Essa segunda leva de textos da coluna Essa me Lembra Você está seguindo uma regrinha básica de não cair na tentação de falar sobre relacionamentos amorosos. Escrever novos artigos se torna um grande desafio, afinal é muito fácil ceder e contar sobre como tal música tocou no exato momento em que você beijou a sua namorada pela primeira vez. Ou quando tiveram aquela transa de despedida ao som de Kings of Leon.
Resistirei bravamente pelos próximos meses e convocarei meus amigos da redação para abraçarem o espírito e compartilharmos histórias diferentes do que se espera, como é o que tenho a dizer sobre “Give up the Ghost”, do Radiohead.
A música faz parte do The Kings of Limbs, álbum lançado em 2011 e que supostamente completa a trilogia iniciada em Kid A e Amnesiac. Ou seja, é um trabalho extremamente conceitual e regado de experimentalismo, o que frustrou quem esperava uma “continuação” do lindo In Rainbows, de 2007. Eu sou da turma que ama a segunda metade do disco e/ou ouve só as últimas faixas.
A história com “Give Up The Ghost” me faz lembrar o tempo em que trabalhei numa livraria Saraiva e fiz uma amizade forte com a prima da minha ex-namorada na época. Como a gente morava próximo, era normal voltarmos juntos no mesmo ônibus. Teve até um dia que a Lídia, cansada de me ouvir falando mais palavrões do que o Leonardo DiCaprio em O Lobo de Wall Street, me desafiou a voltar sem soltar uma “palavra-feia” que fosse. Bastou a gente sair da loja para o celular dela tocar e ficar numa conversa que durou todo o trajeto para casa. Foi até injusto para ela, mas coisas da vida.
O Radiohead lançou o disco quando eu já estava trabalhando em outra empresa, mas um dia fui até a Saraiva para visitar o pessoal e esperei a Lidz encerrar o expediente. Eu estava numa missão pessoal de espalhar as músicas da banda e escolhi justamente “Give up the Ghost” para apresentar durante o caminho. Não parecia ter funcionado muito, mas um tempinho depois Lidia me mandou uma mensagem dizendo que havia assistido a um vídeo lindo do Thom Yorke tocando essa música sozinho.
Acabou que “Give up the Ghost” me faz lembrar essa época trabalhando no meio de livros, filmes e discos, e também dessa amiga especial que tantas vezes me ouviu reclamando do serviço, dos clientes, da prima dela, da vida, dos shows que nunca fui e das cagadas que fazemos diariamente nessa loucura que é viver. Fico feliz por uma canção triste me trazer sensações tão boas.
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