Acostumado a movimentar os bastidores do rap nacional, T-Rex, pioneiro no estilo musical, decidiu que era hora de retornar aos palcos. Produtor de diversos artistas de sucesso no segmento, o cantor está lançando um álbum próprio, batizado de “Game of Rap”, com 19 faixas, que incluem as participações de nomes de peso da modalidade e também amigos de longa data, como Hélio Bentes, do Ponto de Equilíbrio, e Maomé, da Cone Crew Diretoria.
“O disco ‘Game of Rap’, a princípio, se chamaria ‘wonderground’ e foi idealizado para marcar o início dessa minha nova fase. Como sou produtor e sempre trabalhei com samples, minhas referências são estilos como jazz, soul, funk, MPB e samba. Gosto muito de ouvir Stevie Wonder, Michael Jackson, Djavan e Jorge Ben, por exemplo. Queria fazer um disco bem musical, com muita mistura”, explica T-Rex, também conhecido como Dino, artista nascido e criado no bairro de Vila Isabel e que, desde a infância, cresceu em meio ao samba e aos bailes funk dos anos 90.
A musicalidade e a experiência com produção se unem à história de T-Rex como MC, responsável pela criação de grupos que marcaram a trajetória do rap nacional. Em 2001, fundou o RapPress, que reunia uma turma da cena da Freguesia, na zona oeste, local para onde se mudou e mantinha um pequeno estúdio, que servia de QG para suas criações. O som feito ali no bairro, em pouco tempo, virou sucesso no Rio de Janeiro. Em 2003, também criou o coletivo JPA CLAN, que fez histórias nas batalhas da cidade. Na mesma época, por conta do mercado restrito na área, resolveu se profissionalizar e cursou a faculdade de Produção Fonográfica na Universidade Estácio de Sá. Em 2006, já consagrado como artista e produtor, criou outro grupo de sucesso, o UvU (Unir Versos Urbanos), que reunia os maiores MCs da época.
“Me formei e produzi a primeira música de muitos dos artistas que hoje estão se destacando na cena. Exemplo: produzi a primeira música da Cone Crew Diretoria, do Mc Shock, do grupo Start, produzi também o Cabal, Esquadrão Zona Norte e quase todos os MCs que vieram do free style carioca”, diz T-Rex.
Como produtor, T-Rex conta que o segredo está nos detalhes e nas referências. “Acho que a ideia e o tema são fundamentais no desenvolvimento comercial da faixa. Agora, como artista, gosto de explorar os assuntos incomuns, de rimas inteligentes e rebuscadas e sou sempre subversivo. Minhas letras geralmente têm duplo sentido, dupla interpretação. Gosto de canções com conteúdo, acho que mesmo as músicas mais populares podem, sim, tocar o pensamento, além de fazer dançar”, complementa.
Atualmente, o rap desfruta de uma enorme projeção no país e o momento foi percebido por T-Rex como ideal para dar forma ao seu desejo de voltar aos palcos. “O rap nunca esteve tão em alta. A cada dia, o espaço na mídia aumenta, graças ao interesse do público no segmento. Eu costumo dizer que fiz sucesso na época errada (risos). Com 16 anos de carreira e quase 10 anos de formado, acredito que existe uma lacuna a ser preenchida com meu trabalho. Com organização, profissionalismo e experiência, sei que posso atingir um público que gosta de ouvir música. Não só na balada, mas no dia a dia, no carro, no trabalho, música pra pensar, músicas que marcam momentos na vida das pessoas. Essa é a minha proposta”.
O álbum “Game of Rap”, além da direção do celebrado Arthur Maia e participações de Hélio Bentes, do Ponto de Equilíbrio, e de Maomé, da Cone Crew Diretoria, conta ainda com músicas em parceria com Ber Mc do Cartel, Igão e LioJou do Spliff Rap, Gok do 2.2, Psicopato, MC Loco-Motiva, Pedro Zoli e Saulo Zion, produtor do disco. “O disco, apesar de ser um demo, uma porta para um disco profissional, teve uma ótima repercussão. A maioria das pessoas que ouviu gostou muito. É um disco muito musical, tem um pouco de tudo que eu gosto. Lancei-o em 2015 e desde então tenho viajado bastante”, comemora.
O artista está envolvido em outros projetos, como o Baile do Maomé e o canal do YouTube T-Rex Vídeos, que reúne entrevistas, batalhas, tutoriais de produção, videoclipes e tudo o que acontece na cena de rap no Brasil.
Com grande experiência na bagagem, MC T-Rex bateu um papo exclusivo com o Audiograma para falar sobre os novos projetos.
Quando tomou a decisão de lançar seu próprio álbum?
Eu apareci no rap em dois grupos, o primeiro foi o RaPress, em 2003, e o segundo o UvU (Unir Versos Urbanos), em 2005. Foi quando percebi que era complicado pra mim, que também sou produtor, andar no mesmo ritmo dos outros integrantes. Quando os grupos esfriaram, decidi seguir carreira solo e em 2008 lancei o meu primeiro disco demo solo chamado “Meu Solo”.
Você acredita que o rap desfruta de uma enorme projeção no país. Quais barreiras foram quebradas em relação aos anos anteriores?
A principal barreira quebrada foram os temas. Tirando raras exceções como Gabriel o Pensador, antigamente o rap era fechado em seus temas e uma das provas disso é um clássico do maestro do Canão, Sabotage, que diz: “o rap é compromisso”. Esse compromisso com certeza na época era com a mensagem, os MCs tinham uma postura muito mais política do que comercial, o que na minha opinião atrapalhava um pouco comercialmente. Hoje, os MCs são das mais diversas classes sociais, falam sobre os mais diversos assuntos e acho que isso contribuiu pra disseminar o rap em lugares que antes eram dominados por outros ritmos.
O “Game Of Rap” é considerado um álbum demo, apesar da grande produção. Você pensa em retrabalhar as músicas?
Na verdade, estou seguindo as estratégias do Mestre Arthur Maia, que faz a direção musical do meu trabalho. Esse disco foi um apanhado de 70 e poucas faixas que fiz em um ano. Já estamos trabalhado, refizemos a faixa 1 do disco, que é a música “É o bicho”, e estamos preparando uma participação super especial que é surpresa.
O seu álbum está disponível para download no site oficial. Acredita que esta forma de promover a sua música possa atingir um público maior?
Eu acredito que o marketing é uma arte. Hoje em dia quem não investe em propaganda fica pra trás. Acho que pra atingir os números que eu almejo, tenho que estar mais presente na grande mídia. O site é uma forma de mostrar tudo o que venho fazendo. As músicas, os vídeos, meu programa no YouTube, os beats, as redes sociais, está tudo reunido em um só lugar, facilitando a vida dos fãs e contratantes.
O rap brasileiro está presente com frequência na música pop. Acredita que seja um ponto positivo para a disseminação do rap ou é apenas modismo?
Acho super positivo. O rap não é apenas um estilo musical, ele é um dos quatro elementos do hip hop. É tendência para moda e diversas outras artes. Acho difícil haver um declínio e aposto minhas fichas que o rap é um estilo que veio pra ficar, assim como Rock foi na sua época.
Como disse, acho que pra eu atingir um público maior, principalmente aquele que não é exclusivamente do rap, preciso estar em todas as mídias. TV, rádio, revista, internet, boca a boca. Estamos vivendo uma fase muito audiovisual e os clipes são uma forma excelente de mostrar minha ideias. Estou apostando nisso e esse ano pretendo lançar pelo menos mais três vídeos.
Quais são os próximos projetos que estão em andamento?
Estou trabalhando em dois singles. Um eu já citei, é uma regravação do disco que lancei, o outro é uma música inédita que estou finalizando. Estou trabalhando pesado no meu canal do YouTube para lançar o programa “Batalha Interativa”, que eu apresento batalhas de MCs com o diferencial que a votação do vencedor é feita pela Internet. Vamos lançar no começo do mês que vem, provavelmente, o primeiro episódio.