Foi na adolescência que Pedro Paulo Lamboglia Neto começou a enxergar a música como uma carreira ao conviver com as bandas que se apresentavam nas festas da escola. “Ganhei um violão da minha avó, que me aproximou do universo musical. Foi uma fase em que desenvolvi a minha personalidade e caminhos a serem tomados”, diz ele.
Influenciado por nomes como Charlie Brown Jr., Racionais, Sabotage, Cassia Eller, Gabriel o Pensador, Marcelo D2 e Zeca Pagodinho, o artista teve o primeiro contato com o rap nos guetos. “Aprendi na rua e batalhas de MCs. Ali descobri que tinha capacidade intelectual e competência para me destacar. De tudo que havia conhecido, aquele era o ambiente que mais se enquadrava a minha personalidade”, relembra o MC.
O talento começou a ser reconhecido nas batalhas de MCs, ao dividir o mesmo espaço com os grandes mestres da arte de improvisar da época. “Em 2007, estava na final da grande Liga dos MCs e fui derrotado. Mas não me abalei e no ano seguinte fui o campeão. Vivia e respirava aquilo. Toda conquista vem de um grande esforço, comigo não foi diferente”, completa ele, que adotou o nome artístico de MC Maomé.
No ano de 2006, MC Maomé foi um dos fundadores do coletivo carioca Cone Crew Diretoria. Ao lado de MC Cert, Rany Money, Papatinho, Ari e Batoré, viajou o Brasil fazendo shows e, um ano depois, o coletivo lançou seu primeiro álbum, “Ataque Lírico”. “Minha experiência com o Cone Crew foi quebrar todos os tabus e revolucionar a liberdade de expressão das músicas que criamos com um discurso próprio, polêmico e inovador”, revela o artista.
Com o objetivo de levar seu trabalho para fora do país, MC Maomé decidiu apostar na carreira solo. Os principais projetos são o programa do YouTube Na Ideia, que traz entrevistas com personalidades influentes do cenário cultural e pode em breve estar na TV, e a batalha de MCs Mic Master Brasil, que descobrirá o melhor MC do Brasil, e irá premiar o vencedor com um carro zero KM pela primeira vez na batalhas de MCs do Brasil.
Prestes a completar 30 anos, o artista multimídia gosta de ficar em casa, jogar videogame e assistir filmes e séries.
Com base neste novo momento de sua carreira, o Audiograma bateu um papo exclusivo com este grande nome do Rap nacional.
Entre suas influências musicais, quais delas foram determinantes para formar sua identidade musical?
Zeca Pagodinho e Charlie Brown Jr são, sem dúvidas, os artistas que mais tocaram nos meus fones desde que me conheço por gente. Mas também destaco Racionais, Sabotage e RZO, que são minha referência de conduta dentro do Rap.
Você foi um dos fundadores do coletivo carioca Cone Crew Diretoria, como você enxerga o grupo no cenário musical atual?
Cone Crew Diretoria é um grupo que merece muito respeito. As pessoas estigmatizaram a banda como referência a zoação, mas no fundamento, Cone Crew é um grupo de Rap que tem letras de dimensões muito maiores. Letras como “Pra Minha Mãe”, “Chefe de Quadrilha”, “O Mundo da Voltas”, “Homenagem a Liberdade”, “Reflexo”, entre muitas outras, resgatam valores sociais, familiares, culturais e levantam a auto estima de quem se identifica.
A Cone já esteve nos maiores palcos dos maiores festivais do Brasil, já fez duas turnês na Europa e em 2016 completa 10 anos carreira. Tem que respeitar. (risos)
Você comanda o programa Na Ideia, no YouTube. O que podemos esperar pela frente?
O programa “Na ideia” é uma forma de estar em contato direto com os meus fãs, interagir com os fãs dos meus convidados, e disseminar uma mensagem positiva para as pessoas que estão conectadas com o canal. Eu procuro sempre fazer entrevistas onde o espectador possa enxergar a trajetória do entrevistado e se espelhar nas referências positivas de cada entrevista. Podemos esperar muita evolução para a sequência do projeto. É uma nova experiência apresentar um programa, então ainda estou aprendendo com muita humildade e boa vontade. O que me deixa seguro é poder contar com uma equipe de primeira que me auxilia e ajuda a coisa fluir.
A música pop nacional está abraçando o rap com frequência. Você acredita que é uma questão de modismo ou rap veio para ficar e se misturar com outros estilos?
O Rap é o único estilo musical que é tocado e ouvido no mundo inteiro. Aqui no Brasil, ele já está fluindo há muito tempo. O grande “boom” foi o Rap Nacional, que agora também está nas rádios, televisão e dia a dia das pessoas. O Rap Nacional está cada vez mais miscigenado em suas idéias e representatividade. Hoje, o Rap pode ser a trilha sonora tanto de um casal apaixonado, quanto de um rolé underground, quanto uma farra na noitada com os amigos e sem perder seu foco, qualidade musical e imponência perante outros estilos. O Rap Nacional veio não só pra ficar, mas para em pouco tempo estar disputando as listas das músicas mais ouvidas no Brasil, os maiores números de venda e os maiores espetáculos de música ao vivo.
Em 2008, você foi campeão da batalha de MCs, e conta que este fato foi muito importante em sua carreira. Conte-nos sobre seu projeto Mic Master Brasil.
Nos anos de 2006, 2007 e 2008 eu participei de um famoso torneio de Batalhas de MCs, chamado “Liga dos MCs”. Chegando a final em 2007 e me tornando campeão em 2008. Nesse período, minha vida era dedicada as rimas de improviso e duelos com outros MCs. Naquela época, eu via que o topo era ganhar a Liga. Hoje, eu início uma nova escalada e o topo será premiar o campeão brasileiro de Batalhas de MCs com um carro zero km, dentro de um evento lindo, feito com amor, dedicação e muito trabalho (muito mesmo). Minha vontade é atingir esse topo e, a partir disso, começar uma nova escalada. Hoje, o Mic Master Brasil representa na minha vida, a evolução da minha trajetória como um MC de Batalha. E eu tenho muito amor pelo que faço.
O que o público pode esperar em relação ao seu novo trabalho solo?
Dedicação. Eu faço parte de um dos maiores coletivos de Rap do Brasil e isso traz uma responsabilidade enorme para comigo, com os meninos da Cone, com a minha família e com os meus fãs. Eu acredito que a necessidade de lançar os trabalhos com assinatura individual, é justamente respeitar o espaço coletivo. Quando a gente divide espaço com pessoas do nosso convívio, no meu caso, meus amigos, a gente não pode falar tudo o que pensa nem tudo o que sente, justamente porque falamos por nós e também pelos outros. Eu acredito que tenha alguma experiência de vida, vivida por mim, e apenas por mim, que deve ser passada pra frente em forma de arte.
Eu tenho certeza que o MC Maomé solo vai amadurecer, fortalecer e evoluir o MC Maomé dentro da Cone Crew.