Formada em 1993, a banda Planet Hemp tem o seu lugar na história do rock nacional. Dificilmente existirá um projeto tão transgressor e que causou tanta confusão com a polícia por conta das “supostas” apologias ao uso da maconha. Após dez anos de estrada, o Planet encerrou as suas atividades e cada um prosseguiu com sua carreira solo, especialmente Marcelo D2 e BNegão. Os anos se passaram e parece que as crises internas foram superadas e deram lugar para os famosos “revivals” de antigas bandas que voltam apenas para agradar aos fãs e mostrar que ainda sabem quebrar tudo.
Com essa ideia em mente, o Planet Hemp voltou a se apresentar na capital mineira no último dia 12 de março, na segunda edição do Festival Música 360. Antes da atração principal, subiram ao palco montado na Esplanada (o evento não comportou toda a estrutura do local, já que no dia anterior o Maroon 5 se apresentou) Filipe Ret, Cidade Verde, Flávio Renegado e o veterano Gabriel, O Pensador.
Gabriel entrou no palco sem muito papo e tocou várias canções em sequência sem dar intervalo. Foi no mínimo engraçado ouvir “Cachimbo da Paz”: não importava o lugar em que você estivesse, certamente seria possível entender bem o que Gabriel quis dizer com o refrão “Maresia, sente a maresia“. Era fumaça para todos os lados e o Planet nem havia subido ao palco ainda. A apresentação ainda reservou uma homenagem para o Charlie Brown Jr. com “Zoio de Lula” e um belo duelo de rappers entre o cantor e o seu DJ, que no final do show aproveitou para mandar um “papo reto” para os machões que chegam nas garotas puxando pelo braço e tentando beijar a força. Ele estava chateado porque um grupo tentou fazer isso com a namorada dele e fez um belo discurso contra essa atitude infantil, que infelizmente foi bastante comum. A última música foi a porrada “Até Quando?”.
O Planet entrou em ação com “Ex-quadrilha da Fumaça” e ganhou o público de cara. Tudo bem que naquela vibe, o jogo já estava ganho há horas, mas não custa dizer que os caras não entraram para brincar e dava para perceber animação de D2 e BNegão com o reencontro com o público mineiro.
Enquanto apresentava um hit atrás do outro, os dois vocalistas fizeram vários discursos políticos contra a situação do país. A maioria das letras do Planet Hemp foram escritas no começo dos anos 1990 e o cenário político parece estar até pior do que era. As canções permanecem atuais e a mensagem da banda garante a relevância, embora a questão das drogas tenha mudado bastante e o consumo de maconha recebe vista grossa na maioria das vezes. O comportamento do público é mais liberal hoje do que nos anos 1990.
Em “A Culpa é de Quem?”, o Planet apontou o dedo na cara da plateia e chamou todos na “responsa”. D2 afirmava que o poder não está com o PT ou PSDB, mas conosco. “O poder é nosso.” Pena que a veia política do público brasileiro se resuma aos comentários no Facebook ou presença em protestos familiares.
O momento sem noção da noite ficou por conta de um rapaz que se empolgou demais em “Deisdazseis”. O sujeito começou a dançar como se estivesse num ritual esquisito que consistia em pegar na bunda da namorada dele e balançar de um lado para o outro como se fosse saco de arroz. Sério. “Ele bate no bumbum e você sente no peito.” Parecia até que ele consumiu alguma coisa estragada. Ou então só era sem noção mesmo.
A última música, como não podia deixar de ser, foi “Mantenha o Respeito”. A introdução do baixo deixou o público animado para criar uma roda imensa (e indicada apenas para pessoas mais destemidas e sem medo da morte) na pista comum. Em vários momentos, a banda convocou a galera para expandir essas rodas ao máximo e a maior delas aconteceu na hora certa.
A noite foi curta e com menos de 1h30 de de show, mas foi o suficiente para o Planet Hemp tornar a noite de sábado memorável para quem se deslocou até a Esplanada em busca de diversão e a chance de reencontrar com quem fez história no rock do Brasil. Agora nós ficamos na expectativa por lançamento de material inédito e de novos shows.
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Fotos: Flávio CharChar