O MURRO (Movimento Underground Rock ‘n’ Roll) completou um ano de atividades em grande estilo, nessa última sexta-feira, 12 de agosto. Colecionando muitas histórias e eventos de sucesso (como a participação na Virada Cultural de Belo Horizonte no mês passado), o fruto da união de um grupo de artistas de rock independente mineiro mostrou que está com muita força e moral, já que conseguiu deixar a Autêntica cheia para receber apresentações da Elízia, Evil Matchers, Green Morton e Refuser, além dos convidados especiais Camarones Orquestra Guitarrística.
Com um pouco de atraso na programação, a noite começou com a Elízia (que você já leu aqui) apresentando o show de divulgação do novo EP Efêmero e de quebra comemorando o aniversário do guitarrista Rodrigo Nueva. Interessante observar como cada show é uma história diferente. Se no palco da Obra, a banda conseguiu realizar um desempenho mais intimista e sedutor com cada um dos presentes, agora num palco grande, a intenção foi simplesmente conquistar geral com toda a presença de palco da vocalista Ana Sarmento. A opção de iniciar e finalizar o show com canções ainda inéditas – “3 a.m.” e “Versos Fáceis”, respectivamente – chamou a atenção por mostrar a nova pegada da banda e evolução nas composições. Vem material bom aí em breve!
Logo na sequência, a Evil Matchers entrou em cena arrancando gargalhadas do público com o senso de humor afiado do guitarrista e vocalista Gringo. De cara, já chegou dizendo que eram o melhor cover de Backstreet Boys de BH, mas a melhor piada ficou para a sacaneada básica com o Spotify ao dizerem que a meta da banda era arrecadar dinheiro o suficiente para um cigarro picado. Brincadeiras a parte, a Evil Matchers faz um show agitado, daqueles que você aprecia mais se entrar no clima etílico presente em cada uma das faixas. É punk rock de qualidade e feito por quem torna o visual como parte essencial de uma boa apresentação. Assim como a Tempo Plástico (que assistimos a um show recentemente e comentamos aqui), a banda mistura canções em português e inglês no repertório – algo que rende um efeito interessante, além de aumentar o leque de possibilidades. Um dos pontos mais legais da noite de aniversário do MURRO.
Os convidados especiais da Camarones Orquestra Guitarrística mostraram seu som instrumental vindo diretamente do Rio Grande do Norte. Sabe aquela pegada dançante irresistível que faz teus olhos se fecharem e seu corpo balançar desengonçado? É isso que a Camarones oferece. Os minutos mais deliciosos de hipnose já conhecidos na história do mundo.
Destaque para a alegria da baixista Ana Morena, que sorriu o show inteiro e para a fúria do baterista Yves Fernandes em cada um dos momentos que gritava o mantra “Fora Temer”. Essa combinação explosiva no palco não podia resultar em nada diferente do que uma ótima apresentação.
Como gosto de falar, muitas vezes prefiro deixar para conhecer uma banda ao vivo e evito ouvir material gravado. Considerando que conheci a Elízia por acaso num show da Planar, isso se aplicou para todas as atrações da noite. Virou uma espécie de tradição (iniciada com o Móveis Coloniais de Acaju em 2007) que raramente é quebrada. Isso pode render boas surpresas e evita eventuais frustrações. Minha expectativa com a Green Morton era alta por tudo que ouvia à respeito e todas as vezes que quis ver os caras ao vivo, mas imprevistos me impediram. Desta vez não teria desculpa e eu finalmente descobriria “de qual é” dos caras.
O talento do guitarrista José Mário é evidente logo de cara, assim como a qualidade do vocalista/guitarrista Eduardo Lara, especialmente pela voz. Só que sinto que teria apreciado mais o show se tivesse ignorado a minha tradição e ouvido o material dos caras antes para realmente conseguir sentir o que cada música tinha a dizer. Talvez o rock alternativo da Elízia, o punk insano fuck the police da Evil Matchers e o swing da Camarones tenham criado um clima bem diferente daquele que seria necessário para apreciar a Green Morton e seu rock com influências do Alice in Chains adequadamente. De qualquer forma, é som para bater a cabeça.
O som da Refuzer faz jus ao termo “porrada na orelha” presente na página dos caras no Soundcloud. O line-up foi organizado para deixar as atrações mais pesadas para o final da noite e, se preparando para lançar o primeiro álbum, a Refuzer é intensa. Pelo menos foi essa a vibe que deixaram para quem segurou firme e forte essa barra que é gostar de rock independente e ficar madrugando mesmo sabendo que precisa acordar cedo no dia seguinte. Não sou um grande entusiasta de obras que preferem usar o inglês ao português, mas é sempre interessante descobrir artistas como a Green Morton e a Refuzer que conseguem fazer isso com qualidade.
O primeiro aniversário do MURRO foi em alto nível e com shows inspirados de quem atua na cena mineira buscando divulgar seu trabalho para o máximo de pessoas sempre. Os apaixonados por boa música alternativa não tiveram o que reclamar e agora é torcer para que outras casas cedam espaço para novas investidas desse tipo para fortalecer ainda mais o rock produzido em BH. E parabéns ao MURRO: que venham muitos anos, muitos shows e muitas bandas fodas para tocar o caos honesto nessa cena recheada de bons nomes.
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Fotos: Marina Jacome