Ao lado da Scalene, o Far from Alaska certamente foi a banda nacional de rock alternativo mais bem sucedida em 2015. Sorte do público carente de criatividade e músicas boas, já que o pessoal do Far From Alaska consegue atrair tanto um público exigente quanto os mais leigos. Isso significa que obra boa atinge e funciona para qualquer um com um bom ouvido, diferente de outras pérolas do rock alternativo que só conseguem ser digeridas pelos seus próprios autores.
Tive a chance de conhecer o Far from Alaska no ano passado, mas deixei de lado até ter a oportunidade de uma “apresentação formal”, que só foi acontecer no Lollapalooza 2015. O que aconteceu naquele palco persiste em continuar como uma das melhores recordações do festival. Pesado, dançante e inebriante. Meu termômetro para shows funciona a partir do desejo de fechar os olhos, dar o foda-se para o mundo ao redor e criar apenas uma conexão com o que aquelas pessoas estão tocando em seus instrumentos. E o Far From Alaska consegue esse efeito. Podemos fechar os olhos, sorrir e literalmente viajar no som.
Depois desse cartão de visitas (aquele papo de “a primeira vez é inesquecível” procede) fui acompanhar a banda em BH na abertura do Detonautas. O nosso editor John Pereira estava ansioso demais para falar deles no Audiograma e assinou o review na ocasião – e deixou a missão de falar do show principal comigo, claro. Naquela apresentação, já mais familiarizado com as músicas, deu para analisar um pouco mais fora da esfera sensorial. Ainda que de olhos fechados balançando a cabeça e fazendo dancinhas bizarras ocasionais.
Finalmente, para encerrar 2015 com chave de ouro, o Far From Alaska desembarcou novamente em Belo Horizonte, desta vez como a atração principal, na festa Flaming Night, que contou ainda com shows da Riviera, Governator Insane e Dry, no sábado, 5 de dezembro, na casa Autêntica. Era uma noite para garantir que todos os elogios recebidos não foram em vão e a banda se garante mesmo com um repertório totalmente baseado no disco Modehuman, de 2014. E são tão confiantes no palco que até repetem “Thievery” com a vocalista principal Emmily Barreto na bateria. A maioria das bandas soa preguiçosa quando decide repetir música no show, mas o FfA é exceção.
Barreto, aliás, é um verdadeiro vulcão entrando em erupção e que faz as pessoas preferirem se queimar na lava do que fugir para um lugar seguro. Ela é magnética. Em alguns momentos se permite sorrir, como se estivesse lembrando alguma coisa engraçada (ou de fato rindo de um indivíduo muito bêbado que caminhava sem rumo trombando em todos e implorando por um momento da atenção da vocalista), mas em outros se torna um animal selvagem que canta com os longos cabelos negros tampando o rosto, no melhor estilo Kurt Cobain e Cassia Eller. Essa dualidade da vocalista ajuda a explicar a combinação de peso e groove das músicas da banda.
Antes de apresentar “Communication”, Cris Botarelli convidou as pessoas para dançarem. Só que não era para serem “cool”, e sim bizarros. Me senti em casa. Atendendo pedidos dos fãs, eles se esforçaram para tentar relembrar “Greyhound” (“Tem um ano e meio desde a última vez que tocamos essa… A responsabilidade é de vocês!”). A expressão do baixista Eduardo Filgueira foi única. Na verdade, a banda inteira ficou com uma cara de “isso foi esquisito, mas foi legal”. E definitivamente “legal” é uma maneira de descrever o show do Far From Alaska. Mas eu prefiro dizer que depois da terceira vez estamos num tipo de relacionamento cheio de tesão e lenha para queimar, o que torna cada experiência ainda melhor. E melhor.
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