“Olha, aquele cara que canta na música trilha do último Velozes & Furiosos lançou um disco completo. Será que ele consegue ser mais do que aquela música que era legal nas 5 primeiras vezes que ouvi e depois se tornou um porre?”
Infelizmente, a vida é feita de pré-conceitos (sim, estou falando de conceitos prévios) e a gente acaba se baseando neles para decidir se vale a pena ver um filme, ler um livro ou ouvir um CD. Quem nunca fez isso pelo menos uma vez na vida que atire a primeira pedra, não é verdade?
Foi dessa forma que relutei alguns dias até pegar o primeiro álbum do cantor, compositor e produtor norte-americano de apenas 24 anos. Para quem não conhece, Charlie Puth começou lá no YouTube com um vlog onde falava de coisas aleatórias da vida e, entre um vídeo e outro, postava releituras acústicas de músicas que ele gostava ou eram sucesso no momento. Do seu início na plataforma de vídeos até o lançamento oficial de seu primeiro álbum, são pouco mais de seis anos que envolvem lançamento de EP, vitória em concurso, parcerias com Wiz Khalifa, Pitbull e colaboração com outros vlogueiros compondo jingles e temas para os seus programas. Entretanto, vamos pular essa parte.
Já que o assunto aqui é o seu álbum de estreia, vamos acelerar essa história até o ano passado, quando Puth assina um contrato com a Atlantic Records. Graças a esse contrato, ele começa a trabalhar em seu debut e a primeira faixa ligada ao projeto a ser divulgada foi “Marvin Gaye”, que tem a participação da Meghan Trainor. A canção tem uma pegadinha dançante, emulando um pouco daquele que se tornou um dos ícones da Motown e dá nome a música.
Entretanto, pouco mais de um mês depois veio a música que já marcou a carreira de Charlie e tocou em todos os lugares do mundo em 2015. Trilha do filme Velozes e Furiosos, a faixa foi uma forma encontrada de homenagear o ator Paul Walker, que morreu em novembro de 2013 após um acidente de carro. Escrita por um time que contava com Charlie, a faixa se tornou sucesso instantâneo, tocando bem em todos os países do mundo e se transformando no primeiro hit ligado a carreira de Puth, que divide os vocais com Wiz Khalifa. Estamos falando aqui de uma faixa que chegou a atingir a marca de 4,2 milhões de execuções em um único dia no Spotify. Isso não é pouco, né?
Durante boa parte de 2015, o foco de Charlie estava dividido entre o sucesso de “See You Again” e os trabalhos em torno de seu primeiro álbum. Enquanto o disco não ficava pronto, o cantor chegou a lançar um EP – Some Type of Love – com quatro faixas. Delas, apenas a mediana “I Won’t Tell a Soul” acabou fora do disco completo. Uma decisão acertada, eu diria.
Em agosto daquele ano, Charlie soltou o segundo single oficial do álbum, a bela “One Call Away”. A faixa já mostrava ao público como o cantor pretendia transitar entre os gêneros e, em alguns momentos, até poderia ser vista como uma versão sem rap de “See You Again”. No entanto, a música é boa demais para essa comparação.
Enfim, quase um ano depois do lançamento de “Marvin Gaye”, era hora do debut de Charlie ganhar o mundo. No fim de janeiro, chegava às lojas o disco Nine Track Mind.
Com doze faixas em sua versão convencional e uma faixa extra na versão internacional (te dou um chocolate se adivinhar qual seria essa faixa), o disco reforça ainda mais a pegada pop de Charlie, mesclando com um R&B bem radiofônico e letras capazes de grudar na cabeça mais do que a lavagem cerebral feita por “See You Again” em 2015. Quer um exemplo? Eu duvido que você não fique com o refrão de “We Don’t Talk Anymore” – que tem a participação de Selena Gomez – na cabeça por alguns momentos depois de ouvir. Faça o teste.
O problema é que, ao ouvir o disco, você começa a se pegar pensando no fato de que, talvez, o sucesso de “See You Again” tenha gerado uma expectativa grande em torno do primeiro álbum solo completo de Puth e, no fim das contas, isso acabou pesando. Antes que você desista de ouvir, o disco tem pontos positivos e interessantes, como é o caso de “One Call Away” ou as boas tentativas de hit com “Marvin Gaye” e “We Don’t Talk Anymore”. “Up All Night” também é uma boa canção e merece ser ouvida. Já “Then There’s You” é daquelas faixas capazes de dividir opiniões. Por aqui, agradou pela melodia, mas é uma das faixas que deixou mais evidente a sensação de que falta algo.
No fim das contas, parece que Charlie quis fazer tudo o que poderia e colocar todas as suas influências em um único disco e isso faz com que o disco acabe sendo irregular. Enquanto tem algumas boas faixas, entrega canções como “Losing My Mind” e “As You Are” – que tem participação de Shy Carter – que evidenciam o quanto o músico precisa crescer e amadurecer. No geral, Nine Track Mind é um disco legalzinho e infelizmente não passa disso. No entanto, dá para perceber ao longo de seus 45 minutos que Puth tem conhecimento para aplicar.
Com 24 anos e pontos interessantes a se trabalhar, esse amadurecimento é bem capaz de acontecer e, quando isso se tornar real, prometo oferecer o outro ouvido e ouvir… sem nenhum tipo de preconceito enraizado.
Charlie Puth – Nine Track Mind
Lançamento: 29 de janeiro de 2016
Gravadora: Atlantic
Gênero: Pop / R&B
Produção: Charlie Puth, DJ Frank E, Matt Prime, Red Triangle, Breyan Isaac, Johnatho “J.R.” Rotem, Infamous, Geoffro Cause, Johan “Carolina Liar” Carlsson e Jesse Shatkin.
Faixas:
01. One Call Away
02. Dangerously
03. Marvin Gaye (feat. Meghan Trainor)
04. Losing My Mind
05. We Don’t Talk Anymore (feat. Selena Gomez)
06. My Gospel
07. Up All Night
08. Left Right Left
09. Then There’s You
10. Suffer
11. As You Are (feat. Shy Carter)
12. Some Type of Love
13. See You Again (Wiz Khalifa feat. Charlie Puth)