“Bohemian Rhapsody” é uma daquelas obras que nos inspiram a fugir do senso comum. Só balançar a cabeça não é o suficiente para quem consegue sentir as notas do principal clássico do Queen. Tive muitos momentos inesquecíveis ao som dessa música, em um deles tive meu amor “disputado” por dois desconhecidos que me puxavam num teatro macabro improvisado que me deixou com o cu na mão, mas o melhor de todos foi esse que compartilharei agora.
Lançada em 1975, no quarto disco de estúdio do Queen, o incrível A Night at the Opera, a composição de Freddie Mercury é figurinha carimbada em listas de melhores canções de todos os tempos. Com mais de seis minutos de duração e combinando diversos estilos diferentes, o resultado tinha que ser épico ou um fiasco completo. Para a nossa sorte, se tratando de Queen, não podia ser diferente. Freddie chegou com a música bem trabalhada na sua cabeça no estúdio e surpreendeu os companheiros ao fazer pausas e dizer: “aqui entra a parte da orquestra e tal, bitchies!”.
Analisar a letra é uma missão injusta, então é preferível dedicar um espaço para comentar a divisão da canção. Temos seis partes: introdução (0” até 53”); balada (53” até 2’40”); solo de guitarra (2’41” até 3’07”); ópera (3’08” até 4’13”); hard rock (4’14” até 5’00”); e outro (5’00” até 6’06”). Só a parte da ópera, por exemplo, demorou três semanas para ser gravada. Cada divisão é como se fosse uma música diferente, uma peça de quebra-cabeça se encaixando numa verdadeira obra-prima.
Pete Brown, empresário da banda, achou que eles haviam (finalmente) enlouquecido por querer lançar a faixa como compacto. Como resultado direto da dita loucura, A Night at the Opera foi um dos discos mais caros lançados até aquela época – e tudo graças a “Bohemian Rhapsody”.
Agora que já estamos devidamente contextualizados, posso contar uma história que foi muito motivada por algumas cervejas a mais.
Na edição 2014 do Festival Circuito Banco do Brasil, em Belo Horizonte, o Panic! At the Disco fazia o aquecimento para o Linkin Park, atração principal da noite. Ao meu lado estava o John Pereira, que vocês conhecem como o editor-chefe do Audiograma, e a nossa amiga Mylena Soares. Passávamos o tempo falando besteiras, analisando o ambiente, tomando cerveja, rindo, entrevistando as pessoas mais interessantes que estavam próximas e sempre observando atentamente (quase) tudo que acontecia no palco.
O vocalista Brendon Urie ganhou o público facilmente com seu carisma e uma apresentação bem acima do esperado. Parecia um show comum, em que a banda preferiu focar nos trabalhos mais recentes do que nas canções mais populares, até que uma sucessão de notas extremamente familiares começou a sair das caixas de som ao redor da Esplanada. Aquilo era bom demais para ser do Panic! At The Disco. Era “Bohemian Rhapsody”. Era um cover inesperado de Queen. Ao invés de nos contorcermos no chão de desgosto, valeu um voto de confiança na banda e o resultado foi uma das reações mais espontâneas e divertidas que já tive o prazer de viver em um show.
Tudo começou lentamente. Nenhum de nós esperava ouvir aquela música (acredito que nunca havia ouvido essa música ao vivo antes) e parecia importante tornar aquele momento inesquecível. Iniciamos uma dança bizarra com uma coreografia que parecia tão ensaiada quanto os números musicais de Emma Watson e Ezra Miller em As Vantagens de Ser Invisível. Nós três criamos nosso show particular e nossa sintonia era ainda mais assustadora. Dava para ouvir as risadas das pessoas para a nossa peça esquisita.
Desprovidos de medo, vergonha (e noção), John e Mylena tornaram “Bohemian Rhapsody” uma das canções tema da minha vida e imortalizaram um momento realmente especial, daqueles que a gente nunca vai esquecer. Definitivamente: essa me lembra vocês.
(Aparentemente “Bohemian Rhapsody” não é aconselhada a ser usada durante o sexo, pois existe o risco de se empolgar demais, começar a rir e ficar só nisso mesmo. Dica de uma amiga)
Vale lembrar que essa coluna é coletiva e teremos a participação de toda a nossa equipe. O mais importante ainda: O espaço está aberto para todos os leitores compartilharem suas histórias. Curtiu? Mande sua história para contato@audiograma.com.br
Para ver os posts anteriores, clique aqui.