14 de setembro de 1983. Esta foi a data que nasceu Amy Jade Winehouse, que com pequenos passos conquistou o cenário musical com seu talento ímpar para composição, estilo retrô e voz poderosa. Devido ao seu penteado característico, o beehive, muito popular nos anos 1960, Amy Winehouse foi chamada por Karl Lagerfeld de “A nova Brigitte Bardot”.
No entanto, precisamos voltar um pouco no tempo. Após uma série de apresentações no cenário musical britânico, em 2003 a cantora lançou o primeiro álbum, intitulado Frank, cerca de um ano após fechar um contrato com a Island Records. Sucesso entre os críticos, lá está “Stronger Than Me”, uma das excelentes faixas que saíram desta produção.
Três anos depois, Amy apresentou ao mundo o seu segundo álbum de estúdio, Back to Black. Desta vez, o sucesso não foi somente nas críticas, mas comercial. Os singles “Rehab”, “You Know I’m No Good”, “Back To Black” e “Tears Dry On Their Own”, maiores destaques de sua discografia, saíram deste projeto.
A singularidade na performance musical de Amy fez com que até os seus covers tenham se eternizado nas playlists de clássicos, como é o caso da faixa “Valerie”, originalmente gravada pela banda britânica The Zutons.
Apesar da curta carreira mainstream, Amy deixa saudades. O álbum póstumo Lioness: Hidden Treasures, como o nome já diz, traz o que há de mais precioso e não foi mostrado pela artista.
O OUTRO LADO
“Ela era uma das cantoras de jazz mais verdadeiras que já ouvi. Para mim, ela devia ser tratada como Ella Fitzgerald, como Billie Holiday. Ela tinha o dom completo. Se ela estivesse viva, eu iria dizer: ‘Para um pouco, você é muito importante. A vida te ensina a viver, se você conseguir viver o suficiente'”.
Essa é uma das falas mais imponentes de Amy, filme lançado em 2015 e vencedor do Oscar de melhor documentário. É nessa passagem da produção de Asif Kapadia que o ícone Tony Bennett consegue, com poucas palavras, evidenciar o talento e a importância de Amy Winehouse para a música. Mais do que isso… Palavras de um ídolo para uma fã, já que o jazzista americano foi uma das grandes influências da artista judia.
Em uma das biografias sobre Amy, o estilo dócil e recatado é uma das características mais citadas da ex-moradora de Camden Town. Diferentemente do que era mostrado pela mídia, Amy era uma garota família e que valorizava os momentos com os amigos.
Para muitos, o lado negro explorado pela mídia potencializava o gênio forte que não conseguia lidar com o próprio sucesso. O jornalista britânico Chas Newkey-Burden, autor de diversas biografias de artistas pop como Justin Bieber, Adele e Taylor Swift, destacou na biografia sobre a cantora justamente esse lado família, sonhador e humano da vencedora de sete prêmios Grammys que revolucionou a indústria fonográfica. Considerada indômita por muitos, Amy Winehouse foi a prova de que talento, beleza e autenticidade – sim, andam juntos.
Quem acompanhou a carreira da cantora além dos tabloides britânicos, percebia que havia algo de especial por trás daquele olhar perdido que se tornou referência para a imprensa nos seu últimos anos de vida.
Esse lado família foi comprovado em 2013 por Alex Winehouse, irmão da cantora, que cedeu ao Jewish Museum de Londres diversos objetos pessoais da irmã para uma exposição. Com a mostra, que ganhou o nome de Amy Winehouse: A Family Portrait, o irmão buscava mostrar que ela era muito mais do que o lado ruim que muitos conheciam.
Além dos objetos pessoais, a exposição mostrava algumas curiosidades da vida de Amy, das quais separamos oito para contar aqui:
1- Taróloga: Sabia que Amy Winehouse sabia ler cartas de tarot? Segundo o irmão, a cantora aprendeu a prática com a sua avó, Cynthia Winehouse.
2- Amy na cozinha: Reza a lenda que a cantora não era muito boa na cozinha. No entanto, segundo o irmão, ela se esforçava. Em seu 19º aniversário, Alex deu de presente para Amy um livro de receitas da cozinha judaica. O motivo? Amy queria aprender a fazer canja de galinha, algo que ela gostava bastante. Alex ainda revelou que a irmã tinha talento para fazer almôndegas.
3- Amy queria ser atriz: Aos 14 anos, Amy integrou uma escola de teatro. No teste feito por ela, a cantora apresentou um ensaio escrito por ela que ressaltava o seu desejo de ser reconhecida pela arte. “Quero que as pessoas ouçam a minha voz e apenas… esqueçam os seus problemas por cinco minutos. Quero ser lembrada por ser uma atriz e cantora que lotava espetáculo do West End à Broadway apenas por ser eu mesma”.
4- Palavras cruzadas: Quem aí imagina Amy Winehouse fazendo palavras cruzadas? Pois esse era um dos vícios da cantora, segundo o irmão. Na exposição era possível encontrar algumas revistas que a cantora se divertiu preenchendo.
5- Leitura: Amy também era apaixonada por leitura. Dentre os seus livros favoritos – e que foram expostos pelo irmão, estavam obras de Charles Bukowski, um livro sobre o diretor Alfred Hitchcock e uma coleção do escritor russo Fiódor Dostoiévski.
6- Fixação por Imãs: Amy adorava imãs. O irmão reuniu muitos deles na exposição e os preferidos da cantoras eram os de pin-ups e os que tinham frases como “Prozac: Wash your blues away!” – algo como “Prozac: Lava a sua tristeza!” – e “Eu não sofro de insanidade. Eu aproveito cada momento dela!”.
7- Fotografias: Amy adorava fotografias. Uma parte da exposição organizada pelo irmão era dedicada as suas fotografias. Uma parte em especial merece destaque, já que se tratava de uma mala de couro aonde a cantora guardava todas as fotos de família que, segundo seu irmão, ela “roubou” dos parentes ao longo dos anos. “Era uma tradição na nossa família pegar as fotos de vários membros da família durante os nossos encontros. E Amy era famosa por isso”.
8- Snoopy: Para fechar, eis um amor eterno de Amy Winehouse. A cantora adorava o Snoopy e teve vários livros infantis do personagem. Um deles fez parte da exposição. Segundo Alex, a sua esposa e Amy desenvolveram um forte laço de amizade por causa do Snoopy.
Como não podia deixar de ser, Amy Winehouse era apaixonada por música. O amor dela pelo Jazz e pelo Blues fica evidenciado quando se fala de suas músicas preferidas ou de sua coleção de CDs e vinis. Ao longo de sua adolescência, a cantora foi acumulando álbuns de nomes como Ray Charles, Aretha Franklin, Bob Darin, Frank Sinatra, Duke Ellington e Miles Davis, para citar alguns nomes. Também faziam parte da coleção nomes como Mary J. Blige e George Michael.
Sempre ligada a música, Amy chegou a selecionar aquelas que foram as suas canções favoritas ao longo da vida. A cantora reuniu isso em uma lista e, desde 2013, essa lista é conhecida dos fãs por ter sido base da playlist usada por Alex na exposição sobre a irmã, em Londres.
Entre as músicas favoritas de Amy estão “Moon River”, tema do filme Bonequinha de luxo, “Georgia on my Mind”, “Unchain My Heart”, “Lady Marmalade” e “What a Wonderful World”. Além das suas influências principais, a lista contava com algumas coisas interessantes como o tema de abertura de Shaft, “Mickey Mouse March” – a famosa marcha do Mickey, além de “Alive” – do Pearl Jam – e “Self Esteem”, do The Offspring.
Nós reunimos todas as vinte e cinco músicas em uma playlist especial abaixo:
Amy era daqueles seres especiais e que não conseguiu lidar com toda a pressão exercida sobre ela. Não conseguiu lidar com a tristeza que todos os acontecimentos pós sucesso lhe proporcionaram. E isso nunca deve ser encarado como culpa dela. Nós estamos sujeitos a isso em todos os momentos da vida.
Antes de olhar para Amy como a menina frágil, drogada e maluca, vale o esforço e enxergar o outro lado. Amy tinha um talento incomum para a música que a tornava capaz de compor inúmeras canções em um curto espaço de tempo. Amy tinha um amor especial pelos amigos, pela família e por quem passou por sua vida. Amy amava o que fazia e amava a liberdade de fazer o que tivesse vontade. E quando isso lhe foi tirado, foi forte demais. É forte demais para muita gente. Foi forte demais para ela.
O que fica são as boas lembranças, as boas músicas, o sorriso especial em cima do palco. Obrigado, Amy. Obrigado por ser você e por tentar contar a sua história de forma espontânea.
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Texto: Yuri Carvalho, Ana Flávia Miranda e John Pereira.