Sabe quando você decide escutar um disco tempos depois de seu lançamento e se arrepende por não ter dado play logo quando ele ficou disponível?
Pois bem, foi exatamente esse o sentimento que bateu por aqui quando terminei de ouvir as dezesseis músicas da versão deluxe de Wildheart, o terceiro trabalho de estúdio do cantor norte-americano Miguel.
Aliás, posso dizer que o arrependimento é tanto que, se tivesse dado a mínima atenção logo quando o disco saiu, acredito que ele teria entrado facilmente na minha lista pessoal de melhores do ano, que você pode dar uma olhada bem nesse link aqui.
Como não dá para viver de arrependimentos e discos estão aí para serem ouvidos, resolvi recuperar o tempo perdido e seguir em frente. No entanto, é preciso dizer que, antes de apreciar o Wildheart, eu nunca tinha parado para ouvir com atenção o trabalho do Miguel. Apenas sabia alguma coisa bem superficial sobre ele ser mais um nome do tal “neo R&B” e que era um cara que caminhava por uma trilha bem diferente, agregando cada vez mais elementos de rock em suas composições.
Depois de muito enrolar, resolvi dar play no disco e fui presenteado com um álbum intenso, sexual e sedutor a ponto de transformar em música alguns elementos da vida a dois que nem o Tullio Dias escreveria de forma anônima – ou usando outros nomes – por aí. Você pode até achar que é exagero – e talvez eu até esteja exagerando um pouquinho, mas eu te desafio a ouvir “what’s normal anyway”, “DEAL”, “face the sun” – que tem o Lenny Kravitz, “..going to hell” ou “damned” e não achar, no mínimo, interessante.
Com o tempo, ouvi os demais discos lançados por Miguel e, traçando um paralelo com o que foi lanaçado até hoje pelo cantor, é fácil notar que esse é um trabalho bem mais incisivo e intenso (quantas vezes eu já usei essa palavra neste texto?) do que os discos anteriores, Kaleidoscope Dream (2012) e All I Want Is You (2010).
É importante registrar também que esse é um disco mais distante do pop radiofônico que permeava a carreira de Miguel. Fora “Coffee” – que inclusive virou single do disco, as demais músicas fogem desse conceito e mostram o novo caminho do cantor. Flertando com o rock e com a black music dos anos 70 e 80, não é muito difícil associar as faixas a uma de suas principais inspirações: Prince.
Ao se distanciar de seus trabalhos anteriores, Wildheart faz com que Miguel acabe entregando um produto final diferente de outros nomes importantes do “neo R&B”, como Frank Ocean ou até mesmo The Weeknd. Ao que tudo indica, o cantor vai construindo a sua identidade própria ou deixando aflorar algo que já existia, mas estava escondido até então.
Ainda é cedo para dizer se toda essa veia apresentada em Wildheart terá continuidade ou não. Agora, se a intenção era entregar um disco sentimental e sedutor, Miguel conseguiu isso com um pé nas costas. Aliás, fique a vontade para ouvir e adicionar algumas músicas em sua playlist de FUCKmusic por aí.
Miguel – Wildheart
Lançamento: 29 de junho de 2015
Gravadora: ByStorm / RCA
Gênero: Rock / R&B
Produção: Miguel, Benny Cassette, Fisticuffs, Cashmere Cat, Benny Blanco, Salaam Remi e Happy Perez
Faixas:
01. a beautiful exit
02. DEAL
03. the valley
04. coffee
05. NWA (feat. Kurupt)
06. waves
07. what’s normal anyway
08. Hollywood Dreams
09. …goingtohell
10. FLESH
11. leaves
12. face the sun (feat. Lenny Kravitz)
[deluxe edition]
13. gfg
14. destinado a morir
15. Simple Things
16. damned