“Quem diabos é Rogério?”
Essa foi a pergunta que ficou na cabeça desde que o Supercombo anunciou os detalhes inicias de seu novo álbum, lançado oficialmente na última sexta-feira, 22 de julho. Do anúncio pra cá, pouco li sobre o disco ou declarações do quinteto. Apesar da curiosidade, deixei que a pergunta que abre o texto – e outras que devem aparecer ao longo dele – fosse respondida com o álbum lançado.
Dias antes do lançamento, estava eu com o tal Rogério em mãos. Logo em sua primeira audição, algumas coisas foram ficando claras. Se “Lentes” e “Rogério” – dois singles lançados antes do álbum – já mostravam um flerte com uma nova sonoridade, o disco já deixa isso claro logo na primeira faixa, “Magaiver”, que tem participação de Raony e Keops. Antes que alguém me corrija: Sim, eu sei que o Supercombo já flertava com novas sonoridades desde o início, mas se a banda precisava de um disco para deixar isso claro para todos, Rogério serve para isso.
Se a sonoridade da banda merece destaque, as letras não ficam para trás. E é aí que a gente começa a desvendar o mistério por trás de Rogério. Abusando cada vez mais de uma linguagem natural e bem urbana, o Supercombo se sente cada vez mais a vontade para falar da vida, de conflitos, desejos e comportamentos do cotidiano da vida. A criatividade da banda em suas letras parece cada vez mais aflorada e, dessa vez, toda essa criatividade pode ser definida por um nome: Rogério.
Dessa forma, começamos a responder a pergunta que inicia o texto. Rogério é aquela indecisão que vive martelando na sua cabeça. Rogério é aquela vontade de fazer algo e não poder. Rogério é correr atrás de um conceito de felicidade que, talvez, não se encaixe no seu modo de vida. Rogério é lidar com as responsabilidades que, muitas vezes, são colocadas nas nossas costas sem a gente perceber. Ou, como a banda retrata em “Magaiver”, é dar “uma mordida no pão que Rogério amassou”.
A segunda faixa do disco mostra bem essa mescla de ritmos com a qual o Supercombo se identifica. “A Piscina e o Karma” começa com uma pegada reggae a lá MAGIC! – para citar uma banda recente ligada ao gênero – e vai crescendo, ganhando peso e culminando na participação de Emmily Barreto, vocalista do Far From Alaska, que dá voz ao karma que permeia a letra. Apesar da tão citada mescla de sonoridade, se engana quem pensa que o Supercombo deixou o puro rock de lado. “Grão de Areia” está no disco para traçar essa paralelo e, com uma das letras mais fortes do disco, a faixa tem a participação de Gustavo Bertoni, da Scalene, e o resultado é bem interessante. Outra faixa que se assemelha bem aos trabalhos anteriores da banda é “Monstros”, faixa que tem como convidado Mauro Henrique, da Oficina G3. E ainda tem “Bomba Relógio”, que entrega uma sonoridade próxima ao chamado rock de arena feito atualmente por bandas como Mumford And Sons, Kings Of Leon ou Imagine Dragons. Em sua letra, a faixa fala sobre a pressão que a gente encara ao longo da vida, seja porque lidamos com coisas que ninguém deseja ou porque somos obrigados a isso. A música tem a participação de Lucas Silveira, da Fresno, banda que também vem trabalhando bem com essa vertente do Rock, se é que podemos chamá-la assim.
Fechando a ala das participações – já que “Lentes” todos já conhecem e sabem que tem a participação da Negra Li – de Rogério, vem aquela que é a melhor faixa do disco. A união de letra e melodia em “Eutanásia” é, pra mim, a mais interessante do álbum e a participação de Sérgio Britto, dos Titãs, ajuda a abrilhantar a faixa. Como o nome diz, a letra versa sobre uma pessoa internada no hospital e que deseja decidir o destino da sua vida ao achar que “a escuridão deve ser melhor que isso” com o que ela tem que lidar. Além da interpretação direta, a letra acaba sendo uma boa metáfora sobre a vida, ainda que a letra esteja mais próxima de um ponto final ou, como bem diz a banda, de “abraçar o abismo”.
Fechando o álbum, as duas faixas que já eram conhecidas de todos. “Rogério” acaba sendo (mais) uma forma de explicar quem é esse eu-lírico presente no álbum. Em seguida, “Lentes” vem fazer um contraponto e falar sobre viver a vida, sobre a importância de se aproveitar tudo o que ela tem de bom para lhe oferecer. É pela lente de Paula Midori, fotógrafa que empresta a sua história de vida para a letra, que a gente encerra essa viagem carregada de metáforas promovida pela Supercombo. E como é bom ver que a banda pensou na organização das faixas no disco e, ao deixar “Lentes” no fim, deu a ela um sentido maravilhoso quando você para e observa o álbum por completo. Além de todas as citadas, Rogério ainda tem “Bonsai”, “Embrulho”, “Morar” e “Jovem” como boas músicas e que merecem ser ouvidas, sobretudo “Bonsai” e “Jovem”, com as quais muitos podem se identificar.
Rogério não é um disco fácil e, para ser sincero, acho que essa preocupação não passou pela cabeça da banda em nenhum momento. No entanto, se o objetivo era nos fazer pensar sobre a vida e ter como plano de fundo uma boa trilha sonora, o Supercombo acabou por cumprir isso com sucesso.
Acima de tudo, Rogério é o retrato de um amadurecimento de Léo Ramos (Voz e guitarra), Pedro Ramos (Guitarra e voz), Carol Navarro (Baixo e voz), Paulo Vaz (Teclado e efeitos) e Raul de Paula (Bateria), mostrando que os cinco estavam mais do que prontos para esse próximo passo e não permitindo que o seu destino ficasse nas mãos do Rogério, aquele que a banda resolveu nomear.
Supercombo – Rogério
Lançamento: 22 de julho de 2016
Gravadora: Elemess
Gênero: Rock
Produção: Supercombo e Teco Fuchs
Faixas:
01. Magaiver (Part. Keops e Raony)
02. A Piscina e o Karma (Part. Emmily Barreto)
03. Bonsai
04. Grão de Areia (Part. Gustavo Bertoni)
05. Monstros (Part. Mauro Henrique)
06. Embrulho
07. Morar
08. Bomba Relógio (Part. Lucas Silveira)
09. Jovem
10. Eutanásia (Part. Sério Britto)
11. Rogério
12. Lentes (Part. Negra Li)