O Maroon 5 de 2016 é uma banda completamente diferente daquela que conquistou sua primeira base de fãs entre 2002 a 2007, no período em que excursionavam com a turnê do álbum Songs About Jane.
Isso não significa que o show que Adam Levine e seus companheiros de banda apresentaram na Esplanada do Mineirão, em Belo Horizonte, foi ruim. Nem podia. Além de esgotarem os ingressos, o público teve que encarar a chuva que caía na noite de sexta-feira, 11 de março, para garantirem um bom lugar para ver o galã. No entanto, é esquisito notar diferenças quase radicais daquele Maroon 5 para o atual. Antigamente existia uma preocupação com a dinâmica dos instrumentos (quando você toca com menos força para diminuir o volume e destacar alguma coisa, geralmente a voz). Isso só aconteceu uma vez durante o show, justamente em “Sunday Morning”, uma das músicas que faz parte do Songs About Jane. O restante da apresentação foi praticamente toda com a mesma pegada, exceção em “Payphone” com a banda inteira cantando a capella – menos Mickey Madden, porque ninguém quer ouvir baixistas cantando. O baterista Matt Flynn fica subaproveitado nessa situação, o que é quase criminoso, considerando que ele é um dos melhores instrumentistas da banda.
No entanto, o Maroon 5 de dez anos atrás não fazia um terço do sucesso que o atual faz. Não fica difícil entender que as mudanças vieram por necessidade e para atender uma demanda maior. E eles conseguem fazer isso muito bem. O engraçado é que fora “Sugar”, a maioria das músicas que tirou mais reações do público vieram do Songs About Jane.
Após a abertura competente da Dashboard Confessional, o Maroon 5 iniciou a sua apresentação com “Animals”. Levine entrou concentrado e cantou de olhos fechados até o primeiro refrão, quando se sentiu mais confortável para ser o galã que todos estamos acostumados e que foi o motivo de muitas pessoas terem comprado o ingresso para o show. Embora seja uma pessoa extremamente carismática (e uma bomba sexual que arrancava os gritos mais tarados da plateia: “tá… agora tira a camisa!”, “vai, boy magia!”, “o filho é seu!”, dentre outras pérolas), impressiona o comportamento do cantor no palco. Ao invés de ser um artista performático mais preocupado em garantir a diversão dos fãs, Levine é bem básico e cumpre o seu papel de vocalista com uma qualidade surpreendente. Usando e abusando os falsetes, o que pode ajudar a explicar porque só tocam 1h30, Levine não poupa a voz em momento algum. Isso ficou evidente em “Wake up Call”, em que dava para perceber o esforço do cantor para sustentar o tom.
Mesmo com a ressalva da falta de cuidado com a dinâmica, a banda continua afiada como sempre. Todos são excelentes instrumentistas e o groove (parceria do baixo com bateria) do Maroon 5 é único. Ao optarem por cortar a dinâmica para cadenciar o show e priorizarem tocarem sempre da mesma forma, eles se tornam uma banda comum.
O repertório do show mistura faixas de todos os discos, com atenção especial para Overexposed (“Daylight”, “Love Somebody”, “Lucky Strike”, “One More Night” e “Payphone”), Songs About Jane (“Harder to Breathe”, cujo arranjo novo estraga a música; “She Will Be Loved”, tocada em formato acústico; “Sunday Morning” e “This Love”, que foi a mais cantada) e V (“Sugar”, “Animals” e “Maps”, que possui uma pegada que remete muito ao som do The Police). A surpresa ficou para “Lost Stars”, composição que faz parte da trilha sonora do longa-metragem Mesmo Se Nada Der Certo. Um dos momentos mais bonitos da noite. E quando digo surpresa, estou sendo generoso. Previsibilidade é a palavra de ordem dos shows do Maroon 5: dos dez shows em 2016, eles tocaram apenas 17 canções. Variar pra quê, né?
O Maroon 5 fez uma noite para fãs e só decepcionou na curta duração mesmo. Bastava olhar para os lados e ver a expressão de alegria do público. Famílias inteiras curtindo juntas o show, com direito até ao paizão dançando loucamente depois de algumas cervejas – e matando os filhos de vergonha. Isso é o que vale, no final das contas.
Fotos: Vinícius Prado. Veja mais fotos do show aqui.