“O meu nome é Luiz Maurício. Mais conhecido como Lulu“, foi assim que o maior hitmaker da música brasileira se apresentou para o público do Chevrolet Hall em Belo Horizonte, na noite de sábado, 8 de agosto. Com mais de trinta anos de estrada, é claro que existe uma certa intimidade do artista com o público. Prova disso é que o repertório inteiro parecia ter sido decorado pelos mineiros, que não ficaram em silêncio em momento algum.
O público do show era mais de 80% formado por pessoas que cresceram nos anos 1980 e usaram suas canções como trilha sonora para os eventos da própria vida. Era fácil ver casais apaixonados trocando confidências ou fazendo todo mundo entender as “sutilezas” (olha o Lulu se revelando como o tiozão da “zuera”) de músicas como “Sábado a Noite”. Até existiam pessoas com cara de ter menos de 30 anos, mas estavam longe de se destacar no público. Assim como nas apresentações do Paralamas do Sucesso, acaba sendo uma apresentação mais familiar, daquelas que todo mundo vai para relembrar os velhos tempos e dividir com os filhos alguns momentos especiais.
Mesmo quem não é fã do Lulu Santos fica surpreso por saber cantar todas as músicas durante o show. É impressionante a quantidade absurda de sucessos que o cantor conseguiu ao longo de sua carreira. Ele revisita o começo da estrada com “Tempos Modernos” passando por releitura de Tim Maia (“Descobridor dos Sete Mares”), trilha sonora de Malhação (“Assim Caminha a Humanidade”), e consegue agradar em cheio ao público. Claro que um clássico ou outro acaba ficando fora, mas Lulu possui uma banda competente para dar conta do recado e lidar com o “lado ruim” de ter tantos sucessos. Aliás, que banda sensacional. A única vez que assisti a uma apresentação do cantor foi em uma das últimas edições do Pop Rock Brasil. Na ocasião, a banda tinha Dunga (baixo) e Chocolate (bateria) acompanhando Lulu. Muito mais simples do que a produção atual e com mais qualidade. Não que a produção seja ruim. Muito pelo contrário, a banda atual é muito afiada, contando inclusive com a presença sempre marcante do saxofonista mineiro Milton Guedes (muito ovacionado pelo público durante a apresentação, diga-se de passagem). Só que ver uma cozinha formada por Dunga e Chocolate em ação não é algo muito fácil de “superar”.
Um detalhe curioso que rendeu boas risadas para quem observava o público foi a sua total falta de noção musical com o tempo das canções. “Assim Caminha a Humanidade” deixou a turma mineira cantando alguns versos sozinha antes de perceber que “entraram” cedo demais. Shows assim garantem espetáculos a parte no meio da pista. Isso significa que os observadores ganham em dobro: um dos artistas brasileiros mais competentes no palco e um festival de coisas esquisitas acontecendo por efeito do álcool na plateia.
Como a maioria dos artistas que já viram suas obras alcançarem 1 milhão de cópias vendidas nos anos 1990 e hoje vibram quando ultrapassam a marca das 10, 15 mil cópias, Lulu Santos precisou se reinventar e virou um dos jurados do programa de talentos The Voice Brasil. Talvez isso tenha atrapalhado um pouco na maneira de Lulu se apresentar, já que mesmo com um show competente e animado, parecia que o cantor estava no piloto automático e deixou uma sensação de que poderia ter nos proporcionado uma noite inesquecível, como o Barão Vermelho fez há alguns anos. Ainda assim, um show do Lulu Santos pouco inspirado é como os filmes medianos do Woody Allen: são melhores que a maioria das outras opções disponíveis.