O inverno não poupa ninguém, mas o rock independente salva e esquenta tanto quanto uma boa dose de cachaça mineira.
Com casa cheia n’A Autêntica, os mineiros da Sound Supernova receberam os baianos da Vivendo do Ócio para uma noite cheia de música boa e disposição de tornar a cena autoral ainda mais forte e viva. No meio do público era fácil reconhecer rostos de projetos musicais mais diversos na cidade e esse apoio é fundamental para a saúde dos artistas mineiros e brasileiros.
A Sound Supernova é um projeto idealizado pelo vocalista/guitarrista Thiago Rocha e está nos últimos detalhes para lançar o novo disco, Aurora, ainda nesse trimestre. Os amigos estavam lá para dar uma força e um pessoal mais tímido estava encostado na parede observando a apresentação atentamente. Em tempos de pessoas excessivamente cibernéticas cujos celulares são uma extensão de seus corpos, conseguir competir com a telinha já é um grande prêmio e a Supernova parece ter vencido esse combate.
Uma das grandes influências do trabalho da Sound Supernova, que tocou apenas músicas autorais, são as músicas do Foo Fighters. Portanto, dá para afirmar que os arranjos de Thiago e Hugo Delly nas guitarras são essenciais para cada uma das faixas. As guitarras dialogam bem, principalmente em canções como “Fora do Caminho” (com um detalhe único da bateria de Bruno Diniz no meio da segunda estrofe que torna a faixa especial), “A Prova de Balas”, “Fica Calmo” e “Aurora”. Assim como na banda de Dave Grohl, a cozinha faz o básico, mas o baixista Michel Silva se aventura em pequenos solos em duas das faixas apresentadas no show.
O saldo final foi positivo com uma apresentação de pouco mais de 40 minutos e que ainda contou com a parceria do Gabriel “Papito”, vocalista da banda Engradado (que é um dos nossos sonhos de consumo para as próximas edições da festa AUDIOsessions, diga-se de passagem) nos vocais de “Antes Só”. Muita qualidade no palco e “festa”, como o Thiago fez questão de comentar algumas vezes.
Encerrando a noite, o pessoal da Vivendo do Ócio entrou no palco em grande estilo com a canção tema do sensacional O Enigma do Outro Mundo, de John Carpenter. A trilha sonora composta em parceria do próprio cineasta com o genial Ennio Morricone criou um clima grandioso para aquilo que Jajá Cardoso (voz/guitarra), Luca Bori (voz/baixo), Davide Bori (guitarra) e Dieguito Reis (bateria) apresentariam durante as próximas horas.
Divulgando o elogiado Selva Mundo, terceiro disco de estúdio, a banda iniciou chamando o pessoal para mais perto do palco com o hit “Nostalgia”. O grande lance de shows independente é que muitas vezes não dá para ter uma noção do quanto um artista é adorado pelo público e fui surpreendido com o que aconteceu nessa noite de sábado: o público apaixonado cantando todas as músicas a plenos pulmões, lembrando bastante aquela legião de fãs que acompanhava cada show de um quarteto carioca que tocava canções de amor cheias de arranjos de metais em pequenas casas de shows em 2002, 2003… Mas sem a parte tilelê, sabe? Com dois guitarristas bons, muitas distorções e fazendo o bom e velho rock n’roll.
Mais do que apenas músicos interessantes e compositores eficientes, o pessoal do Vivendo do Ócio é extremamente cuidadoso com a forma de se apresentar. Eles se preocupam em mostrar que se divertem tocando e se mexem o tempo inteiro. Luca e Davide, inclusive, trocam de lugar em algumas partes do show para se comunicarem com todo mundo e não apenas aqueles que estão mais próximos.
Que a Vivendo do Ócio não demore para retornar para BH e na próxima visita fique dois dias para presentear a cidade com boas energias e música boa.