Qualquer fã de cinema ou música sabe quem é David Bowie. Reconhecer a imagem esquisita e andrógina do cara mais cool do rock não seria difícil nem para os telespectadores das novelas da Record. Agora entre saber quem é e conhecer existe um longo caminho. Eu mesmo confesso que estou no meio do caminho. Não posso dizer que conheço toda a obra desse ícone da música que nos deixou órfãos nessa segunda-feira, 11 de janeiro, mas ainda assim senti o baque desse 2016 que já nos tomou Lemmy Kilmister. Estamos apenas no dia 11, meus amigos!
Meu primeiro contato intenso com Bowie, daqueles que nos deixam arrepiado apenas pelo amor à boa música, sabe?, foi em 2011. Eu tinha acabado de ter uma noite surreal dormindo na rua, do lado de fora do Morumbi, esperando para ver o primeiro show da turnê U2 360°. Lembro do público berrando os versos de “Trem das Onze” e logo depois acompanhando David Bowie na letra de “Space Oddity”. Mesmo conhecendo a música há anos, gosto de pensar que nunca tinha ouvido ela até aquele dia. Pelo menos, posso garantir, que nunca tinha sentido tanto.
Aí anos depois, como a maioria dos hipsters da sua Timeline, aconteceu o efeito As Vantagens de Ser Invisível com o melhor uso de “Heroes” na história do cinema. Antes disso já tinha experimentado muitas sensações com Bowie, inclusive no cinema. A própria “Heroes” ganhou uma releitura da banda do filho do Bob Dylan, The Wallflowers, que eu amo – ao contrário de muitos. O que a “cena do túnel” fez foi o equivalente ao que “Where’s My Mind?”, do Pixies, fez no final de O Clube da Luta. As Vantagens de Ser Invisível transformou “Heroes” em parte do filme e hino de todos os solitários desajustados.
Tive experiências com o Seu Jorge fazendo versões surpreendentes das canções de Bowie (e pensar que ele arruinou “The Blower’s Daughter”, do Damien Rice…), fui numa apresentação de uma banda cover numa casa noturna de BH ao lado das pessoas mais importantes da minha vida naquela altura, senti aquele frio na barriga quando Bowie surpreendeu o mundo lançando The Next Day, fiz parte da campanha para ver a Tilda Swinton interpretando o cantor numa cinebiografia, me deliciei com “Modern Love” na trilha sonora de Frances Ha e recentemente em Sleeping With Other People, fiquei bêbado cantando “Rebel, Rebel”, enfim. Foram muitas lembranças desde aquele tal primeiro contato em 2011.
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Hoje, arrasado e cheio de lágrimas escorrendo pelo rosto por saber que ver um show de David Bowie se tornou um sonho impossível nessa vida, sou obrigado a relembrar o passado e aceitar a verdade. Posso ter sentido Bowie na véspera do meu segundo show do U2, mas como negar a verdadeira história de como tudo começou? Pois é. Obrigado, Nenhum de Nós. Obrigado por ter colocado um “Astronauta de Mármore” no meu caminho e me ensinado onde procurar música boa desde que eu era um moleque.
Se sem conhecer profundamente já tenho tanto para contar, não quero nem imaginar como esse dia 11 de janeiro seria doloroso se eu fosse um extremo apaixonado por David Bowie. Não quero nem pensar como ficarei no dia que for a vez de Bob Dylan, Robert Plant, Robert Smith, Paul McCartney, Keith Richards, Mick Jagger e de tantas outras lendas que são eternas em nossos corações, mas incapazes de vencer o tempo cruel e a única certeza da vida.
Obrigado por todas as músicas, Bowie. Bom retorno para o seu planeta!
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