerramento da versão standart do álbum Born To Die possui uma letra que narra a visão de Lana sobre sua adolescência e a versão presente no álbum faz com que os acontecimentos soem nostálgicos e até tristes devido ao arranjo produzido por Al Shux e Emile Haynie, repleto de efeitos sonoros como vozes e ecos durante toda a música.
Porém, para a alegria de seus fãs, chegou à internet uma versão alternativa da faixa, que conta com um reluzente arranjo de violinos e batidas de hip-hop em tons mais notáveis. Embora ambas as letras sejam basicamente iguais, com mudanças quase não perceptíveis no início e encerramento, existe uma teoria entre seus admiradores de que a versão presente no álbum narra os fatos enquanto lembrança, já a versão alternativa narra os enquanto acontecem.
De fato a versão vazada na internet foi divulgada em altíssima qualidade e finalizada, se tratando de uma versão secundária e não uma versão demo.
# “Ride” – monologo
Um poema extremamente íntimo, belíssimo, repleto de confissões pessoais; desilusões e sonhos.
É necessário ver para compreender.
# “Serial Killer” – música
A adrenalina de um amor perigoso, cheio de altos e baixos sendo relatada em versos doces e rimas estonteantes como “Just have fun. Wanna play you like a gameboy. Don’t want one. What’s the thrill of the same toy?”.
Embora Lana tenha a cantado ao vivo durante a Endless Summer Tour (2016), a canção permanece com status de faixa não lançada, mesmo sendo amada por quase todos seus fãs e considerada por alguns como a melhor faixa de sua carreira, ou pelo menos a melhor entre as centenas que vazaram na internet e que dia após dia são vazadas.
# Suas criações com The Weeknd
“Prisoner”, “Party Monster”, “Stargirl” e uma conclusão: The Weeknd já é bom mas com Lana Del Rey, ele consegue ser ainda melhor.
# “Love” – Clipe
Seu mais recente lançamento tem direção assinada por Rich Lee e é uma viagem espacial de quase 5 minutos e não poupa o uso de recursos visuais.
Como em “Up&Up”, dos britânicos do Coldplay, o vídeo de “Love” é inspirado na técnica da colagem virtual, uma das novas vanguardas contemporâneas que luta para ganhar espaço e reconhecimento no mercado da arte.
Através de seu Instagram, Del Rey publicou imagens de artistas como Beth Hoeckel, Eugenia Loli e Mariano Peccinetti, ilustradores de renome por suas obras de colagem.