Peguei um disco da Alanis Morissette para ouvir. Não qualquer disco, claro, mas o primeiro. Pensar que já tem 21 anos que Jagged Little Pill foi lançado é meio intenso. O que você estava fazendo em 1995?
Sei que eu tinha dez anos e estava na terceira série com a professora me matando de vergonha lendo uma redação minha para todos os coleguinhas de sala. Bateu um frio na barriga e uma sensação de caganeira esquisita quando eu percebi que “conhecia” aquilo que ela estava lendo.
Mas ainda não conhecia a Alanis. Nem a MTV ou o TVZ no Multishow. Pelo menos até 1997, quando troquei de escola e a minha amizade com um maluco chamado Thiago ficou mais profunda. Curioso que nos primórdios de nossa amizade ele era o cara da música e eu do cinema (apenas porque eu ia sempre com a minha avó). Isso foi se invertendo várias vezes, mas pelo menos naquela época eu podia dizer que a gente estava “empatado” em conhecimento. Conheci essa praga na época do primário!
Deve ter sido em 1998, quando o Supposed Former Infatuation Junkie foi lançado que um dia o Thiago apareceu felizão dizendo que finalmente tinha comprado o primeiro disco da Alanis. Pagava o maior pau para ela. Certeza que não ficava só nessa pagação, aliás. Eu gostava. Era um moleque que curtia músicas que eram cantadas com raiva. Ou com “fuck” nas letras. Além disso, como é que escuta “You Oughta Know” e não se empolga?
(E eu gostava de ficar me perguntando se o loiro que tocava bateria com ela não era o mesmo que tocava bateria no Foo Fighters.)
Era um bom disco esse Jagged Little Pill. Fácil de ouvir, gostar, memorizar as músicas para cantar junto. E os clipes tinham um papel importante nisso e me influenciavam mais que as músicas. “Ironic” era um dos meus vídeos favoritos. Como se não bastasse a ideia de gravar músicas em K7, eu também costumava tentar pegar meus clipes favoritos. Nunca consegui “Ironic” inteiro.
Só em 2005, já tocando baixo na banda O Móbile, que fui pegar para ouvir o Jagged Little Pill como músico. Confirmei que era mesmo o Taylor Hawkins na bateria, mas a grande revelação era a presença do Flea em “You Oughta Know”, que estava no repertório da banda. Foi aquele momento frio na espinha, como a professora lendo o meu texto, mas com a diferença é que agora eu tinha um desafio pela frente. Como é que aprende a tocar uma linha de baixo do seu ídolo? Ainda mais quando existem duzentas notas… Escolhi fazer uma mistura das duas gravações com o meu próprio estilo, no final das contas.
A versão do Flea tem um baixo quase no mesmo volume da voz. E o jeito que o desgraçado toca num timbre de jazz é sexy as hell. O Flea tem uma coisa muito especial de saber compor linhas complexas e contagiantes. A estrofe 2 tem um slap pouco depois da letra falar “it was a slap in the face”. Na parte “meditação” antes do refrão final tem um solo de baixo genial que mal dá para ouvir. Quando o instrumento volta, o Flea tá possuído pelo capeta tocando as duzentas notas multiplicadas por 32. Uma característica foda é como ele gosta de tocar primeiro refrão soft, depois adiciona mais nota no segundo e no último você desiste de tentar fazer igual de tanta coisa que tem. Amo esse cara.
Acho legal imaginar que 20 anos depois de Jagged Little Pill temos todas essas cantoras femininas que cresceram ouvindo Alanis cantando sobre transar no cinema, sexo oral e vingança contra namorados estúpidos. A Adele é um exemplo forte de gente influenciada pela Alanis. É interessante demais observar coisas que a gente ouvia na infância se tornando referências para artistas modernos.
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