Lide com um fato: às vezes não é só uma música que te faz lembrar da pessoa. Às vezes é simplesmente uma banda com toda a sua obra.
Quando isso acontece é tudo mais intenso e delicado. Tudo bem ficar sem ouvir uma música do Foo Fighters porque você lembra de como foi dormir na rua e o quanto foi frio, mas você ainda pode curtir o show inteiro – especialmente porque os desgraçados não tocam mais a tal música ao vivo. Fica pior quando envolvemos uma pessoa.
A partir do momento que uma banda vira sinônimo de uma pessoa é foda. É engraçado que o Oasis nunca foi algo especial para mim, mas é para ela. Não tanto quanto outras bandas, como o Blink 182, por exemplo. Estou aqui ouvindo “Little by Little” que é seguida numa escolha mágica do Youtube por “The Masterplan”, duas das faixas que ela disse gostar mais.
Tentando racionalizar o que não pode ser explicado corretamente com palavras, imagino que o fato de termos assistido a um show de uma banda cover de Oasis numa casa noturna pode ter influenciado meu inconsciente. Eu preciso ser racional porque a pessoa em questão não precisa de mais motivos para me achar louco. Tenho que fingir ser normal.
Ela, inclusive, me cativou justamente por parecer impossível. Mandar e-mails longos não funciona. Ela não vai querer ler. Falar de cinema não vai adiantar. Ela não assistiu a muitos. Deveria ser um problema, se não fosse pela afinidade com shows e outras coisas que vamos descobrindo aos poucos. É incrível o quanto podemos aprender com situações adversas. Ela é como uma daquelas pedras que ficam submersas no mar e só aparecem quando a maré abaixa. Não dá para saber quase nada sobre ela, porque ela só entrega o necessário. Se expor contando as coisas inúteis do dia a dia, como a aluna que apareceu usando a camiseta ao contrário ou daquele cara que relaxou demais durante a massagem de relaxamento e peidou não me parece algo que ela faça com qualquer pessoa pelo Whatsapp.
Meu interesse por pessoas costuma ser volúvel. Só esse ano devo ter me apaixonado por quatro garotas – leve em consideração que vejo “estar apaixonado” como algo estimulante para enfrentar depressão e todos os outros problemas da vida. Estar apaixonado significa estar vivo, não necessariamente a fim de entrar em um relacionamento. Ela foi uma delas, mas foi a única que representou alguma coisa além. Justamente porque não era uma ilustre desconhecida que cruzou o olhar comigo numa balada e caiu no meu papo mole (ela não caiu no meu papo mole nem quando eu fiz uma poesia e uma música para ela) ou deu match comigo em algum app de relacionamento e se arrependeu depois de descobrir que eu falo pra caralho. Velhas táticas de guerra são inúteis quando você deixou de se importar com o resultado final e se concentra mais no desenvolvimento.
Por causa dela aprendi a querer falar menos. A discutir menos. Apreciar mais o silêncio e quem são os nossos verdadeiros amigos. A saber que deveria me cuidar mais fisicamente (até porque se a gente se pegar algum dia, eu não vou dar conta, vamos ser sinceros, né?). Parece pouco e bobo, mas nesses últimos meses recebi essas lições indiretas e sou grato. No dia em que ela descobriu que eu estava meio a fim dela, “está acontecendo alguma coisa?”, falei o que pensava e não mudou muito. Realmente não me enganei de acreditar que o interesse maior é ficar próximo de alguém que nos desafie. Tanto faz o depois. O agora é mais legal. E mesmo contabilizando apenas um fucking encontro com ela desde que fui desmascarado, estou feliz por pelo menos construir uma amizade com uma pessoa que eu me importo.
Por causa dela, agora eu tenho duas músicas favoritas do Oasis para entrarem no meu ranking ao lado de “Sunday Morning Call”, “Slide Away” e “Acquiesce”. Então, para você, ruivinha, essa banda me lembra você.
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