Ela dividiu os TOP 10 dos charts com o U2. Excursionou com os Rolling Stones. Recebeu elogios de Paul McCartney. Poucas pessoas podem colocar isso em seu curriculum musical e essa pessoa conseguiu tudo isso em pouco mais de três anos.
Nascida no estado do Oregon em 1958, Meredith Ann Brooks ou, simplesmente, Meredith Brooks, ficou conhecida nos anos noventa graças ao seu primeiro álbum de estúdio, Blurring the Edges. Lançado pela Capitol Records em 1997, o trabalho deu a cantora, guitarrista e compositora o seu primeiro (e único) grande hit da carreira, “Bitch”.
A canção rendeu duas indicações ao Grammy, recebeu disco de platina, esteve no TOP 10 na Austrália, na Europa, chegou ao #2 na Billboard HOT 100 por quatro semanas seguidas e também ao #1 da Mainstream TOP 40. Hoje isso acontece com mais facilidade, mas nos anos 90 não era tão simples. Ainda mais para uma cantora que vinha na batalha desde o fim dos anos 80 e só conseguiu o seu primeiro contrato profissional em 1995.
Não dá para ser injusto, já que o segundo single de Blurring the Edges, “What Would Happen”, também teve uma boa recepção nos charts, mas nada parecido como a música anterior. Como comparação, o pico atingido por “What Would Happen” foi o #15 na Mainstream TOP 40 e #46 na Billboard HOT 100. Bom para os padrões dos anos 90, ainda mais para uma novidade no mercado. No entanto, foi graças a “Bitch” que as coisas aconteceram. Conhecida também como “Nothing In Between” (titulo usado por algumas rádios americanas como forma de ~aliviar~ o peso do título original), a música deu a Meredith uma extensa turnê mundial, colocou a cantora na trilha sonora de What Women Want, filme de 2000 que teve a direção de Nancy Meyers e foi estrelado por Mel Gibson e Helen Hunt – quem viu o filme certamente se lembra da cena em que Gibson está usando roupas femininas, maquiagem e cantando o seu refrão clássico – e ainda rendeu aparições em programas de TV como The Tonight Show, Conan O’Brien e VH1 Divas, para citar alguns deles.
Logo que a música estourou, Meredith encarou uma comparação inevitável com outra cantora de sucesso dos anos 90: Alanis Morissette. Apesar de Brooks afirmar que aquilo não a chateou, foram diversas comparações de veículos como Billboard, Entertainment Weekly e The Los Angeles Times ou críticos como Stephen Thomas Erlewine, que chegou a afirma era só um clone da voz de “Ironic”. Alguns chegaram a envolver Alanis a produção da faixa, algo que foi negado por ambas as partes. O que se sabe é que Geza X, um dos produtores de Blurring the Edges, buscava um nome para a Capitol que ocupasse a lacuna criada graças ao sucesso de Alanis. No entanto, Geza nem chegou a aproveitar o sucesso de “Bitch”, pois foi demitido pouco depois do lançamento do álbum.
Com sua turnê se tornando cada vez maior, Meredith Brooks aproveitou para desenvolver o Anybody’s Mentoring Program (AMP), um programa com o qual ela visitava colégios para falar sobre a sua experiência de vida, a indústria da música e trabalhar nos jovens a ideia de que os sonhos não foram feitos para ficar na gaveta. E Meredith tinha motivos de sobra para falar sobre isso durante os cinco anos em que fez isso (1997 a 2002), com visitas feitas em escolas de pelo menos 70 cidades ao redor do mundo.
No entanto, nem só de coisas boas foi regada aquela turnê e ela veio justamente de algo que era para ser um momento único em sua vida. Convidada pelos Rolling Stones para fazer os cinco shows de abertura da passagem da Bridges to Babylon Tour pela Argentina, em 1998, a cantora foi obrigada a lidar com o temperamento explosivo do público. A primeira apresentação aconteceu no dia 29 de março e, durante os 45 minutos de show, Meredith foi atacada pelos presentes no Monumental de Núñez – cerca de 70 mil pessoas – que vaiaram toda a apresentação e jogaram diversos objetos no palco, causando inclusive uma lesão em um de seus olhos.
No dia seguinte, Meredith voltou ao estádio determinada a fazer a apresentação e colocou uma camisa da seleção argentina antes de subir ao palco, mas nem isso fez a multidão respeitar o show. Novamente, pedras e garrafas foram jogadas no palco e, sem muita alternativa, a cantora se deu por vencida após cantar o seu hit e não levou o show até o fim. Após a música, tirou a camisa da seleção de futebol, a jogou no chão e abandonou o palco. Recebida por Mick Jagger nos bastidores com um pedido de desculpas, Brooks apenas avisou que estava deixando a turnê e voltando para os Estados Unidos.
Com o passar dos anos, Meredith acabou se voltando para a produção. Trabalhou com Jennifer Love Hewitt, compôs para Hilary Duff, teve música usada como trilha para o programa do Dr. Phil e lançou o seu último álbum em 2007, o disco infantil If I Could Be…, que ganhou vida após o nascimento de seu primeiro filho. “Desde o primeiro dia da vida de meu filho, belas melodias apareceram na minha cabeça e eu cantava para ele, músicas sobre o que eu imaginava que ele estava pensando”, comentou Brooks na ocasião de lançamento do disco. “Fazer este álbum foi tão fácil e agradável. Esta foi a melhor experiência de escrita e gravação de toda a minha vida”, completou a cantora.
De lá pra cá, Brooks não lançou nenhum material e tem focado a sua cabeça em seu selo, Kissing Booth Records. Boatos de que um novo álbum, intitulado Merciless, será lançado em 2017, mas nada de oficial foi dito até o momento.
Se teremos uma nova “Bitch” em breve, ainda não sabemos, mas que Meredith tem colocado a letra do refrão em prática desde o seu lançamento, isso não podemos negar.