Depois de ver Tempo Plástico, Sound Supernova e Riviera nas últimas semanas, quinta-feira, 21 de julho, foi a vez de (re) descobrir a sonoridade da Elízia e ser devidamente apresentado ao som pesado da Marfim, banda do interior de Minas.
O quarteto formado por Ana Sarmento (voz), Rodrigo Nueva (guitarra), Gustavo Silva (baixo) e André Figueiredo (bateria) acabou de lançar um novo EP, Efêmero, e está realizando shows para a divulgação do novo material. Além de estrearem as faixas na Obra, também foram apresentar as músicas em Divinópolis e Itabirito recentemente.
A primeira (e única) vez que vi a banda ao vivo foi quando o guitarrista Mike Nunes ainda fazia parte do projeto. Mesmo com a ausência da segunda guitarra, a banda não apenas conseguiu manter o peso, como se transformou em outra coisa bem diferente. E melhor.
A começar pela presença e pegada do baterista André, que tem uma postura de palco muito diferente da maioria dos seus colegas de baquetas. Talvez seja pela altura, mas o jeito do cara tocar é animal e faço parte da turma que defende que toda grande banda começa com um monstro na bateria. A Elízia está bem servida. Outro ponto curioso é o timbre do baixo de Gustavo Silva, que capricha nos médios e agudos num volume que torna impossível qualquer leigo repetir o velho clichê de “não escuto o baixo”. Se fosse um baixista menos eficiente, o resultado poderia ser desastroso, mas Gustavo criou linhas de baixo bonitas e que pedem essa pegada mais agressiva.
Por fim, a guitarra espacial de Rodrigo Nueva aparece complementando os instrumentos e sem repetir o velho clichê de tornar as seis cordas como elemento principal das músicas com solos e riffs. A coisa de usar a guitarra para criar climas e nuances lembra um pouco o que o Rodrigo Brandão faz/fazia no Leela.
Com a cozinha em sintonia e a guitarra preenchendo os espaços, o trabalho da vocalista Ana fica até “fácil”. Ela só precisaria deitar no colchão e dormir, mas a garota também se destaca muito. Especialmente nas melhores músicas da banda: “Alice” e “Blues dos Amantes”. Ana gosta de cantar encarando o público em alguns momentos e isso faz a diferença quando se compete com celulares, cervejas e vontade de salivar – aliás, apesar da letra, “Blues dos Amantes” tem um instrumental bem estimulante para os casais se divertirem no show.
Já a Marfim, banda formada por André Marcuci (vocal e guitarra), Matheus Marcuci (baixo), Luiz Fernando Sabino (guitarra) e Mike Faria (bateria), veio direto de Itabirito, cidade que fica a pouco mais de 50 km de BH. Atualmente, o projeto está em fase de composição de material inédito, abandonando as letras em inglês para investir no bom e velho português.
O repertório ficou dividido entre as faixas autorais e covers de bandas de new metal, como KoRn e Slipknot. Não é todo dia que você pode falar que ouviu uma banda tocando “Minerva”, do Deftones, e que ficou realmente bom. Estamos falando de alguém tentando chegar perto das coisas que o Chino Moreno faz e isso não é pouca coisa. Méritos para o trabalho do André.
Com direito às intervenções mais hilárias que já presenciei na Obra (o baterista Mike aproveitava para descontrair o ambiente cantando sozinho trechos de vários batidões cariocas – e isso provavelmente não acontece com muita frequência por lá), a Marfim mostrou composições que combinam peso e sonoridades que convidam o público a cantar junto, como “Love and Violence“ e “Trust“. A cozinha se entende bem e dá a liberdade para os dois guitarristas trabalharem para buscar notas e sonoridades diferentes da base, mas isso acontece em poucas faixas. Nesses momentos temos o melhor da veia criativa das composições de Luiz e André: o primeiro se destaca pela velocidade e criatividade nos arranjos, enquanto o segundo sustenta os acordes para ter ainda mais conforto para cantar sem a menor preocupação.
Para uma noite de quinta-feira num frio dos diabos, ver dois shows com muita música boa faz o esforço de abandonar o carinho do edredom valer à pena. Que venham mais oportunidades de acompanhar essas duas bandas ao vivo.